“Uma COP decepcionante, como a maioria”

Diretora executiva do Instituto Internacional Arayara comenta também o lançamento de cartilha para uma transição energética justa

Em novembro mais de 46 mil pessoas participaram da COP 27, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, no Egito. O evento reuniu 112 chefes de estado e visitantes incluindo ministros, cientistas, decisores políticos, membros da sociedade civil, ativistas, entre outros.

O encontro recebeu duras críticas de especialistas na área de preservação ambiental, entre elas a do próprio secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres. A maior reclamação foi que o objetivo do evento, que era discutir a redução drástica das emissões de gases de efeito estufa (GEE) não aconteceu. “Precisamos investir maciçamente em (energias) renováveis e acabar com nosso vício em combustíveis fósseis”, declara.

ONGs também destacaram aspectos negativos da conferência, como é o caso do grupo WWF-Brasil, que publicou um relatório com observações gerais no próprio site da organização. Uma das críticas foi ao documento apresentado por empresas gigantes dos setores de carne, óleo de palma e soja; que sugeriram um caminho para evitar o aumento da temperatura do planeta além de 1,5˚C (teto de aquecimento global aceitável). “A proposta foi apelidada de ‘rota para o inferno’ pela falta de ambição e compromisso real e por desconsiderar a proteção do Cerrado brasileiro, um dos grandes sumidouros de carbono do Brasil”, destaca a publicação. 

Outra organização que marcou presença foi o Instituto Internacional Arayara, de Curitiba, que há 30 anos atua com foco na educação ambiental e ativismo político em prol de matrizes energéticas mais eficientes. Em entrevista por videochamada para o Plural, a diretora executiva do Arayara, Nicole Oliveira, apresentou um panorama sobre a conferência. “Uma COP decepcionante, como a maioria”, destaca. De acordo com a diretora, as ações precisam ser mais sólidas para surtirem efeito na redução das mudanças climáticas no mundo. “Não temos mais tempo”.

Um dos aspectos negativos, foi o texto final, que não seguiu as orientações para reduzir ou eliminar a utilização de combustíveis fósseis. Entre as soluções apresentadas pelo Arayara está a Cartilha para uma Transição Energética mais Justa do Petróleo, lançada durante a COP. O material envolveu academia, sindicato dos petroleiros e terceiro setor.

A cartilha destaca que a geração de energia é responsável por 73,2% de todos os GEE emitidos artificialmente para a atmosfera, sendo 78% originários de combustíveis fósseis. No Brasil, por exemplo, a geração de energia interna por meio de combustíveis fósseis representa 53,3%.
E os números continuaram crescendo. Em 2021, houve um aumento de 24% na geração termelétrica (eletricidade gerada na obtenção de calor, geralmente proveniente da queima de combustíveis fósseis) em comparação a 2020 no país.

Entre os oito princípios apresentados no documento está a proposta de diminuir – de forma gradual – a exploração, produção e comercialização de combustíveis fósseis em áreas de expansão do petróleo da Petrobras. Além disso, propõe-se uma maior participação popular em situações que envolvam o meio-ambiente e investimentos em energias renováveis.

O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) participou da elaboração do material. No discurso realizado na COP, o diretor do Sindipetro-RJ, Rodrigo Esteves, reforçou que a Petrobrás é uma empresa com função social com 60% da participação do governo. “É muito importante, principalmente para a transição energética, usarmos a renda petrolífera para desenvolver energias renováveis no Brasil. Se a Petrobrás não fizer isso, quem vai fazer?” e o diretor complementa: “Empresas privadas priorizam o lucro, elas não têm a função social.”

A cartilha foi entregue ao governo de transição federal do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a diretora, “a ideia é oferecer o nosso conhecimento e nossa visão social para o governo propondo esta transição (energética justa)”.

Em discurso na COP, Lula mostrou uma posição favorável em relação ao tema. “Conjugar desenvolvimento e meio ambiente também é investir nas oportunidades criadas pela transição energética, com investimento em energia eólica, solar, hidrogênio verde e biocombustível. São áreas que o Brasil tem um potencial imenso, em particular, o nordeste brasileiro que apenas começou a ser explorado”, destaca o presidente eleito.

Fundo de perdas e danos

Um momento histórico da COP27 foi o anúncio de um fundo de perdas e danos, com o objetivo de apoiar os países em desenvolvimento e os mais vulneráveis, que sofrem os efeitos causados pelas mudanças climáticas. Os países aceitaram o “compromisso” de discutir a operacionalização do Fundo na COP 28, em 2023, nos Emirados Árabes. Para o WWF-Brasil, “a criação deste fundo é uma grande vitória das nações mais pobres, notadamente o grupo de pequenos países insulares, que há décadas pleiteiam a existência de um mecanismo de financiamento específico para a dramática situação que eles vivem”.

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