Uma trágica herança – e inclui até genocídio 

E chegamos à verdade dos fatos – terrivelmente lamentáveis e, mais, não foi por falta de alertas e avisos em se tratando de alguém que tratou a Covid-19 como gripezinha...

Como se sabe, e para lamentar, genocídio vem a ser o extermínio proposital que aniquila, mata uma comunidade, um grupo étnico ou religioso, uma cultura ou civilização. Massacre que atinge um grande número de pessoas, populações ou povos. E há diferentes formas de extermínio: a pobreza ou a fome em certas regiões, o sequestro permanente de crianças e refugiados são exemplos dessa tragédia. A palavra genocídio deriva da junção de geno – do grego genus, que significa raça, e do sufixo cídio, do latim caedere, com sentido de matar. 

Isto posto, e com o devido repúdio, o (des)governo bolsonarista voltou a ser assunto mundo afora por conta do extermínio dos Yanomâmi. E foi assunto de capa da revista Carta/Capital, edição 1244, que circulou no dia 1.º deste mês. Na capa, apenas uma fotografia – o cadáver de um índio e o título, em caixa alta: GENOCÍDIO.  

A reportagem, de Fabíola Mendonça: SOLUÇÃO FINAL – o governo Bolsonaro deu guarida à ação deliberada de extermínio dos YANOMÂMI.  

– Há indícios fortíssimos de crime de genocídio, avalia Flávio Dino, ministro da Justiça.  

Outra foto, de uma criança dormindo numa rede improvisada, traz a legenda:  

– Crianças desnutridas, assim como os idosos, fazem lembrar os horrores dos campos de concentração.  

O motivo? Lamentável, mas altamente previsível. Voltando ao texto da reportagem: 

– A principal causa da tragédia em Roraima, excetuada a ação estatal deliberada, é a presença crescente e incontrolável de mineradores ilegais na maior terra indígena do País. São cerca de 20 mil garimpeiros, fortemente armados, em pé de guerra e protegidos pelas forças de segurança, contra 28 mil Yanomami abandonados à própria sorte. Uma batalha desigual. Uma batalha desigual em que os invasores matam, estupram, aliciam jovens e transformam em deserto o entorno. Os rios estão contaminados pelo mercúrio, o que afeta o plantio, a caça e a pesca. A presença dos neobandeirantes acelera a proliferação de malária, dengue, pneumonia, diarreia e inúmeros tipos de verminose.  

– O que estamos vendo é quase uma repetição de fatos ocorridos na mesma região na década de 1980, retrato do completo abandono do ponto de vista sanitário e de saúde da população indígena. E, pior ainda, a destruição das formas de vida tradicionais por impossibilidade de mantê-las. Um quadro assim faz lembrar as grandes secas e a fome na África. Só que aqui temos claramente uma inanição ou mesmo uma ação negativa do governo federal que começa a se mostrar ali por volta de 2017, quando se inicia a desestruturação naquela região das frentes ambientais, incluindo o desmonte da Funai. Esse quadro é aprofundado de forma muito aguda nos quatro anos de Bolsonaro, descreve Carlos Fausto, antropólogo e professor do Museu Nacional do Rio de Janeiro

Uma crise humanitária 

Durante o mandato do ex-capitão, o colapso do sistema de saúde indígena aprofundou a crise humanitária. Ao menos 570 crianças Yanomâmis morreram por doenças tratáveis no período, aumento de cerca de 30% em relação aos quatro anos anteriores.  

Bolsonaro, Hamilton Mourão, Damares Alves e o general Augusto Heleno figuram entre os responsáveis pela crise humanitária.  A solidariedade é urgente. A punição, incontornável – como destaca Fabíola Mendonça. 

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

À minha mãe

Aos 50 anos, a vida teve a ousadia de colocar um tumor no lugar onde minha mãe gerou seus dois filhos. Mas ela vai vencer

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima