Antes mesmo do Carnaval acabar o comércio já prepara suas gôndolas para uma das datas mais lucrativas do ano, a Páscoa. Supermercados forram corredores com ovos de chocolate de todos os tamanhos, cores, preços e confeitarias e lojas de festas preparam objetos de decoração, louças e embalagens.
Com a maior alta nos preços dos últimos seis anos, os chocolates industrializados tiveram mais que o dobro de alta nos preços e assustam os consumidores. A alternativa é optar pelas barras e bombons e usar a criatividade.
Começa então uma verdadeira corrida por cursos de ovos, bombons, sobremesas e doces feitos à mão, seja para baratear o custo da festa, seja para aproveitar a oportunidade para obter uma renda extra. A Páscoa feita à mão por confeiteiros e artesãos começa cada vez mais cedo nas lojas e cursos de gastronomia.
O chef Rafael Siqueira trabalha há 25 anos no segmento e afirma que a Páscoa é a segunda melhor data para venda de chocolates, bombons e produtos de confeitaria. Só perde para o Natal.
Roseli Candeo, chef confeiteira e professora dos cursos do Senac, concorda com ele e afirma que a busca por cursos nesta época do ano é sempre significativa, seja para ovos quanto para outros tipos de produtos, como doces e sobremesas.
“Esse ano, depois da pandemia, a procura está ainda maior”, afirma Siqueira. Depois das aulas digitais dos anos de pandemia, as pessoas estão procurando os cursos presenciais. “Cada ano a demanda está começando mais cedo.Tivemos cursos desde janeiro. A previsão é de seis turmas só no atelier do chef, fora os cursos ministrados nas confeitarias e cidades do interior do estado. “As pessoas, segundo ele, estão cada vez mais ansiosas.”
Quem procura esses cursos quer aproveitar a sazonalidade para obter uma renda extra, já que a Páscoa é uma festa de grande visibilidade social. Há também aqueles que procuram na arte de fazer ovos e bombons, o diferencial do trabalho artesanal, novas texturas e sabor e também aqueles que tentam driblar os altos preços dos produtos industrializados.
O confeiteiro quando aprende as técnicas ensinadas pode criar produtos personalizados, seja para adultos ou crianças, como os kits confeiteiros, nos quais a criança pode confeitar o seu próprio ovo, transformando o presente numa brincadeira.
Para Candeo, fazer ovos em casa pode ser lucrativo se a pessoa realmente quiser investir na produção em media escala. “Se a pessoa tiver pouco tempo disponível, como aquelas que trabalham durante o dia e querem dedicar poucas horas, a noite, por exemplo para produzir, têm que pensar bem e fazer o cálculo do custo, pois muitas vezes não vai compensar o trabalho nem as noites sem dormir”, afirma.
Justamente por isso Siqueira relata que é preciso estar sempre atualizado e acompanhar as tendências e as novidades que o Mercado da confeitaria oferece. “Neste ano”, relata, “a tendência são as lascas de chocolates branco e preto com frutas e castanhas, os recheios com flor de sal, o caramelo salgado e as latas personalizadas, que podem ter a logo de empresas, por exemplo.”
“Há que se considerar também que”, explica Candeo, “apesar de as crianças adorarem chocolate, a busca por produtos de Páscoa não tem como carro chefe o chocolate em si, mas os brinquedos dentro dos ovos, detalhes de decoração, pois as crianças valorizam o diferente.” Os adultos, segundo ela, também preferem o chocolate diferenciado, como os ovos de colher, os ovos trufados, “o chocolate puro não tem mais um lugar prioritário.
Além dos interessados em obter renda extra, há aqueles que querem aprender para dar um toque especial à Páscoa da família, quer fazer junto com os filhos, quer buscar a aproximação familiar através da confeitaria.
Sempre antenado, Siqueira participa de várias feiras durante o ano, justamente para procurar novos sabores, cores e texturas. “Hoje, não adianta mais fazer uma folhinha mimeografada com o nome dos ovos e os preços. Tem que ter planejamento, apresentação, boas fotos e tecnologia na forma de divulgar nas redes sociais”. Por isso, os cursos também exigem técnicas de planejamento e venda, além das de preparação dos ovos.
A assistente administrativa Simone Márcia Silva, uma das alunas do curso de Siqueira, conta que há uns quatro anos atrás começou a fazer ovos para os de casa. Mais tarde, em 2022, queria fazer algo que trouxesse alegria para as pessoas e começou a fazer trufas. “Aí tive a ideia de fazer também ovos e estabeleci alguns objetivos como a renda extra, entrar no mundo dos confeiteiros e fazer cursos na área”, relatou.
Márcia Silva percebeu que a renda extra não entrou, pois no início “gasta-se mais do que se lucra”, mas reconhece que adquiriu experiências que lhe possibilitaram pagar um curso de doceira, no qual aprendeu mais sobre esse Mercado. Disso tudo, ficou a lição de que o lucrar não é o mais importante e que fazer doces, bolos e ovos é investir em qualidade, sabor , além de trazer memórias inesquecíveis. “Aprendi que devemos nos inspirar naquilo que fazemos e eu coloquei no meu coração que quero me inspirar no sabor. Meu público é pequeno, mas não vou desistir”.
Sobre o/a autor/a
Rosa Maria Dalla Costa
Rosa Maria Dalla Costa é jornalista e advogada, professora titular aposentada do departamento de Comunicação Social da UFPR e dos programas de pós graduação em Educação e em Comunicação. Atualmente, é professora do curso de Direito da Faculdade Inspirar. Apaixonada pela arte de cozinhar, receber e organizar festas e eventos. Frequentadora de cursos de cozinha dos mais variados no Brasil e na França Chef de Cozinha formada pelo Centro Europeu.