Com novas regras, número de adultos que voltam à escola cai 59% no governo Ratinho

O principal motivo para a baixa procura parece ser o fim da flexibilidade que antes era oferecida a quem decidia voltar a estudar

O número de jovens e adultos que se matriculam em cursos para completar os estudos no Paraná vem despencando ano a ano desde o início do governo Ratinho Jr. (PSD). Desde 2019, quando o atual governo teve início, a quantidade de matrículas no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no estado caiu de 125 mil alunos para 51 mil – uma queda de 59% que vem se acentuando semestre a semestre.

O principal motivo para a baixa procura parece ser o fim da flexibilidade que antes era oferecida a quem decidia voltar a estudar. Antes, o aluno via em quais dias conseguia frequentar as aulas e se matriculava só para algumas disciplinas. Desde as mudanças implantadas pelo ex-secretário da Educação, Renato Feder, os estudantes precisam ter presença em todos os dias da semana – o que inviabiliza a volta à escola para muitos trabalhadores.

Com a diminuição das matrículas, a Secretaria de Estado da Educação partiu para uma segunda etapa: afirmando que não existe demanda, passou a encerrar as atividades de EJA em alguns colégios e CEEBJAs (as unidades especializadas em ensino de jovens e adultos). Segundo a Secretaria de Educação, isso não significa diminuição de oferta, porque as aulas são sempre remanejadas para outra instituição.

Sob risco

A APP-Sindicato, que representa os professores e os funcionários da rede estadual de ensino do Paraná, tem uma lista de nove instituições de Curitiba que teriam as atividades encerradas em 2024. O documento afirma que devido a uma reestruturação e aos índices de matrículas e evasão, aquelas instituição não oferecerão EJA em 2024.

Para a Secretária Educacional da APP, Margleyse Adriana dos Santos, a política de encerramento de atividades é um problema crônico do atual governo e vem dificultando a matrícula para quem precisa voltar à escola. “Quando fecha uma unidade especializada e o EJA vai para dentro de um colégio regular, por exemplo, muitas vezes o aluno mais velho se sente constrangido de frequentar as aulas junto com os mais jovens. E nem recebe o mesmo atendimento que teria no CEEBJA”, diz ela.

O número mais baixo de matrículas, para a APP, é um indício claro do problema – e não seria por falta de gente que precisa completar os estudos, uma vez que o Censo coloca o Paraná como o estado com o maior número de pessoas não alfabetizadas da Região Sul do País,com 365 mil pessoas que hoje não sabem ler nem escrever.

A APP afirma que o atual governo promove um “desmonte” do Ensino de Jovens e Adultos, que teve um novo passo com a criação, neste ano, da modalidade de Ensino à Distância. “Estão transformando o professor num mero tutor. Essas aulas não são dadas pelos professores da nossa rede”, diz Margleyse, apontando uma precarização da qualidade do ensino.

O que diz o governo

A Secretaria de Educação nega que haja um problema no Ensino de Jovens e Adultos, e afirma que não está diminuindo a oferta. “Nunca fazemos a cessação de atividades de um EJA”, diz Gabriel Felipi de Araujo Silva, chefe do Departamento de Planejamento da Rede. “O que acontece é o remanejamento para diminuir a ociosidade nas nossas unidades. Por exemplo, temos um caso em que o colégio regular funciona de manhã e à tarde,e no mesmo município o EJA era ofertado em outro lugar só à noite. Então o que fizemos foi mudar a oferta do EJA para o colégio”, diz ele.

Gabriel diz que o governo tem também um plano de expansão dos EJAs, e que para o ano que vem a intenção é iniciar a oferta em 46 instituições. A Secretaria também vê a modalidade de Ensino à Distância como um ganho, por facilitar o acesso a alunos que não teriam como ir presencialmente à escola.

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