Suspeita de golpe levam hospital a recuperação judicial

Um dos maiores hospitais privados de Curitiba teria sido vítima de uma quadrilha especializada em "sugar" empresas endividadas

Fundado em 2007 pelo médico japonês Saburo Sugisawa, o Hospital Sugisawa está em Recuperação Judicial desde maio de 2023. Endividada, a instituição havia sido vendida para a Corvus Corax Participações Ltda em 2021, mas o processo de recuperação financeira prometido acabou numa sequência de investigações, processos judiciais e até supostas ameaças. Para entender o que está acontecendo com o Hospital, quinto maior hospital privado da cidade em número de leitos para cirurgia geral, o Plural revisou documentos judiciais de processos no Paraná e em São Paulo. Confira abaixo os detalhes:

Segundo o administrador judicial do hospital, o Sugisawa já enfrentava problemas financeiros, mas estes se agravaram em 2019, quando o fundador Saburo Sugisawa faleceu em 21 de outubro. O hospital era administrado por Saburo, a filha dele, a também médica Mari Sugisawa Kay e o marido dela, Antonio Katsumi Kay. No ano seguinte o hospital viu os prejuízos chegarem a R$ 20 milhões. Hospital privado, o Sugisawa foi fortemente afetado pelas medidas tomadas na contenção da epidemia de Covid-19, como a suspensão das cirurgias eletivas, parte importante dos serviços prestados pela instituição.

A administração do hospital também atribuiu ao aumento dos custos na prestação de serviços médicos, decorrente da falta de insumos, o aumento dos prejuízos. Em janeiro de 2021 Mari e Antonio venderam oficialmente o hospital para a Corvus Corax, especializada na recuperação de empresas endividadas e a administração do Sugisawa passou a ser realizada por Ricardo Mollo Moreno Avilez. O contrato entre o casal e a Corvus previa o pagamento simbólico de R$ 100.000,00 pelas ações de ambos no hospital.

Avilez, porém, foi denunciado em 2022 pelo Ministério Público de São Paulo por associação criminosa e organização criminosa junto a outras pessoas. O grupo investigado pelo MPSP na Operação Parasita é acusado de assumir empresas endividadas para capturar recursos e depois deixar o prejuízo para os credores. Segundo os promotores paulistas, Avilez junto com outros dois sócios teriam sido denunciados em 2010 por crime semelhante. O trio assumiu uma padaria em Osasco, São Paulo, reduziu o número de funcionários e passou a processar as comprar por meio de uma máquina de cartões de crédito programada para transferir os valores para outra empresa.

Segundo a denúncia do MPSP e a ação judicial movida por Mari Sugisawa e o marido contra a Corvus, expediente semelhante teria sido utilizado no Hospital. Uma máquina de cartões de crédito cujas operações eram creditadas na conta da PYXIS SERVICOS ADMINISTRATIVOS LTDA, uma empresa de São Paulo, cujo sócio é Gabriel Henrique Santos Vieira, também denunciado pelo MPSP. Ricardo e Gabriel, relata o MP, teriam transferido também valores da conta do Hospital para a da Pyxis. Só através da máquina de cartões teriam sido retirados do hospital R$ 3.460.668,84. Outros R$ 21,5 milhões foram transferidos da conta do Sugisawa para a da Pyxis, dos quais R$ 10,4 milhões voltaram para o hospital, deixando um déficit de R$ 11 milhões.

Após a denúncia, o casal Sugisawa entrou na Justiça do Paraná para pedir a nomeação de interventor judicial no hospital. A Justiça acatou o pedido em 22 de julho, indicando Maurício Obladen para a função e afastando Ricardo Avilez. O hospital, porém, já estava numa situação complexa. Apesar de ter aumentado a receita de R$ 37 milhões em 2020 para R$ 56 milhões em 2021 e R$ R$ 51 milhões em 2022, a instituição continuou a registrar prejuízos milionários: R$ 13 milhões tanto em 2021 quanto em 2022.

Pouco mais de oito meses depois a Fuji Care Cuidados em Saúde pediu à Justiça que decretasse a falência do hospital. O Sugisawa deve à Fuji Care cerca de R$ 3,6 milhões. Segundo a Receita Federal a Fuji Care é micro empresa, ou seja, tem faturamento anual até R$ 360 mil ou emprega até 9 pessoas. Em resposta, o interventor pediu que a empresa entrasse em recuperação judicial, o que foi aceito pela justiça em maio de 2023.

O relatório do administrador da Recuperação Judicial do Hospital aponta que a instituição deve a micro e pequenas empresas cerca de R$ 17 milhões. Outros R$ 3 milhões são devidos em ações trabalhistas movidos contra o hospital. R$ 1 milhão é devido em operações de crédito com garantia e R$ 53 milhões são dívidas com fornecedores e outros contratos sem garantia. No total, o balanço atual de dívidas do Hospital soma R$ 75 milhões. Destes, pelo menos R$ 8,3 milhões são devidos à família Sugisawa, através da Bela Vista Administradora, cujos sócios são Malcolm e Susan Sugisawa, netos de Saburo.

Segundo o plano de recuperação judicial apresentado à Justiça e aprovado, a reestruturação das dívidas prevê o parcelamento das dívidas sem garantia em 180 parcelas mensais com deságio de 85% e com início do pagamento 24 meses após a aprovação do plano. Os credores que são micro ou pequena empresa terão seus créditos sujeitos a deságio de 70% e pagamento em 120 parcelas após prazo de 24 meses da aprovação do plano. A recuperação também prevê a venda de ativos e o aporte de capital pelos sócios.

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