Diretorias da Sanepar e Copel querem aumento dos próprios salários

Comparado ao que foi pago em 2018, reajuste na remuneração dos cargos de gestão pode chegar a 30%

Na contramão do que o governo vem pregando em termos de austeridade e corte de gastos, as diretorias da Sanepar e da Copel enviaram aos acionistas das empresas propostas para aumentar o valor da própria remuneração. Entre o que foi pago a título de remuneração aos administradores das companhias no ano passado e o que é proposto para o exercício atual, os reajustes podem ser de até 30%. O maior percentual é da Sanepar, cujo aumento será decidido pelos acionistas nesta quarta-feira (24), às 10 horas.

Se comparar o valor global de remuneração pago em 2018, de R$ 11,8 milhões, ao que é proposto para este ano, de R$ 15,6 milhões, a diferença pode chegar a pouco mais de R$ 3,9 milhões. O aumento é quase oito vezes a inflação acumulada para o período, de cerca de 4% pelo INPC/IBGE.

O percentual, no entanto, fica menor se a comparação for o que foi aprovado no ano passado, cerca de R$ 13,9 milhões, e o que é proposto para este ano. A diferença reduz para 12%. Na prática, houve uma diferença entre o que foi proposto de remuneração e o efetivado ao longo do período. Os dados podem ser conferidos na proposta da empresa.

Na Copel, o aumento pedido pela diretoria é mais “modesto”, chegando a 15% se comparar o que foi pago a título de remuneração em 2018, pouco mais de R$ 11,7 milhões, com o que a diretoria está propondo de reajuste para 2019, um total global de R$ 13,6 milhões. A votação do reajuste da diretoria será realizada em assembleia de acionistas no dia 29 de abril. Se comparar o valor aprovado no ano passado, de R$ 13,5 milhões, o aumento pedido para o exercício atual cai para menos de 1%.

Assembleia de acionistas vai decidir sobre o reajuste da diretoria no dia 29 de abril.

Se os diretores das estatais pedem o aumento, na outra ponta o governo afirma que não aprovou nenhum aumento. Via assessoria, o Executivo estadual alega que, assim como congelou os salários do governador e dos secretários, não vai autorizar reajustes para cargos de gestão.

Projeto quer divulgar despesas de estatais

Se os valores globais nas propostas das diretorias da Copel e Sanepar permitem analisar o aumento total, o mesmo não pode ser garantido quanto aos salários individuais dos diretores e conselheiros de administração das empresas. Isso porque os dados não são divulgados pelas estatais. Se aprovado, um projeto em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) pode jogar luz ao impasse na transparência das estatais. De autoria do deputado Homero Marchese (Pros), o projeto cobra que todos os atos do poder público que impliquem despesas sejam divulgados nos diários oficiais, dentre eles, o aumento de dirigentes e cargos de gestão de empresas públicas.

Homero Marchese quer que atos do poder público que impliquem despesas sejam divulgados nos diários oficiais.

“A gente entende que a transparência tem que ser a regra, e que os salários devem ser publicados para que a população possa saber. Ainda mais em um momento de aumento das tarifas de serviços essenciais. Além da contradição presente entre os cortes no governo e a tentativa de busca de aumento, estamos vivendo no cenário nacional uma Reforma da Previdência que busca acertar todo mundo. O pessoal da iniciativa privada tem sofrido cada vez mais. É preciso ter coerência. Ou você exige sacrifício de todo mundo, ou não exige de ninguém”, defende o parlamentar.

Com base nos dados publicados pelas empresas, a assessoria do deputado estima que a média salarial dos diretores da Copel seja de R$ 120 mil por mês, e que a média das remunerações dos diretores da Sanepar seja de R$ 114 mil/mês. Os valores, contudo, podem variar dependendo do mês e do cargo ocupado na diretoria. Os dados, contudo, na perspectiva do deputado, reforça tanto a necessidade de maior transparência para garantir precisão dos números, quanto uma crítica sobre os altos salários.

“Não apenas considerando o caso dos servidores públicos, mas destaca-se também na iniciativa privada o congelamento dos salários. O PIB do país quase não cresce. Existe contradição na questão dos servidores, mas também na iniciativa privada quando olhamos esses reajustes solicitados pelas diretorias. O mais problemático é saber quais são os critérios de indicação dos diretores. Será que todos receberiam valores semelhantes em empresas na iniciativa privada? Quando uma empresa banca esse tipo de salário, é de interesse dela. Mas no caso de uma estatal, em que existe um fortíssimo impacto no Estado, a coisa é diferente. Deve-se questionar se elas têm qualificação para receber um salário igual a esse”, critica.

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