Biblioteca das Moças volta às livrarias de olho nas mulheres do século 21

Editora Nacional publica romances de época com um perfil semelhante ao do livro de Julia Quinn que inspirou a série "Bridgerton", da Netflix

A Biblioteca das Moças foi um fenômeno editorial no Brasil com mais de 180 títulos publicados ao longo de 40 anos, de 1920 até 1960, e tiragens de causar inveja até em nomes como Julia Quinn, autora dos livros inspiraram a série “Bridgerton”, ou Diana Gabaldon, de “Outlander”, ambas na Netflix.

Na década de 1950, por exemplo, foram 2,9 milhões de exemplares publicados. Os números eram impressionantes, tanto que a Editora Nacional tentou relançar a coleção nos anos 1980, mas a iniciativa não teve vida longa. Agora a editora – fundada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes – está prestes a comemorar seu centenário e aposta novamente em uma literatura para as mulheres, porém com um olhar diferente.

No passado, quem definia a leitura das moças eram homens. Algo impensável nos dias atuais, por isso a equipe responsável pela nova coleção é exclusivamente composta por mulheres – da curadoria assinada por Alba Milena até o projeto gráfico de Fernanda Mello.

“Bridgerton”

Luiza Del Monaco, gerente editorial da Editora Nacional, fala que o romance de época sempre teve espaço garantido no mercado e que o gênero ganhou força com a produção recente de séries que viraram febre de audiência nas plataformas de streaming. “O sucesso de “Bridgerton” e “Outlander”, por exemplo, reacenderam ainda mais o interesse pela literatura de época”, ela diz.

Pautas femininas

Há quem diga que os títulos de romance de época que saltam das páginas para as telas são apenas histórias açucaradas, com a mão carregada nos enlaces amorosos e ares de contos de fadas. Ou seja, algo que vai na contramão do feminismo e das discussões vigentes entre e sobre as mulheres no mundo contemporâneo.

Mas a volta da Biblioteca das Moças foi o resgate de um tesouro da história da Nacional, segundo Monaco. “A nova fase da editora é pautada pela igualdade e inclusão”, assim relançar a coleção, que foi pioneira em literatura voltada para o público feminino, é uma oportunidade para o reposicionamento da marca.

Ela não nega que o gênero serve como fuga da realidade. Contudo, explica que esse escapismo também abre uma chave para repensar o momento atual. “As diferenças de conduta e costumes geram muito insumo pra refletirmos sobre evoluções – e também os retrocessos – que vivenciamos hoje.”

Talvez aí esteja o diferencial da nova coleção, a contextualização incluída nas obras originalmente escritas há cerca de um século. “Não temos como deixar de levar em conta o contexto histórico e social da época. Mas isso não nos impede de, ao trazermos para a realidade de 2022, refletirmos sobre os comportamentos do passado que – depois de muita luta das mulheres – já não são mais tolerados”, diz a gerente editorial.

“Algo a mais”

Os lançamentos da nova Biblioteca das Moças serão trimestrais. O primeiro título foi o best-seller “Algo a mais”, da escritora e roteirista inglesa Elinor Glyn, precursora da literatura erótica e primeira a usar o eufemismo para atração sexual que deu origem à expressão “it girl”, ou “a garota com algo a mais”. Os próximos serão “Amor pelo telefone”, de Florence L. Barcley – escolha vinda do paralelo que pode ser traçado com os romances nascidos nos aplicativos de relacionamento –, e “Meu vestido cor de céu”, de M. Delly. 

Biblioteca das Moças

“Algo a mais”, de Elinor Glyn. Tradução de Karine Ribeiro. Editora Nacional, 184 páginas, R$ 49,90.

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Biblioteca das Moças volta às livrarias de olho nas mulheres do século 21”

  1. Acredito que grande parte das mulheres de minha idade leram livros da Biblioteca das Moças e foi uma surpresa para mim que, “fuçando” na internet descobri que se fala em relançamento de alguns títulos. Não sei como entrar em contato com a gerente editorial, Luiza del Monaco, para esclarecer uma dúvida. Li um título (O Pecado de Lady Isabel) que, pelo visto, tem uma continuação que não sei se foi editada.
    Como faço para tirar a dúvida, porque talvez eu ainda possa adquirir a continuação em um sebo.

  2. Amo literatura antiga e vim feliz da vida saber mais sobre essa coleção esperando histórias de época e vivências do século passado. Que pena que não se trata de nada disso.

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