O que acontece com Gérard Depardieu?

Ator tem interpretado versões de si mesmo cada vez mais absurdas em sátiras de baixíssima qualidade. Deve ter alguma sabedoria nisso

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Houve um tempo em que Gérard Depardieu era a cara do cinema francês. E o nariz do cinema francês. Ele não era tão galã quanto Alain Delon e nem tão cultuado quanto Jean-Paul Belmondo. Mas era melhor ator. 

No ápice da fama, Depardieu foi aos Estados Unidos interpretar Cristóvão Colombo no filme “1492: a conquista do paraíso” (1992). Colombo, claro, era italiano. Mas isso não parecia fazer diferença para Hollywood. 

Depardieu interpretou Rodin, Balzac e Obélix. Mais recentemente, ele fez os papéis de inspetor Maigret (um Sherlock Holmes da França), de Nostradamus e de… Gérard Depardieu (ao lado do escritor Michel Houellebecq, num filme bizarro em que os dois têm de sobreviver a uma dieta num spa).

Gérard Depardieu

Em um filme, o homem já foi um dos três mosqueteiros (Porthos) e, em outro, também o escritor que inventou os três mosqueteiros (Alexandre Dumas). Ele interpretou Jean Valjean, o protagonista de “Os miseráveis”, de Victor Hugo, numa minissérie para televisão; e encarnou uma das figuras mais importantes da Revolução Francesa no filme “Danton”. Isso tudo é parte de uma filmografia com 246 títulos, de acordo com o Internet Movie Database.

Hoje, aos 74 anos, Depardieu se tornou uma espécie de Marlon Brando da França. Além de ter cultivado uma barriga gigantesca – assim como a de Brando no fim da vida –, Depardieu tem interpretado versões de si mesmo cada vez mais absurdas em sátiras de baixíssima qualidade. Deve ter alguma sabedoria nisso, mas ele ao menos podia fazer comédias que fossem engraçadas de verdade.

“Um asilo fora do comum”

E digo isso por causa de um filme que acaba de estrear no acervo do Globoplay. O título em português já dá uma ideia da bomba: “Um asilo fora do comum”. 

Trata-se de um dos trabalhos mais recentes de Depardieu, uma das sete coisas que ele fez em 2022 – foram cinco filmes e duas séries. 

Na história, um sujeito preguiçoso que não dura em nenhum emprego se envolve numa confusão com uma senhora de idade no supermercado em que trabalha – ele detesta idosos e tem nojo deles. O caso vai parar na justiça e ele é condenado a prestar serviços para a comunidade. Assim ele começa a trabalhar num asilo de idosos e uma piada que já era ruim vai ficando cada vez pior.

Depardieu tem uma participação menor no filme, no papel de um ex-lutador de boxe que mora no asilo. Ele é mau-humorado e berra muito, mas eventualmente vira um queridão. Enfim, não há nada nesse filme que não seja previsível. 

“O vale do amor”

Porém, não considere Gérard Depardieu carta fora do baralho. Não ainda. O homem é capaz de surpreender. Não muito tempo atrás, em 2015, ele fez “O vale do amor”, com Isabelle Huppert (disponível no Reserva Imovision). Um filme estranho, enigmático, em que ele e Huppert interpretam os pais de um jovem suicida. 

Depois de se matar, o filho deixa uma carta para o pai e uma para a mãe, que não vivem mais juntos, e nelas explica que os dois devem viajar até o Vale da Morte, no deserto da Califórnia, e cumprir algumas tarefas como percorrer trilhas e vislumbrar paisagens. Já se passaram meses desde que o jovem morreu e não fica muito claro qual é a razão dessa viagem. Até que as coisas vão ficando um pouquinho mais estranhas do que antes.

Depardieu com seu corpo imenso é por si só um efeito especial. Ele é um homem que se sente desconfortável porque enfrenta o calor do deserto, porque está lidando com a ex-mulher e com as memórias do filho, e porque está no mundo.

Onde assistir

“Um asilo fora do comum” está em cartaz no Globoplay e “O vale do amor” faz parte do catálogo do Reserva Imovision.

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