Rodízio de água mais duro obriga bares e restaurantes a contratarem caminhão-pipa

Empresários têm recorrido ao serviço para poder abrir nos dias de maior movimento

O endurecimento do rodízio de água, que em agosto retomou o abastecimento a cada 36 horas, está obrigando bares e restaurantes de Curitiba a recorrerem aos caminhões-pipa para poderem funcionar nos dias de maior movimento.

A flexibilização das medidas contra a pandemia e a crescente demanda por diversão, que por meses ficou reprimida, impulsionou o consumo nos empreendimentos gastronômicos, mas levou os empresários a lidarem com a escassez de água provocada pela crise hídrica que afeta todo o Paraná, em especial a capital e sua região metropolitana.

“Basta um dia de movimento para a caixa d’água não aguentar até o dia seguinte, ainda mais agora na pandemia em que todo mundo está lavando as mãos o tempo todo”, diz Alyssa Aquino, sócia-proprietária do bar Yada Yada Yada, nas Mercês.

Para manter o boteco aberto nos dias em que o fornecimento de água foi interrompido, ela teve que recorrer ao caminhão-pipa. Foram três vezes só em agosto. O serviço custa até R$ 450 para 1.500 litros de água, quantidade que, em média, dura cerca de 48 horas.

“De domingo a terça, que são dias de pouco movimento, se não tiver água, nem abro. Mas de quarta a sábado são os melhores dias e não tenho como não abrir. Aí preciso chamar o caminhão”, explica Alyssa, que prefere arcar com esse gasto a ficar sem faturamento.

Para não ter que recorrer novamente ao serviço, ela já instalou mais uma caixa d’água e vai colocar outra até atingir a capacidade de 2 mil litros, o que nos cálculos de Alyssa vai ser suficiente para aguentar o rodízio de 36 horas.

Fabíola Nespolo, sócia-proprietária da Rua Pagu, conta que ao longo deste ano teve que manter a ruazinha gastronômica no Juvevê fechada em várias oportunidades. “A água é imprescindível. Não dá para abrir sem poder lavar as mãos ou dar a descarga”, aponta.

Ao todo, ela estima que ficou 15 dias sem funcionar por causa da falta de água, o que acarretou um prejuízo de cerca de R$ 15 mil. Ela recorreu ao caminhão-pipa num sábado de sol e calor em que os clientes já estavam com as reservas feitas. “Mas quase todo o lucro do dia foi para pagar o caminhão”, explica.

A empresária já dobrou a capacidade da caixa d’água nas últimas semanas e vai continuar ampliando até chegar a 1.750 litros, o que seria suficiente para aguentar a interrupção do serviço da Sanepar.

“A maioria dos restaurantes não tinha projetado estoque de água para 36 horas, mas no máximo para 24 horas”, diz o presidente da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), Nelson Goulart, que recomenda aos empresários a instalação de mais cisternas, inclusive para captação de água da chuva que pode ser usada para abastecer os banheiros.

A empresária Ana Priscila de Mello Raduy, sócia-proprietária do James, teme que os próximos meses serão problemáticos se a crise hídrica não for resolvida ou pelo menos amenizada. “Precisei do caminhão-pipa uma vez, mas estou trabalhando com 25% da capacidade de atendimento. No momento que puder voltar com 100% da capacidade de público [de 535 pessoas], que pode acontecer nos próximos meses com o avanço da vacinação, vai ser o caos”, alerta.

Nesta quinta-feira (16), o nível dos reservatórios que abastecem Curitiba e região metropolitana está em quase 50%, valor pouco superior ao registrado em 5 de agosto quando atingiu 48% e levou a Sanepar a reintroduzir o rodízio de 36 horas. A resolução já havia sido adotada no passado, mas não teve o mesmo impacto, pois o setor da gastronomia funcionava aos soluços por causa das medidas restritivas impostas pelo coronavírus.

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