Inação de Ratinho Junior põe em risco trabalho da imprensa

Sem medo de repercussão, bolsonaristas agridem jornalistas por estarem trabalhando e recorrem à polícia para protegê-los

A resposta praticamente inexistente do Governo do Paraná, liderado pelo bolsonarista Ratinho Junior (PSD), frente aos atos golpistas em todo estado coloca em risco o trabalho de quem atua para garantir o direito à informação da população. Na segunda, dia 9, depois de dois meses inerte, as polícias do Paraná ensaiaram um movimento para desmontar os acampamentos em frente a quartéis do estado.

Em frente a Repar, em Araucária, onde os golpistas destruiram uma via de acesso e atuaram para impedir a circulação de caminhões, duas pessoas foram detidas, levadas para assinar Termo Circunstanciado por desobediência e liberadas. No mais, a polícia agiu mais como guarda dos golpistas do que como defensora da população.

Enquanto a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP) arrasta os pés e faz vista grossa, vândalos descontrolados agridem carros e pessoas impunemente. São frequentes relatos da população de Curitiba atacada ao passar em frente ao Quartel do Bacacheri. Mas se essas agressões podem ser atribuídas a discordâncias ideológicas e provocações (não que exista justificativa para agressão física nessas circunstâncias), outro tipo de agressão também acontece com frequência nesses locais: a contra profissionais da imprensa. De todo tipo de veículo de imprensa.

Na segunda, duas pessoas da equipe do Plural foram agredidas por bolsonaristas próximo do Tiro de Guerra, no Pinheirinho, onde os golpistas tiveram liberdade para instalar grandes tendas, ocupar o espaço público e atacar a democracia sem serem incomodados desde 30 de outubro. A repórter e a videomaker do jornal estavam a uma quadra do local, mas foram abordadas por um grupo que, descontrolado, queria impedi-las de registrar imagens.

Aos gritos, disseram que a imprensa iria chamá-las de “terroristas” e procuraram ajuda junto a uma viatura da PM. Uma das mulheres do grupo usou um guarda-chuva para bater na repórter Aline Reis, que experiente, evitou a agressão. Parada ao lado de toda essa situação, a viatura da PM permaneceu estacionada com os integrantes dentro.

Nesta terça, o também repórter Erick Mota, do Regra dos Terços e Record PR, foi ameaçado por bolsonaristas em Curitiba. Uma pessoa que acompanhou a situação e estava filmando a ação dos golpistas foi agredida por uma mulher, que também ameaçou processar os dois.

Não são episódios isolados. A imprensa tem sido alvo constante da fúria dessas pessoas. Atuar na reportagem é, claro, cheio de riscos. Mas em 20 anos de profissão nunca vi tanta fúria e descontrole. Colegas de profissão já tiveram celulares arrancados das mãos, foram empurrados, xingados, agredidos.

No Plural, como nos dedicamos menos a pautas do dia (como protestos) e mais a grandes reportagens, estamos menos expostos. Mas o caso de ontem já é a segunda vez que agridem um jornalista nosso. Em 2019 a repórter fotográfica Georgia Prates (que assumirá uma vaga de vereadora em fevereiro, na Câmara de Curitiba) cobria um protesto em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná quando foi agredida. Foi no mesmo protesto em que a turba, ensandecida, arrancou uma faixa que pedia respeito à Educação do prédio.

A agressão a jornalistas é parte importante da máquina da desinformação. Ao barrar jornalistas os golpistas tentam manter o controle da – para usar uma palavra que eles gostam – narrativa, que divulgam em suas redes sociais e canais no Youtube. Tal narrativa, como vemos frequentemente, tem pouca adesão à verdade. Só nos últimos dois dias esses mesmos golpistas tentaram promover histórias absurdas, como a de uma suposta senhora que teria morrido num dos locais de detenção em Brasília e a de que a depredação de domingo foi promovida por “petistas infiltrados”.

Mas mais do que isso, a violência contra a imprensa é um desrespeito ao direito do cidadão se informar. A imprensa é parte importante da democracia. Ao se sentirem livres para agredir os trabalhadores do jornalismo, os golpistas deixam claro que ouviram alto e claro a mensagem do governador: de que seus crimes contra a democracia passarão impunes. É sintomático que, enquanto gritavam e agrediam nossa jornalista, os golpistas procuraram uma viatura da PM para ajudar eles contra a vítima.

Resta saber se o governador irá esperar agressões mais graves para fazer com que os R$ 4,7 bilhões gastos com Segurança Pública no estado se revertam pelo menos um pouco em proteção, de fato, a população. Os sinais, fortes sinais, emitidos até o momento, indicam que é provavelmente isso que ele irá fazer. Com isso perdem a imprensa, a população e a democracia.

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