Em três anos, mais de 7 mil pessoas desapareceram no Paraná

Entre 2019 e 2021, cerca de seis pessoas desapareceram por dia no estado

Entre 2019 e 2021, 7.120 pessoas desapareceram no Paraná, o que corresponde, em média, a mais de seis desaparecimentos por dia. A parcela da população mais atingida pelo fenômeno no estado é do gênero masculino, jovem e branca. É o que mostra o Mapa dos Desaparecidos no Brasil, desenvolvido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgado no dia 21 de maio.

Nesta primeira edição do estudo, o FBSP analisou registros policiais de desaparecimentos e de pessoas localizadas produzidos pelas Polícias Civis do Brasil durante o triênio 2019-2021. Foram mais de 300 mil documentos, dos quais 200.577 referem-se a pessoas desaparecidas e outros 112.246 a pessoas localizadas.

Pessoas que desapareceram no Paraná

Em 2019, o Paraná registrou 2.256 pessoas desaparecidas, contra 2.237 em 2020 e 2.627 em 2021.

Do total de desaparecidos no estado no período analisado pelo mapa, 4.443 eram homens (uma taxa de 62,4 por 100 mil habitantes), enquanto 2.677 eram mulheres (37,6 por 100 mil habitantes). Em relação ao perfil étnico-racial, 3.805 eram brancos, 2.898 eram negros, 61 eram de origem asiática e 356 não informado.

Adolescentes de 12 a 17 anos representam 34% do total de desaparecidos. Foram 2.396 pessoas dessa faixa etária entre 2019 e 2021. Em seguida, aparecem pessoas de 30 a 39 anos (1.167 desaparecidas), 18 a 24 anos (959), 40 a 49 anos (793), 25 a 29 anos (663), 50 a 59 anos (463), 60 anos ou mais (400), e crianças de 0 a 11 anos (277). A idade não foi informada em dois boletins. 

Pessoas localizadas no Paraná

Entre 2019 e 2021, 10.769 pessoas foram localizadas no Paraná, sendo 4.530 em 2019, 3.167 em 2020 e 3.072 em 2021. 

O mapa do FBSP alerta, no entanto, que não é possível saber se as pessoas localizadas desapareceram no triênio 2019-2021 ou se o desaparecimento data de anos anteriores. Também não é possível saber se o número foi subtraído dos registros de pessoas desaparecidas, já que, com exceção do Distrito Federal, os boletins de ocorrência das polícias civis não vinculam o registro de localização ao registro de desaparecimento. Além disso, não é possível saber quantas pessoas foram encontradas com vida.

Leia mais: 30 anos depois, polícia diz ter identificado restos mortais de Leandro Bossi, desaparecido em 1992, em Guaratuba

Das pessoas localizadas no estado, 6.132 eram homens (uma taxa de 56,9 por 100 mil habitantes) e 4.637 eram mulheres (43,1 por 100 mil habitantes). A maior parte delas (6.445) é branca. Foram encontradas 3.898 pessoas negras e 94 de origem asiática. O dado étnico racial não foi informado em 332 casos.

Da mesma forma que representam a parcela de pessoas que mais desaparece no Paraná, adolescentes entre 12 e 17 anos correspondem a uma taxa de 37,0 por 100 mil habitantes das pessoas localizadas. Pessoas na faixa etária de 30 a 39 anos vêm em seguida (15,8), depois as de 18 a 24 anos (13,5), 40 a 49 anos (9,9), 25 a 29 anos (8,9), 50 a 59 anos (5,7), 60 anos ou mais (5,4) e crianças de 0 a 11 anos (3,8).

Pessoas que desapareceram no Brasil

No país, mais de 200 mil pessoas desapareceram entre 2019 e 2021, o que corresponde a uma média de 183 desaparecimentos diários. Foram 77.150 no primeiro ano, 60.419 no segundo e 63.008 no terceiro.

Segundo o mapa do FBSP, o desaparecimento é um fenômeno recorrente no Brasil e pode estar associado a diversas causas, como trabalho escravo, exploração sexual, violência urbana, desaparecimento forçado envolvendo o crime organizado ou agentes estatais, conflitos familiares ou disputas de guarda, transtornos mentais ou o desaparecimento voluntário daqueles que decidem cortar qualquer vínculo com amigos e familiares.

Os dados do documento mostram que a população mais atingida pelo desaparecimento é majoritariamente do gênero masculino, jovem e negra. Sobre o perfil étnico racial, 54,1% (81.016) das pessoas desaparecidas são pretas e pardas. Brancos correspondem a 67.038, enquanto pessoas de origem asiática foram 798 e 258 eram indígenas. No entanto, em 26% (51.467) dos registros a raça/cor não foi descrita no boletim de ocorrência.

Assim como no Paraná, a faixa etária que mais concentra pessoas desaparecidas no Brasil é a de adolescentes de 12 a 17 anos, que compreende 29,3% de todos os desaparecimentos do período, ou 54.744 casos. A segunda faixa etária que mais concentra desaparecidos é a de 30 a 39 anos (33.714) e, na sequência, de 18 a 24 anos (26.774).

Em relação ao gênero, homens desaparecem mais do que mulheres em 26 dos estados. A exceção é o Amapá, em que mulheres representam 55,1% dos desaparecidos, em contraposição aos homens, cuja proporção é de 44,9%. No Brasil, os homens correspondem a 62,8% de todos os desaparecidos (taxa de 39 por 100 mil habitantes), contra 37,2% de mulheres (20 para 100 mil habitantes). Entre 2019 e 2021, 125.040 dos desaparecidos era do gênero masculino desapareceram, enquanto 74.213 era do feminino e 1.324 não foi informado.

Ainda de acordo com o mapa, os brasileiros desaparecem mais às sextas e aos sábados. Esses dias concentram mais de 30% dos registros de desaparecimento no país. 

Pessoas localizadas no Brasil

No Brasil, 112.246 pessoas foram localizadas entre 2019 e 2021. Os estados com a maior taxa de registros de localização em 2021 foram Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal, com 56,1, 55,0 e 52,7, respectivamente.

Apesar das pessoas negras desaparecem mais, são os brancos os mais localizados no Brasil. Enquanto negros representam 54,3% dos desaparecidos, são apenas 45,1% dos localizados. Brancos, por outro lado, representam 45% dos desaparecidos e 54,1% dos localizados. Em relação à faixa etária, jovens de 12 a 17 anos são pouco mais de 30% dos localizados.

Canais de atendimento no Paraná

Para informar sobre o desaparecimento de uma pessoa é preciso registrar um boletim de ocorrência (BO) junto à Polícia Civil do Paraná (PCPR) pelos telefones (41) 3270-3350 ou (41) 3224-6822. Também é possível fazer o registro de forma eletrônica pelo site da PCPR ou de forma presencial em qualquer delegacia do estado. Casos de desaparecimento de crianças são automaticamente encaminhados para o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride). Para fazer o BO, a PCPR orienta ter em mãos uma fotografia recente do desaparecido, podendo ser uma imagem digital ou de papel.

Para consultar informações sobre as crianças desaparecidas, estatísticas sobre os registros ocorridos nos últimos anos e a atuação do Sicride, basta acessar o site do órgão.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Em três anos, mais de 7 mil pessoas desapareceram no Paraná”

  1. Ellen Catharine

    Excelente reportagem.
    Infelizmente a Interpol Yellow Notice é ineficiente em atualizar o website deles para que um melhor monitoramento de pessoas Brasileiras desaparecidas atravessando fronteiras seja feito.
    EUROPOL faz um bom trabalho referente combate ao tráfico e abuso infantil. Eles oferecem uma base de dados de imagens recortadas de cenas de crime de abuso infantil para que o público ajude a identificar objetos – por exemplo, uma camiseta com uma estampa que o membro do público talvez tenha visto à venda numa loja da cidade dele – já ajuda a polícia a localizar o abusador. A busca é mundial, então o mundo inteiro pode contribuir com essas identificações.
    Brasil precisa de melhor compartilhamento de alertas sobre pessoas desaparecidas. Inclusive deveria ser mandatório que todas redes sociais, inclusive Telegram e Whatsapp, fossem obrigadas a enviar torpedos para todos os usuários assim que uma pessoa desaparece num raio de 200km.
    Fotos de pessoas desaparecidas deveriam também ser impressos atrás de recibos de mercado. Pontos de ônibus urbanos e aquela tv dentro do ônibus também deveria mostrar essas fotos.
    No caso da menina Iza do CIC, encontrada morta dentro de um sofá, houveram várias oportunidades perdidas da polícia e serviços sociais de terem prevenido aquele crime de ter acontecido. O sujeito já estava respondendo por homicídio da esposa! Por conta da cultura dentro das polícias do Brasil, temos um oceano de policiais que são bons de passar em concurso, mas não tem vocação para investigar pessoas desaparecidas e muito menos desejo de aprimorar e re-treinar com técnicas mais atualizadas.
    Métodos modernos, portáteis e rápidos de análise de DNA podem ser a solução mais eficaz. Principalmente em fronteiras e centros de processamento de imigrantes, oficiais e ONGs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima