‘Fafanático’ de carteirinha: as histórias de um fã de Fafá de Belém

Diego Cardoso com Fafá de Belém, em 2019, na cidade de Porto Alegre (RS). (Foto: Acervo pessoal)
A paixão de Diego Cardoso pela musa é tão forte que motiva pagar pequenas fortunas para ir a shows e ainda ser visto como louco

O poder que um artista tem de mobilizar fãs ultrapassa os limites convencionalmente estabelecidos como racionais. Para além das milhares de pessoas que vão aos shows, os sentimentos perenes que composições, melodias e performances suscitam em admiradores intensos são o que os levam a fazer “loucuras” em nome dos ídolos.

Entre sósia de cinco décadas e fã com mais de 300 shows vistos, destacamos a história de Diego Cardoso. O “fafanático”, como se descreve, já perdeu a quantidade de vezes que acompanhou Fafá de Belém ao redor do Brasil. Fã da cantora desde a infância, Diego já virou um companheiro querido da paraense e de sua equipe.

Diego é gaúcho, nascido e habitante de Pelotas, a 260km da capital Porto Alegre. Com 37 anos, o fã carrega o jeitão leve e descontraído para falar de tudo, especialmente da grande admiração que tem por Fafá. Sorri com a voz e faz questão de marcar as frases com expressões típicas da região.

Fez amigos, como os companheiros inseparáveis Everson, Júlio e Roberta, e até inimizades nos quase 20 anos de estrada acompanhando a cantora. Em todas as ocasiões, leva presentes a ela, que são recebidos com carinho e com a risada característica da cantora. Em 2007 e 2019, foi demitido de dois empregos por se ausentar do trabalho para ir a shows dela.

Mais tranquilo, Diego hoje trabalha em uma empresa que vende jazigos verticais na cidade. “Trabalho num cemitério e faço dele uma festa”, brinca. A atual função o impediu de ver o último show da cantora em Curitiba, em março deste ano, mas segue na ativa em todos os espetáculos aos quais pode ir.

“Meus amigos me chamam de louco. Já estou com uma pequena ‘fortuna’ investida nos próximos shows”, conta ele ao exibir os ingressos comprados para as próximas apresentações da cantora.

No ano que vem, Fafá será homenageada pela escola de samba paulistana Império de Casa Verde. Diego estará lá e faz questão de desfilar; conta isso enquanto ao fundo escuta marchas tradicionais do grupo.

Em entrevista ao Plural, Diego conta de seu “fafanatismo” e histórias inusitadas que o acompanham em todos esses anos de dedicação e amor à cantora.

Como e quando Fafá de Belém surgiu na sua vida?
A Fafá “invadiu” minha vida num domingo de 1995. Eu tinha 9 anos quando despretensiosamente assistia ao Domingão do Faustão. Era lançamento de um disco ao vivo. Lembro-me como se fosse hoje, ela cantou “Bandoleiro”. Foi amor e “fafanatismo” à primeira vista.

Qual foi o primeiro show dela ao qual você pôde ir?
Meu primeiro show foi no Canecão, no Rio de Janeiro, em 4 de abril de 2006. São 1800km de distância de Pelotas, mas eu decidi que queria ir. Nunca tinha saído de Pelotas, nunca tinha ido a Porto Alegre, nunca tinha viajado de avião. Eu decidi e comprei passagem aérea, reservei o hotel e fui. Chegando no Rio, conheci um extinto grupo de fãs, então chamado Fã-clube Tua Presença.

Esse fã-clube ganhou umas entradas para o show, mas esses ingressos davam direito a uma mesa lá na entrada do Canecão. Eu costumo dizer que é na porta do banheiro, quase na saída, e o Canecão era imenso.

Eu entrei e sentei lá, o palco era superlonge. Pensei comigo: “mas que merda, ‘tchê’, daqui não vou ver a cantora de perto. Eu preciso ver a Fafá, preciso falar com ela”. Nisso, passou um segurança por mim e eu o chamei e disse: “tchê, eu vim de Pelotas, sul do Rio Grande do Sul,no fim do Brasil! Eu preciso chegar perto da Fafá. Eu preciso falar com ela. Eu preciso vê-la cantando de perto”.

Ele me disse que tinha um segredo: quando o show começasse, eu tinha que sair agachado e descer uma escada. Eu desci, fui agachadinho e cheguei na primeira fila. Cheguei ali na escadinha, só que, mesmo assim, ficava a uns metros do palco. Eu não estava satisfeito ali, então simplesmente me sentei no chão e fui me arrastando por ele e fiquei na frente do palco, nos pés da Fafá!

Ali eu cantava tudo muito louco, emocionado, apaixonado e ela me olhava e achava meio estranho. Depois ela riu e foi muito engraçado. Enfim, acabei no camarim e, desde então, 4 de abril de 2006, eu me tornei ainda mais fã, mais apaixonado e mais encantado por ela.

A quantos shows dela você já foi? Quais cidades pôde conhecer nessa trajetória toda?
Guri, essa pergunta é impossível responder. O show que mais assisti foi “Tanto Mar” (sobre a obra do icônico Chico Buarque). O CD desse show foi lançado em comemoração aos 30 anos de carreira da Fafá. “Tanto Mar” eu assisti mais de 15 vezes (temporadas de sexta, sábado e domingo no Rio). Teve show que a Fafá me viu na primeira fila e perguntou: “Você não cansa de mim, não?”

Conheci as cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro (que vou uma vez por ano desde 2006 para curtir e, obviamente, assistir à Fafá), Curitiba, em 2013, e São Paulo, em 2014.

Conte algum caso inusitado envolvendo sua idolatria pela cantora.
Nos dias 29, 30 e 31 de maio de 2008, a Fafá fez uma pequena temporada no Teatro Rival, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Eu, mais uma vez, fiz a minha malinha, arrumei tudo e fui para o Rio para assisti-la nessas três noites. Nesse período, teve um surto de dengue no Brasil e tive a doença, muito, muito forte.

Fui uns dias antes para aproveitar a cidade e curtir, e, exatamente nos dias de show, fiquei muito mal, com muita dor no corpo, em tudo, e fui ao médico. Ele me diagnosticou erroneamente com infecção respiratória, e eu disse a ele: “doutor, eu preciso ir ao show da Fafá. Eu estou aqui pelos shows da Fafá”. Então ele me disse que poderia ir, mas teria que usar máscara. Imagina isso em 2008. Eu andava no metrô feito um alienígena!

Eu de máscara, com 1,80m de altura e um buquê enorme de girassóis (a flor preferida dela). Todo mundo me olhava! No primeiro ou no segundo show, eu sentia muito calor, estava quente e eu tirava a máscara. A Fafá parava de cantar e fazia um gesto pra mim, do queixo até o nariz, como se fosse para eu colocar novamente a máscara. No camarim, a Mariana Belém (filha de Fafá) chegou em mim dizendo que a Fafá ia brigar comigo, que eu precisava ficar de máscara. Quando a Fafá veio falar comigo, ela me disse: “bota a máscara!”.

O que faz da Fafá de Belém uma artista tão querida e especial para você?
‘Tchê’, o que torna para mim a Fafá artista e cantora mais do que especial é o fato de ela ser exatamente aquele ser humano que eu vi na televisão pela primeira vez em 1995. Em 2006, conheci pessoalmente aquela mesma mulher com a mesma simpatia e simplicidade. Conheci outras pessoas famosas no meio artístico durante essas minhas andanças pelos shows e camarins da Fafá. Eu conheci pessoas que, pessoalmente, não são nada daquilo que se apresentam. Isso desconstrói completamente a imagem de pessoa querida, de pessoa simpática.

Cara, a Fafá é simplesmente fenomenal. Se ela gosta de algo ou alguém, ela gosta, ela é simpática, ela é querida. E se ela não gostar de uma atitude minha, tua ou de quem quer que seja, ela demonstra da mesma forma.

Qual música e álbum da cantora são seus favoritos?
Meu álbum favorito chama-se “Coração Brasileiro” (1998) e minha música favorita é “Pirilampo”, do mesmo disco. Este foi o álbum que me fez ter a certeza de que precisava conhecer pessoalmente Fafá de Belém. Lembro-me como se fosse hoje quando Fafá lançou este CD, no Programa Hebe. A Fafá estava grávida, feliz e linda! Dias depois, sofreu um aborto.

Qual o maior “perrengue” que já passou para acompanhar a Fafá?
A Fafá anunciou um show no Rio de Janeiro, no Vivo Rio, em 16 de fevereiro de 2019. Desde setembro de 2018, eu passei a pedir folga para a minha gerente. De lá em diante, ela só me enrolava, me enrolava e nunca me disse se eu estaria liberado para ir assistir à Fafá.

Tivemos todas as vendas e atendimento de final de ano, tivemos todas as comemorações e, finalmente, chegamos em fevereiro. E nada da resposta de que eu poderia ir para o Rio de Janeiro assistir a Fafá. O que foi que eu fiz? Comprei minhas passagens aéreas, reservei hotel, já estava com o meu ingresso na primeira fila desde setembro, quando o show foi anunciado. Na quinta-feira daquele final de semana, fiz a minha mala sem dar notícia alguma e parti para o Rio de Janeiro. 

Chegando lá, eu soube que a Fafá ia divulgar esse show no programa Encontro, que nesse dia foi apresentado pela Patrícia Poeta. Então eu mandei uma mensagem de texto para o Fabio Buitvidas, guri que é o braço direito e esquerdo, perna direita e tudo da Fafá. O Fabio é como o filho dela, ela não dá um passo sem o auxílio dele. Mandei mensagem para ele dizendo: “Fabinho, tem como tu me ajeitar para eu entrar no Encontro?” Quando eu desembarquei, recebi a resposta dele: “Quando chegar, venha para o Projac e diga que você é convidado da Fafá.”

Desembarquei e fui para o Encontro, sem avisar a empresa nem nada em Pelotas. Eu sumi naquele fim de semana, o que eu ia dizer na segunda? Não sei, também não interessa. Eu sei que fui.

Minha gerente ou algum conhecido ou várias pessoas diferentes me viram na Globo, ao vivo no Encontro, e ela recebeu inúmeras fotos. Quando cheguei na segunda-feira, eu tava despedido. Ou seja, fui despedido pela segunda vez por “culpa” da Fafá (risos).

Além de acompanhá-la em shows, costuma guardar discos e outros objetos relacionados a ela?
Atualmente tenho todos os CDs e LPs possíveis. Revistas, matérias de jornal e outros produtos eu guardava nos anos 90. Hoje, não mais. É tão incrível ser reconhecido por ela, ser chamado pelo nome ou simplesmente “Didi”, como carinhosamente ela me chama. Simplesmente não tem preço!

No que a ‘Musa das Diretas Já’ ainda pode inspirar os brasileiros em 2023, após momentos delicados para nossa democracia?
A ‘Musa das Diretas Já’ não só pode inspirar como inspirou e lutou, com a mesma garra e afinco de 1984, entre 2018 e 2022. Lutou e gritou em seu palco pelo mundo que ninguém é mais forte que o povo brasileiro, sofrido, humilhado e esquecido pelo desgoverno Bolsonaro. Em outubro de 2022, gritou para que todos ouvíssemos: “Sou Fafá de Belém, cantora, compositora, ativista, mãe, cristã, católica, devota de Nossa Senhora, avó e brasileira. Dia 30, voto Lula!”. Julgada, achincalhada por muitos antidemocratas, declarou seu voto pelo amor e pelo povo!

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima