Elvis é um banquete de excessos, mas com saldo positivo

No filme de Baz Lurhmann, as canções do rei do rock parecem mais exuberantes e irresistíveis do que nunca

Assistir ao filme “Elvis” assemelha-se a mergulhar, ao longo de 2 horas e 40 minutos, em um opulento e colorido bolo de vários andares, recheado com muito açúcar e emoções, contendo umas 100 mil calorias.

O longa, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (14), é dirigido pelo cultuado Baz Lurhmann, que realizou, em 2001, aquela ópera pop burlesca, que tem admiradores fervorosos, chamada “Moulin Rouge”. Graças aos deuses do cinema, o diretor conteve-se mais em “Elvis”. Mas não faltam piruetas de câmera, 30 cortes por segundo e muito barulho. Aqui, ao menos, o barulho se refere, principalmente, às canções de Elvis que, ouvidas numa sala de cinema, nunca pareceram tão exuberantes e irresistíveis.

A proposta do diretor é atraente: contar a história do rei do rock pelos olhos de seu agente, o “coronel” Tom Parker (que usava a patente, mas não era coronel coisa nenhuma). Segundo o filme, o empresário teria percebido o potencial financeiro de Elvis Presley quando o cantor começava a fazer sucesso em Memphis, no estado americano do Tennessee, no início dos anos 1950. Tom Parker obteve para o artista um contrato grandioso com a poderosa gravadora RCA Victor, dando início a uma carreira de estrondoso sucesso que já é mais do que conhecida.

Elvis

Tom Parker agenciou Elvis por mais de 20 anos, tendo ganho a fama de vilão na vida do cantor. Baz Luhrmann mostra o empresário como uma figura sinistra, que teria manipulado e controlado Elvis a seu bel-prazer, prestando atenção, unicamente, nas cifras. O agente é interpretado por Tom Hanks, em um raro papel de vilão. Com uma maquiagem pesada, o ator nos apresenta um “coronel” Tom Parker caricato, de parque de diversões, quase de papelão, um bruxo perverso que explora o príncipe, até que o mata.

Com essa opção, Baz Luhrmann aproxima o filme do universo da fantasia e o faz logo no início, apoteótico, com uma apresentação de Elvis em Las Vegas, já nos anos 70, lembrada pelo “coronel”, que começa, nesse momento, a narrar a vida do cantor, desde a sua infância (mesmo que não a tenha presenciado). O menino, que cresceu em um bairro negro em um local de segregação racial, teria absorvido a música e a cultura negra, daí a sua obra resultar de uma mistura entre o rhythm and blues e o gospel (além do country). Em uma cena, ele assiste a um culto religioso de origem africana e, em meio à intensa música, entra em estado de transe e seu corpo começa a tremer e a sacudir. No delírio do diretor, essa experiência teria sido a origem dos famosos movimentos de dança de Elvis, que, de alguma forma, foi “consagrado” pelos espíritos.

Elvis Aaron Presley, muito jovem, rezando com a família, entra em transe antes de subir ao palco, em Memphis. Interpretado por Austin Butler, esse é primeiro momento do filme que vemos de fato o rosto do personagem adulto, após, aproximadamente, 15 minutos de expectativa.

É o primeiro show de Elvis que “coronel” Tom Parker assiste e, assim como ele, a plateia do cinema e a plateia que está “dentro do filme” têm uma grande surpresa.

Vestindo uma roupa que combina rosa e preto, com os cabelos modelados com brilhantina, topete cuidadosamente elaborado, uma leve maquiagem e uma camisa de renda justa (um toque contemporâneo do diretor), Elvis está diante da plateia. Um homem debocha de seu visual. O cantor parece nervoso, até lançar a sua poderosa voz e o som de sua banda, abraçando a plateia confusa e eletrizada.

Então, ele começa seus movimentos e treme, especialmente os quadris, insinuando, sim, sexo, aturdindo as mulheres, que começam a ficar histéricas. Nesse momento, Elvis não é o “fruto proibido”, mas um bombom de uva que as mulheres estão desesperadas para devorar.

Remédios

A partir dessa cena, o filme conta a trajetória do artista em formato mais tradicional e sem se aprofundar na personalidade de Elvis. Assistimos aos conhecidos altos e baixos. Temos a ascensão meteórica, a ira dos conservadores, os filmes dos anos 60 (que eram de segunda; Elvis nunca fez um grande filme, provavelmente por culpa do “coronel”), o casamento com Priscila (praticamente irrelevante no filme), o retorno triunfal em um programa de TV de 1968 (cenários de Catherine Martin, esposa do diretor, são impecáveis) e os últimos anos apresentando-se no “International Hotel”, em Las Vegas, em que seu canto e interpretação extremos e sofridos indicavam seu estado físico e mental. Os medicamentos para dormir e os para lhe dar energia e suportar mais e mais o cotidiano dos shows teriam, mesmo que indiretamente, causado sua morte. Em muitos momentos, o próprio “coronel” Parker obriga-o a tomar os remédios e a voltar para o palco.

Uma das últimas apresentações de Elvis é mostrada em imagens de arquivo. Em Las Vegas, obeso e parecendo exausto, ele canta “Unchained Melody”, e o diretor não resiste e despeja açúcar nesses momentos finais, deixando o filme melodramático.

Mas o saldo final desse banquete excessivo, conduzido com mão pesada, até que é positivo. Não custa assumir que o filme envolve a plateia, é enérgico, com música encantadora. O objetivo final de Baz Luhrmann é levar o espectador a uma viagem de grandes sensações. Ele mostra talento para arrastar o público para dentro de uma nostalgia que é ao mesmo tempo prazerosa e dolorida. E dá um aperto no coração…

Onde assistir

“Elvis”, de Baz Lurhmann, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (14).

Pré-estreia no Cine Passeio
13 de julho (quarta-feira), 19h15, no Cine Passeio (Rua Riachuelo 410, Centro). Ingressos a partir de R$ 8 (meia) na bilheteria do cinema ou no Ingresso.com.

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