Saúde não é mais um direito de todos e dever do Estado? 

Por conta da herança bolsonarista, Lula tem muitos desafios – na Amazônia, o garimpo destrói aldeias e impede socorro médico a indígenas

Em visita a Roraima, o presidente prometeu atendimento médico aos povos Yanomami. Uma tragédia indígena por conta do banditismo do garimpo ilegal na Amazônia (ilegal? não, não para o ex-presidente da gripezinha).  Mas, acima de tudo (e de todos) consta da Constituição, a suprema lei

A saúde é direito de todos e dever do Estado.  

No entanto, com Bolsonaro, o tempo do verbo mudaria: era a suprema lei… Embora ele, o seu Jair, agora seja carta fora do baralho, restou uma herança macabra.   

Mais de 100 pedidos ignorados 

E temos entre os desafios da herança:  

– O transporte de profissionais de saúde às aldeias Yanomami foi bloqueado por garimpeiros. Liderança indígena diz ter feito mais de 100 pedidos de ajuda à gestão Bolsonaro, que nunca foram atendidos. Apesar das doenças e de mortes que poderiam ser evitadas, a ida de profissionais da saúde às aldeias foi bloqueada por garimpeiros nos últimos anos – “eles assumiram o controle de polos de saúde e de pistas de pouso”, segundo o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana, Junior Hekurari Yanomami.  

O terrível drama de 371 aldeias  

Os profissionais de saúde precisam se deslocar de avião para conseguir atender 95% da população Yanomami, espalhada por 371 aldeias isoladas e, assim, de difícil acesso.  

– Os garimpeiros tomaram bases de saúde, botaram fogo em uma delas e tomaram as pistas de pouso. Eles estão lá armados com metralhadora controlando 7 pistas de pouso dentro do território, denuncia o indígena. 

Muitos avisos e alertas 

Por conta do jornalismo plural, há revistas semanais que merecem, depois da leitura, o respeitoso destino de um livro, ou seja, a estante de obras – para recomendar e guardar para consultas. Caso da Carta Capital, que, na edição 1235, de 23 de novembro de 2022, isso mesmo, do ano passado, estampa na capa uma manifestação bolsonarista com foto de Tércio Teixeira, da AFPAgência France-Presse. O título, em caixa alta:  

LOUCOS OU FASCISTOIDES? 

Os radicais bolsonaristas converteram os quartéis em muros para suas lamentações.  

E, no editorial (HERANÇA MALDITA), Mino Carta, depois de alfinetar a tal República de Curitiba, ela mesma, não deixa por menos:  

– Insatisfeita com o resultado das recentes eleições, uma porção conspícua de eleitores invoca a proteção dos quartéis com ímpeto mussoliniano.  

Nem morto nem enterrado 

Ainda lamentando – e voltando no tempo: no ano passado, mais precisamente no dia 23 de novembro, a edição 2756 da revista ISTOÉ destacava em texto de Ricardo Kertzman: 

– Não. O desejo pelo golpe não passou. Há coisas previsíveis e coisas altamente previsíveis. Os autoritários do bolsonarismo combalido, combalido, mas longe de morto e muito menos enterrado, invocam a proteção dos quartéis com o ímpeto mussoliniano

E a Carta Capital, edição 1241, da semana retrasada, com o título A posse do líder, não deixa por menos. Mino Carta: 

– A posse do líder. Lula inicia seu terceiro governo buscando se livrar do entulho bolsonarista. A fuga de Bolsonaro propicia o feliz encontro de Lula com o seu povo. 

Rios contaminados 

Tragédias e mais tragédias: por conta de (mais uma) dolosa omissão, Bolsonaro é diretamente responsável por autorizar, incentivar e proteger o garimpo ilegal nas terras indígenas Yanomami e em outras regiões da Amazônia. Deputados afirmam que a atitude de Bolsonaro contribuiu de maneira decisiva para a “contaminação dos rios (mercúrio) e, consequentemente, isso resultou em impactos na alimentação (pesca) e nas condições sanitárias (saúde) dos povos tradicionais que vivem e sobrevivem nas áreas onde não deveria haver garimpos, legais ou ilegais”.  

Recorrendo à Justiça 

A representação criminal, como se sabe, é uma manifestação da parte ofendida – a vítima – deixando explícito o seu desejo de ver a punição do acusado ou do investigado com relação ao delito praticado. E já temos uma representação que inclui todos os ex-presidentes da Funai durante o governo Bolsonaro – período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. A representação foi assinada pelo nosso parlamentar Zeca Dirceu, Alencar Santana (SP), Maria do Rosário (RS) e Reginaldo Lopes (MG).  

Na representação, defendem que esses gestores são “diretamente responsáveis, por ação ou omissão, pelas mortes e infortúnios vivenciados pelos povos Yanomami e outras comunidades indígenas e, assim, deverão ser qualificados e responsabilizados”. 

PS (indispensável):na revista ISTOÉ desta semana o assunto de capa são os atos terroristas em Brasília: em entrevista exclusiva, o ministro Paulo Pimenta, da Secom, afirma: “Há indícios de que agentes das Forças Armadas foram cúmplices”. E, investigado como um dos autores dos ataques de 8 de janeiro e em mais quatro inquéritos no STF, Jair Bolsonaro pode ser detido. Após a descoberta de uma minuta golpista na casa de seu ex-ministro da Justiça, a situação também se agravou no TSE, que deve torná-lo inelegível. A punição é a única forma de interromper a incitação ao golpe.  

Ainda da capa: uma foto de Bolsonaro escondendo o rosto e o título QUANDO ELE SERÁ PRESO?

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