MP descarta novas fitas do Caso Evandro sem pedir acesso a elas

Podcaster se colocou à disposição do MP há um ano, mas não foi procurado

O Ministério Público do Paraná voltou a afirmar nesta sexta-feira, dia 3 de junho, que não reconhece as provas de torturas realizadas contra os acusados de matar o menino Evandro Ramos Caetano. “Desde que o mencionado conteúdo veio a público, há pouco mais de um ano, o mesmo não foi submetido ao Poder Judiciário, razão pela qual não têm valor como prova judicial”, afirmou o órgão em nota enviada a imprensa. Porém, segundo Ivan Mizanzuk, que descobriu as fitas e as apresentou em março de 2020 no podcast O Caso Evandro, em nenhum momento desde então o MP solicitou acesso ao material, nem o convocou para prestar esclarecimentos.

Mizanzuk é responsável pelo podcast sobre o caso que virou recentemente uma série documental exibida no canal de streaming Globoplay. Também foi ele que localizou, digitalizou e divulgou o material, que seria a versão integral das confissões utilizadas nos julgamentos contra os acusados. No entanto, a versão usada pelo promotor do caso contém cortes. As novas fitas, indica Mizanzuk, contém o que teria sido retirado delas.

No último episódio da série, que foi publicada no último dia 2 de junho, o promotor Paulo Sérgio Markowicz de Lima ouve trechos de gravações feitas com três dos sete acusados do crime em que há indicações de que eles estão sob coação e sendo submetidos a tortura. A gravação, informou Mizanzuk, foi feita em março de 2020.

O último trecho, uma gravação de Beatriz Abagge, a voz de um suposto policial diz que irá voltar para a “sessão” quando ela falha em dizer o que querem. Após ouvir as gravações, Markowicz diz que “pelo que estou ouvindo, parece que a coisa não andou como deveria”. Procurado pelo Plural, o promotor disse que por orientação do MP não se manifesta sobre o caso.

Mas o MP encaminhou uma nota na qual afirma que “o conteúdo em áudio citado carece de prova de autenticidade e de contemporaneidade”. E completa que “as condenações, ocorridas em dois júris distintos – um em 2004 e outro em 2011 – não se deram exclusivamente com base nas confissões”.

Ainda segundo Mizanzuk, após quase um ano de posse das fitas, ele as entregou para o advogado de defesa das Abagge, Antonio Augusto Figueiredo Basto, que prepara um pedido de revisão criminal. Ainda em março de 2020 Mizanzuk havia registrado no podcast e em entrevistas à imprensa que estava à disposição do MP.

Sobre o caso

Evandro Ramos Caetano, de 6 anos, desapareceu em 1992, em Guaratuba, litoral do Paraná, quando caminhava de volta para casa. O corpo dele foi encontrado dias após o desaparecimento, num matagal da cidade. Sete pessoas foram acusadas do crime, entre elas a esposa e a filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge. O caso foi revisto pelo jornalista Ivan Mizanzuk no podcast Projeto Humanos – Caso Evandro, que culminou com a apresentação das novas provas encontradas por ele que reforçam a denúncia feita pelos acusados de que as confissões que fizeram haviam sido obtidas sob tortura.

Além do podcast, o caso também foi recém apresentado em uma série documental na Globoplay e é tema de um livro que será lançado em junho de 2021.

Sobre o/a autor/a

15 comentários em “MP descarta novas fitas do Caso Evandro sem pedir acesso a elas”

  1. MP estadual, MP federal, tudo farinha do mesmo saco…..
    Todos vendidos por politicagem….
    Os lá de trás para prejudicar Aldo Abage , Anibal Curi, etc
    Os mais recentes para prejudicar a esquerda e pôr os milicos de volta ao poder aos poucos, iniciando com Bozonaro & cia….

  2. Inacreditável esse MP Paranaense!!! Sob tortura, assumo qualquer história inventada e ainda arrolo quem eles quiserem na confusão. Quanto ao caso em questão, fico com a pulga atrás da orelha de “os sete estarem sendo usados para ‘lavar’ um grupo responsável por tráfico de crianças da época”. Provas surgiam do nada, quando necessárias; roupas de um no corpo de outro; chave, chinelo, etc etc. Pareceu tudo bemmmm armado mesmo!

  3. Absurdo o MP não aceitar as reais fitas cassetes com as “sessões de interrogatórios”, em que a coação e a tortura são evidentes!

    MP do Paraná deveria rever esse erro judiciário!

  4. Como exaustivamente colocado pelo podcast e o próprio MP disse em sua nota, as provas não são exclusivamente baseadas na confissão. Há uma série de documentos, fotografias e testemunhos que dão a certeza da culpa. Sem a confissão, a responsabilização seria a mesma. Parem de beatificar bandidos.

  5. Rsss… Não estou surpreso com nada desse desfecho do MP. Querem de todas as maneiras achar um culpado seja ele inocente ou não. Como já sofri uma injustiça semelhante do MP e da PM, assim como os acusados do caso Evandro, paguei por um crime inventado. Não acredito no judiciário brasileiro.

  6. Acho que nao querem tocar nesse assunto, por que foram cometidas várias injustiças, e as pessoas importantes envolvidas ainda poderiam ser responsabilizadas.

  7. Simplesmente acobertaram porque certamente envolve políticos ainda em atividade com seus mandatos “íntegros”, assim como policiais, advogados, juízes, promotores e demais ingredientes dessa pizza vergonhosa à moda da casa.

  8. O estado esta com o …. na mão se isso acontecer e sei que vão ter que nos inocentar em letras garrafais, eles sabem que a indenização vai ser bem salgada.

    1. Ana Carolina Galhardo Carlsson

      Inaceitável. E dizer que não foi baseado nisso são palavras ao vento, para tapar a boca da opinião pública. Ora, um processo de centenas de milhares de páginas! Quero ver sem essas confissões, como vcs colocam os acusados na cena do crime!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima