Magal, o militante anti Lava Jato que quer ser prefeito de Curitiba

Felipe Mongruel, advogado conhecido como Magal, diz por que acha que o PT deveria ter candidatura própria e apresenta sua pauta

Talvez você já tenha visto o Magal por aí, na rua ou na redes sociais. Tem um vídeo dele, por exemplo, debaixo do prédio onde mora Deltan Dallagnol (Novo), gritando coisas só para atazanar o ex-procurador. Atazanar Deltan e os lavajatistas, aliás, foi um dos passatempos preferidos dele nos últimos anos.

Autodefinido como “advogado legalista”, Felipe Mongruel, mais conhecido como Magal, agora se apresenta como pré-candidato a prefeito de Curitiba pelo PT. Há mais dois pré-candidatos no partido, os deputados federais Carol, Dartora e Zeca Dirceu, e a possibilidade maior é de uma composição com Luciano Ducci (Novo). Mesmo assim, Magal diz que apresentar seu nome é importante. Nessa entrevista, ele diz por quê.

O PT, aparentemente, tende a fazer uma composição com Luciano Ducci em Curitiba, embora tenha pelo menos três pré-candidatos. Ainda é possível reverter isso, na tua opinião?
O Partido dos Trabalhadores é reconhecido, também, por ser o partido mais democrático sob suas chancelas e suas oficializações. Tudo é amplamente discutido e disputado. Nada e nem ninguém, nem mesmo o Presidente Lula exerce alguma atitude discricionária. A palavra de Minerva sempre foi e sempre será a da militância. Dos seus filiados. Do seu patrimônio maior e mais expressivo. Existe ainda uma outra questão a ser ancorada nessa toada. O PT faz parte da Federação Brasil da Esperança, logo, não será só o PT e nem apenas o PT, ou quem quer que seja dentro disso ou daquilo que vai escolher qual caminho seguir.

De fato existe essa tendência, uma vez que existem muitos filiados(as) do partido que desejam esse caminho com Ducci. Mas existe não só essa tendência. Existem outras tendências também gritantes no partido, por exemplo: Em nome da deputada Carol Dartora, por acharem que é o momento de colocarmos uma candidata mulher e negra que se apresenta como um fenômeno eleitoral que busca a representatividade de uma causa legítima. Existe uma outra parte que clama pela candidatura do nosso líder da bancada do Governo Federal, Zeca Dirceu, por já ter sido prefeito outras duas vezes em Cruzeiro de Oeste e estar em ascensão política, no quarto mandato de deputado federal. E a nossa pré-candidatura, que detém uma obrigação em resgatar o domínio das ruas. Uma candidatura que luta pela alma do partido dos trabalhadores, em exercer seu protagonismo social na defesa das condições de trabalho do cidadão e da cidadã. Que luta pelas melhores condições de vida de todos, sem distinção, preconceitos ou privilégios. Que não se conforma com a injustiça causada diariamente por todos e todas pelo modo burguês que escolhemos participar. E já que escolhemos participar, que nós o operemos a tal ponto que atenda os anseios da população, dando chances e oportunidades.

O PT de Curitiba deve pautar o debate público em todas as esferas, em todas as áreas e ser o agente transformador da sociedade.

Dos três pré-candidatos do partido você é o único sem mandato e o menos conhecido do eleitor. Por que deveria ser vc o nome do partido?

Não deveria ser eu, ou, ao menos, não preciso ser eu.

A minha candidatura não expressa o caminho tradicional do político/figura pública, que tem destaque na sociedade e, por ser conhecido, por ter a condição de participar de um concurso de popularidade incorporando vagamente valores dos quais se apresenta como representante, seria o mais apto a capitanear uma concorrência a cargo executivo. Não se está disputando quem é o mais influenciador.

A minha candidatura é um debate sobre e uma disputa pela “alma do partido”.

Vejamos, o PT não é um acidente na história da política. O PT integra e – até então lidera – uma tradição ideológica mais comumente descrita como esquerda, progressismo, mas que tem o seguinte princípio fundante: nós denunciamos um estado de coisas sistêmico, incorporado na mentalidade comum como fatalidades da vida em sociedade, que perpetua as desigualdades sociais e quando não, os acentua. Ou, sendo mais objetivo, essa tradição e o PT consideram que os objetivos e interesses da parte de cima do país, do jeito que as coisas estão organizadas, não são convergentes com a prosperidade da parte de baixo. O PT não veio para amenizar esses efeitos, que seria um modo de condescender com eles, mas para romper com essa estrutura. Toda a história do partido aponta e grita nessa direção.

Eu não tenho mandato, não tenho cargo e estou pré-candidato pelo PT porque sou mais um dentre incontáveis indignados com a injustiça perpetuada pela acumulação e que uma eleição a um cargo executivo tão importante não pode ser apenas a concorrência entre “eu sou melhor administrador que você” que, espero estar errado, é o papel que Ducci estará desempenhando no enfrentamento do candidato do Prefeito e das ricas famílias de Curitiba.

Uma disputa entre gerentes.

O político é um formador de opinião e tem a obrigação de usar a oportunidade de pautar o debate e expor uma Curitiba rica com povo pobre. Bonita mas com escassez e dificuldades, que passa longe de sua propaganda institucional. É assim, e não por acidente, que o prefeito é Rafael Greca, porque ele é a expressão de uma mentalidade de governar. Essa diferença que precisa ser exposta enquanto dois meios inconciliáveis de enxergar a administração pública. Especialmente a cadeira executiva e estou aqui pra levantar essa bandeira, pautar esse debate e mostrar que o PT está do lado completamente oposto a está maneira que está aí há décadas na prefeitura municipal.

Você ficou conhecido pela tua militância no caso da lava jato. essa seria uma bandeira?

Nosso dever e nossa vocação é despertar o debate público. Especialmente na capital que mais expressa sua rejeição ao partido ancorada na propaganda de uma fantasia e um fantasma construído durante os últimos anos, onde a operação lava jato foi o capítulo mais agudo.

A sociedade civil está e assim permanecerá, pelos próximos 10 anos, no mínimo, polarizada. Entre a extrema direita e a Esquerda.

E o fruto causador da extrema direita foi o lavajatismo, que na verdade, nada mais é que uma operação norte-americana orquestrada para prender o Lula e roubar nossa soberania. Isso que chamamos de guerra híbrida, ou Lawfare, detém na Lava Jato um grande modelo de sucesso. Eles nunca foram interessados em acabar com corrupção ou fazer justiça. Nada disso. São publicitários, a Lava Jato foi apenas um “case” de sucesso. E jogaram muita gente pra dentro do bolo que eles mesmos armaram para, através de ilegalidades, torturas e injustiças obterem condenações públicas sociais que, posteriormente, eram adequadas a meia-dúzia de palavras jurídicas para obter condenações jurídicas. Foi, seguramente, o período mais sombrio da história do poder judiciário brasileiro que gerou esse circuito afetivo de ódio à política. Transformou toda a política em imprestável e seu símbolo, o Partido dos Trabalhadores. Por isso, eu tenho o dever como pré-candidato de combater a causa dessa doença.

Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e sua turma pariram Jair Bolsonaro.

Quais seriam tuas pautas mais importantes para a cidade?

Primeiro a gente tem que denunciar a farsa dessa administração atual. Curitiba é uma cidade muito rica que distribui muito mal. Ou seja, é uma cidade que perpetua a injustiça social. Curitiba sempre foi idealizada pelos planos dos europeus, seja Agache nos anos 40, seja Wilhelm nos anos 60’ e perpetuamos o modelo lernista, que diga-se de passagem foi um bom prefeito, mas que fermentou a especulação imobiliária que faz de Curitiba uma cidade caríssima para se viver. Vou te dizer que o único momento em que tivemos uma administração mais à esquerda na cidade de Curitiba, foi em 1985, com o ex-governador e ex-senador Roberto Requião. Foi na gestão dele que houve a Ferrovila, por exemplo. Foi na gestão dele que nos preocupamos com a realidade material das nossas pessoas.

Agora, vemos nessa administração uma total sujeição à estética dos bairros dos favorecidos.

Veja a Linha Verde que vai entregar agora, depois de não sei quantos anos, sem absolutamente nenhum debate público com a população ou com a oposição. Apenas para fazer campanha do vice-prefeito que será candidato.

Nossa pré-candidatura tem compromisso e dever com as áreas não atendidas por esses olhos. Nosso compromisso é denunciar isso e depois pautarmos o debate público acerca daqueles que nada tem. Que não tem pra onde ir. Aqueles que já estão sem expectativa alguma e a regularização fundiária é o tema mãe.

Veja só, temos 75 bairros e mais de 400 ocupações.
Quer fazer justiça social e dizer que cuida da cidade mantendo isso?

Quer falar de ambiente sustentável, parques e praças, Natal de luzes tendo quantas centenas de milhares de pessoas vivendo sem água potável e sem esgoto?

Do lugar de onde eu venho, a Vila Capanema, na época da Covid, a leptospirose era mais fatal que o próprio Sars-Covid-1. Isso é gente que tá morando do lado do lixo. Com o gosto do chorume beijando o bigode.

E sabe porquê a prefeitura não se importa, porque não faz parte do seu curral financeiro eleitoral. Porque pratica uma política verticalizada de cima pra baixo.

Família Folha, é!? Sei…

Quem faz a reciclagem nessa cidade são os cidadãos e cidadãs periféricos que carregam seus carrinhos para centros de reciclagem nas favelas.

Tarifa zero, imediatamente. Chega de dar subsídio pra empresário enquanto o povo se escalpela para pagar 6 reais. Por que não pegam o dinheiro dos radares pra fechar esses 100.000 milhões que gastam por mês?!? Aliás, alguém sabe onde encontro quanto é arrecadado com esses radares? Ninguém pauta esse debate.

E, por último, mas não menos importante, cultura. Uma cidade é a transmissão cultural do seu povo e das suas gentes. Cultura é expressão fenomênica desses povos. Cultura, gerando um hábito educacional de consciência de classe. Quando falam de cultura, a maioria das pessoas pensam em ir pra periferia ensinar crianças a baterem lata e depois se apresentarem no centro. Esse é o modo opressor de se fazer. Claro que deve haver infinitos meios de impulsionamento e incentivo cultural, mas quando eu falo de cultura eu quero debater, principalmente, as classes mais distantes desse entendimento. Essa cidade tá cheia de gente de classe abastada completamente sabuja e lacaia de uma cultura do hemisfério norte, onde são só correia de transmissão dos valores praticados pelo individualismo.

Uma parte que não sabe quem é e querem ser igual ao modelo que reproduzem, achando chique não dar informação, por exemplo. Isso é “jacu” ao máximo.

Queremos uma cultura que se troque. Que se divida. Sensível às características e circunscrições onde se está inserido. Uma ideia absurda de curitibano não falar com estranho, por exemplo. Que fato mais anti-brasileiro é esse? Ou não somos brasileiros e nacionalistas aqui? Queremos uma Curitiba acolhedora, que não só se ouça, mas que se preocupe e que se divide. Não é um prêmio comprado de Smart City no exterior que vai mudar a realidade psicossocial do sujeito. É uma cidade inclusiva. Prestativa. Pujante por seu povo. Com um povo livre. Autônomo no seu pensamento. Em uma prefeitura que ame mais os curitibanos que a própria Curitiba. Até porque quem faz ela somos nós. Os trabalhadores.

O PT não vem tendo bons resultados em Curitiba. Como reverter isso?

Talvez você esteja certo. Mas importante salientar que triplicamos o número de vereadores. De 1 fomos para 3. Várias sucessões nesse período com a ascensão da Carol, do companheiro irmão Renato Freitas e da Ana Júlia, para ALEP. Subimos nosso presidente Angelo Vanhoni e a Georgia Prates para CMC. Fizemos mais de 50.000 votos nas bancada municipal. Se você está se referindo ao Dr. Paulo Opuzska, que fez um pouco menos que esse número, há que se olhar como estávamos em 2020. Segundo ano do Governo Bolsonaro e o presidente Lula tinha saído há menos de 1 ano da cadeia, a cidade ainda se retroalimentava do antipetismo lavajatista e bolsonarista. Se prestar ao papel que o Paulo fez, não é pra qualquer um. Parabenizo ele por isso. Mas na minha opinião, sua candidatura se parecia muito com a do Goura, e aí os votos da oposição optaram também pelo antipetismo. Mas tenho certeza que em 2024 a história será outra, principalmente se tivermos um candidato do PT. PT sendo PT, provocador, periférico, das massas e do embate no debate publico. Algo que vejo muito no Renato, dentre os nossos mandatários, porém com a adesão integral do partido. Nós temos que unir todas as nossas correntes, trabalhar por sermos um só. E uma candidatura petista pro executivo é fundamental para nossa bancada de vereadores.

O que você pensa da gestão Greca?
Vou falar o quê de um sujeito que tem nojo de pobre e disse que vomitaria se estivesse ao lado de um? Alguém que despreza um ser humano que não teve condições nem oportunidades e está degradantemente perdendo sua dignidade não por uma questão de escolha, mas por uma questão de “sorte”. No caso, “azar”. É disso que estamos falando. Acho que é uma gestão que ecoa apenas o discurso privilegiado. Ele fica com aquele personagem de falso amante de Curitiba porque fica cantarolando o hino da cidade, pessimamente diga-se de passagem, causador de uma vergonha alheia inacreditável.

Seu sucessor então é pobre menino rico, típico daqueles nascidos e criados em prédio. Fazem aquela política de vídeos em rede social ligando pra habitantes para parabenizar por dar nota Paraná. Gente demagoga em último grau. Na voz das ruas “piazada de prédio”.

Acho que o Greca quando se aposentar da vida pública vai viver com as capivaras lá do Barigui. Fazendo piquenique todo dia. Vida de rico é essa fábula, que envolve mentiras, grandes verdades ocultas e animais.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Magal, o militante anti Lava Jato que quer ser prefeito de Curitiba”

  1. Na contramão de todo o blablablá que pede harmonia entre as classes sociais, o velho Maquiavel, lendo a história romana, via virtudes no conflito entre os patrícios e a plebe, conflitos graças aos quais a república criou instituições representativas que ampliaram os direitos de toda a gente. A democracia é feita deste conflito, disciplinado pelo estado de direito. Magal tem toda razão de fazer o chamamento de seu partido às lutas sociais. O PT que admiramos não dá moleza nem descanso ao grande Capital. A ampla frente progressista que vai dar por encerrado em Curitiba o domínio do Conde Grékula (o sugador de direitos) deve ter esse alinhamento, sim, mas algo mais. Juntamente com a bandeira dos programas sociais arvorada desde Maurício Fruet (1983-85) e Roberto Requião (1986-88), e reerguida por Gustavo Fruet (2013-2016), a frente popular amplíssima de 2024 erguerá outra bandeira, enraizada nas rodas de uma bicicleta. A tradição de inovação e de reforma urbana não será entregue de mão beijada aos guris de prédio que cercam o Rei Mominho. Mesmo porque eles nem sabem o que é isso.

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