Antropofocus faz crítica bem-humorada à ideia do “cada um por si”

“Justo hoje!”, novo espetáculo do grupo de teatro curitibano, analisa o Brasil dos dias atuais

Um prédio, múltiplos apartamentos, uma série de personagens diferentes. Você já deve ter visto por aí algum desses tipos: a síndica desinteressada, o tio do WhatsApp, o casal novo querendo comprar um apartamento, o coach (essa figura mítica da contemporaneidade). Em comum, essas figuras – e outras – apresentam ao público, em “Justo hoje!”, o que acontece quando vivemos “cada um por si”. 

“Foi muito difícil encontrar um lugar para o espetáculo, entender o que a gente gostaria de falar e saber como falar”, conta a atriz Anne Celli. É um consenso entre o quarteto: a nova obra é fruto de três meses e 19 anos de experimentações, estudos e estrada. Inicialmente, a proposta era falar das pequenas corrupções, mas as coisas foram acontecendo: a vida, o Brasil, os textos. “Não dava para passar por essas coisas e não ter uma intervenção no trabalho, os acontecimentos foram construindo esse caminho”, salienta o ator Edran Mariano. 

E como falar do agora, de corrupção e de acontecimentos sem falar de política? Apontando o dedo direto para nós, a plateia, o país. É uma ficção, uma história, mas não é um discurso panfletário. Há um posicionamento, uma crítica, mas ela é aberta: “O mais importante para a gente é conseguir colocar situações do nosso jeito, e que seja uma ficção. Rir, rir de você, de nós, pense e falamos depois”, diz o ator Marcelo Rodrigues. 

O objetivo é chegar à universalidade, às muitas facetas das personagens apresentadas. “A gente queria brincar com essas figuras todas, mas sem que as pessoas achassem que elas só viviam dentro da peça”, conta o ator Andrei Moscheto. É brincadeira, mas é sério. 

Quase duas décadas de histórias

O Antropofocus teve início em 28 de outubro de 2000. As peças-chave do grupo se encontraram dentro da Faculdade de Artes do Paraná, a antiga FAP – hoje, Unespar. A vontade de fazer comédia de um jeito diferente foi o que uniu os primeiros integrantes. “Não tinha foco em lugar nenhum disso da faculdade, comentamos de fazer isso por fora”, conta Andrei. O grupo também se incomodava com o humor da época, entendido por eles como preconceituoso, misógino e cheio de palavrões. 

No princípio, houve quem achasse que a opção pelo não uso de palavrões fosse uma questão religiosa. De lá para cá muita coisa mudou, inclusive na forma de fazer comédia. O Antropofocus entende que há outras ferramentas para se usar, de preferência, com foco na figura humana – daí o nome do grupo. Som, luz, cenário, linguagem corporal, texto, figurino, espaço físico, a situação: esses são alguns dos elementos instrumentalizados pelo Antropofocus na coletividade. 

A colaboração é outro ponto importante das criações do grupo. Foi esse aspecto mais aberto, inclusive, que fez com que a companhia optasse pela técnica do improviso, seja no resultado final, ou na criação dos espetáculos. O próprio processo de improvisação precisa, justamente, da ideia do outro. “Normalmente você precisa ser autor, diretor e ator do seu trabalho, então treina sua percepção para todos esses elementos. Isso faz com que a gente possa contribuir com o trabalho um do outro”, diz Andrei. É preciso escutar, aceitar o outro. 

“Mais do que um grupo de comédia, é um grupo de teatro que pesquisa as possibilidades do humor. De formas, estéticas, textos, opções corporais”, diz Edran. São 12 espetáculos no repertório da companhia, e que estão sempre em movimento, passando por mudanças – como o próprio grupo. 

Atualmente, o Antropofocus trabalha com elenco fixo: Anne, Andrei, Edran e Marcelo, e diversos parceiros que contribuem com as apresentações. Desde 2006, cursos de improvisação também são ofertados pela companhia, e ajudam a custear a existência do grupo. 

Da nova idade em diante a companhia espera continuar em movimento; criando, apresentando, levando pessoas ao teatro. E já adianta: Curitiba pode esperar novidades na comemoração de 20 anos, que acontece no ano que vem. 

Teatro

Espetáculo “Justo hoje!”, do Grupo Antropofocus
Quando: 22 de novembro (sexta), às 20h; 23 de novembro (sábado), às 18h e 20h; e 24 de novembro (domingo) às 19h
Onde: Teatro Zé Maria, na rua Treze de Maio, 655 (São Francisco)
Ingressos custam R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira) pelo Ticket Fácil

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