O Plural está convidando leitores a escrever sobre seus romances políticos preferidos. Este é o segundo da série
O romance “Pátria”, do escritor Fernando Aramburu, traz a marca de dor e sofrimento que sempre me impulsionou ao caminho do centro, da busca do arranjo político e das concessões mútuas: a marca das vítimas indiretas da brutalidade das ideias sem reelaboração.
No caso do romance, uma mãe e uma esposa têm a vida destruída por um episódio que envolve, em uma tarde chuvosa, um pequeno empresário e um jovem ativista, moradores da mesma pequena vila, conhecidos do bar da esquina e das conversas sobre frivolidades, mas separados pela banalidade da irreflexão gerada pelas ideias sem vírgulas, sem reticências, só repetições tão cansativas quanto alienantes.
O romance ocorre em dois tempos: o do atentado e o da prisão; o do auge do movimento terrorista do ETA, e do momento no qual eles depõem armas, buscando superar o passado de violências por um futuro de resistência política parlamentar.
Os personagens, como já disse, são todos próximos, mas mediados pelo nacionalismo cujo grau de fidelidade e expressão (como falar a língua basca, por exemplo) determinava um maior ou menor pertencimento. E nesse cadinho (que não passava de uma sopa de pedras) forjavam-se o “amigo” e o “inimigo”, o “companheiro de lutas” e o “traidor da causa”.
“Pátria”, como sempre, conta a história de pessoas que sofrem, depois que a ilusão coletivista se esfuma. Como disse, desafortunadamente, a primeira-ministra britânica, não existe sociedade, existem apenas indivíduos. O romance de Aramburu não chega a dar razão a ela (nem gostaria de fazê-lo), mas revela o pior momento da política desde o século XIX: o de escolher entre um ou outro.
Serviço
Pátria, de Fernando Aramburu. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Intrínseca, 512 páginas, R$ 42,00.