O seu voto tem ressonância 

Olê olê olê olá

Na véspera da eleição parece meio torpe escrever sobre música. Não exatamente fútil ou banal, só fora de hora. Mas então, me dei conta da presença da música em todo esse processo eleitoral e resolvi escrever sobre isso.

No dia 17 de setembro, quando o Lula veio a Curitiba, fui vê-lo. De onde eu estava não dava para ouvi-lo direito, tinha muita gente, as pessoas não paravam de falar entre si e tinha um sol estalado na cabeça de todos nós. Mas, todas as vezes que alguém começava a cantar, a música se tornava uma onda. 

É como se houvesse um espírito de comunidade ao redor das melodias. A música chama as pessoas, as convoca a  estarem presentes e em união. O som toma todos porque atravessa os corpos. Quando a minha voz se soma à sua voz, há no ar uma onda sonora que materializa o que somos, e que chama outros a serem conosco. 

Sagaz quem teve a ideia de criar hinos nacionais. Porque mesmo que a gente cante palavras com uma certeza receosa dos significados, afinal aprendemos a decorá-las ainda crianças, basta enunciá-lo aqui para que na sua cabeça você ouça: pam pam ram pam pam, pam pam ram pam pam, pam pam ram pam pam, PAM… (depois me conta se você leu no ritmo, rs).

Silvio Ferraz explica, no texto Apontamentos sobre a escuta musical, que a música não trabalha com sons e silêncios, mas com ideias musicais que existem independentemente da presença física do som. A música está dentro de nós, na nossa memória e imaginação, e quando cantamos algo que seja instrumental estamos fazendo a ideia musical existir, mesmo que não estejam presentes os sons pensados para comunicar a música. Ela é maior que isso. 

Música e política são nosso cotidiano. Quando saímos na rua, música e política nos atravessam o tempo todo, quer queira, quer não. A pessoa que dorme sob a marquise do Teatro Guaíra talvez nunca tenha entrado lá, mas certamente acorda com os carros de som que habitam o centro. 

No mundo em que vivemos não há como escapar. “A época é política”, disse a poeta:

“O que você diz tem ressonância,
o que silencia tem um eco
de um jeito ou de outro político”.

E se é isso o que há, o que eu desejo para os próximos quatro anos então, é que música e política possam se relacionar melhor. Possam ajudar-se a coexistir de maneira saudável. Possam ser feitas com e para as pessoas, todas elas.

Lula, no dia 17 do mês passado, pediu aos artistas que estejam preparados para ter muito trabalho caso ele seja eleito. Eu realmente conto com isso. Neste domingo, lembre-se: tem muita música pública e inacessível neste país. Muita instituição musical pública sucateada. Muita gente com salário atrasado, ou sem reajuste. Ainda dá tempo de pesquisar, especialmente sobre os cargos parlamentares, e votar melhor. 

Bora pra frente.

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