Servidores da Saúde suspeitos de Covid-19 não são afastados

Enquanto aguardam resultado do teste, continuam trabalhando. Também falta EPI e há redução de profissionais no combate ao coronavírus, denunciam sindicatos

A Prefeitura de Curitiba está sendo indiferente no afastamento de profissionais de Saúde considerados casos suspeitos de Covid-19. As denúncias são do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais Curitiba (Sismuc) e do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec).

A primeira queixa do Sismuc envolve a Unidade de Saúde Moradias da Ordem, no bairro Tatuquara. De acordo com o sindicato, há nove profissionais de Saúde infectados pelo coronavírus na Unidade, que tiveram o afastamento negado pela Prefeitura. Uma das principais caraterísticas da Covid-19 é a transmissão comunitária, com isso, o sindicato alega que muitas pessoas ainda podem ser contaminadas se os funcionários infectados continuarem trabalhando.

Em entrevista ao Plural, a coordenadora-geral do Sismuc, Christiane Izabella Schunig, diz que tudo começou quando uma servidora com suspeita da doença continuou trabalhando enquanto o resultado do teste não saía. Ela só foi afastada depois que o exame positivo foi confirmado. Com isso, outros oito profissionais teriam sido contaminados.

“Esse pessoal que tá na linha de frente no combate à Covid, iria ser colocado em um hotel e isso também não foi feito até agora. São várias cobranças que a gente tem feito, em audiências no Ministério Público do Trabalho. A Prefeitura disse que ia arrumar uma solução pra isso, mas ta parado, e estamos achando uma forma de denunciar porque os casos estão aumentando“, diz a Coordenadora-Geral do Sismuc.

Redução de equipe e falta de EPIs

Outro local que preocupa a direção do Sismuc é a da Unidade de Saúde Dom Bosco, que fica no bairro Campo de Santana, que está com apenas quatro técnicas de enfermagem para trabalhar. Diariamente, a média de pacientes que procuram atendimento lá passa de 100.

Na segunda-feira (13), o Plural conversou com uma funcionária do local, que não quis se identificar. De acordo com a servidora, o número de técnicas de enfermagem reduziu de 11 para quatro durante a pandemia. Segundo ela, muitas vezes as enfermeiras tem que assumir cinco setores ao mesmo tempo para dar conta da demanda de trabalho. “Tem pressão dos Distritos pra gente dar conta de tudo e não tem como reclamar”, afirma.

A servidora destaca também que a Prefeitura de Curitiba tem sido relutante em afastar profissionais de Saúde com sintomas de Covid-19. “Se a gente fala que está com dor de garganta, perguntam se isso não é coisa da nossa cabeça.”

A servidora da Unidade de Saúde Dom Bosco alega que o Executivo está pedindo para os servidores economizarem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) no trabalho. Segundo ela, há uma planilha de controle com quantas máscaras e aventais são utilizadas por cada funcionário. “Se acontecer da máscara molhar, não podemos trocar”, ressalta.

Outra queixa é o pedido para que as máscaras sejam “remendadas” com fita micropore, caso arrebentem durante o serviço. Segundo a funcionária, as máscaras são de má qualidade e problemas como esse acontecem com frequência.

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Foto: Plural.jor

No pedido mensal para a Unidade de Saúde, são recebidas oito caixas de máscaras com 50 cada mas o estoque está acabando na metade do mês, assegura a servidora. Ela conta que alguns servidores compraram capa de chuva para maior proteção na hora da coleta de sangue dos pacientes, contudo, a Prefeitura proibiu o uso do equipamento. Em contrapartida, orientou que os profissionais utilizem dois aventais descartáveis por vez, durante o trabalho. Mas o uso é controlado também.

Familiares contaminados

O Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec) afirma que a Prefeitura de Curitiba não está afastando do trabalho os profissionais da Saúde que têm familiares com suspeita de Covid-19 ou com diagnóstico confirmado da doença. Só na última semana, o Sismec recebeu quatro denúncias de trabalhadores nessa situação.

Para a presidente do Sismec, Raquel Padilha, atitudes como essa deveriam ser tipificadas como crime. Em sua avaliação, o Município está colocando em risco o grupo de trabalho e também os pacientes, além das famílias destas pessoas.

Segundo a diretora de Formação Política e Sindical do Sismec, Cleo Silva, a Prefeitura era quem deveria garantir a segurança de todos e não inserir indivíduos com grande chance de estarem infectados no meio dos que estão saudáveis. O protocolo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) atesta que apenas indivíduos com sintomas serão afastados de suas funções.

A diretoria do Sismec já pediu urgência para que a situação seja resolvida. Só nesta semana, quatro profissionais da Saúde com Covid-19 perderam a vida em Curitiba e Região Metropolitana. No total, já são oito mortes.

Outro lado

O Plural entrou em contato com a Prefeitura de Curitiba, que se manifestou acerta das denúncias dos dois sindicatos. No caso dos fatos apresentados pelo Sismec, o Executivo afirma que está ajustando os protocolos da SMS para a nova fase da pandemia.

Em relação ao que foi apresentado pelo Sismec na Unidade de Saúde Dom Bosco, no Campo de Santana, o Executivo sustenta que a Unidade conta com oito profissionais técnicos de enfermagem. Sobre o relato de falta de EPIs, a Secretaria Municipal da Saúde garante que não há falta. Para as máscaras cirúrgicas, é orientada a troca a cada quatro horas, no máximo, ou quando for necessário. Além disso, o Poder Público reitera que não há nenhuma orientação para remendar EPIs.

Na Unidade de Saúde Moradias da Ordem, no Tatuquara, a Prefeitura ressalta que contabilizou seis profissionais suspeitos de Covid-19, não confirmados. O Executivo diz que os casos estão em investigação e os servidores estão afastados.

A Prefeitura também sustenta que está fazendo a investigação epidemiológica para identificar o mecanismo de transmissão e se os casos têm relação entre si. Por fim, diz que reforçou todos os protocolos de segurança para que as transmissões não ocorram mais.

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