A experiência

Leitora conta como foi encarar os sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido”, a obra-prima de Marcel Proust, ao longo de cinco meses

Texto: Marleth Silva Fotos: Irinêo Baptista Netto

O livro “Em Busca do Tempo Perdido” é um romance longo e às vezes difícil, dividido em sete volumes que somam algo em torno de 2.500 páginas (!). Ele é também a obra-prima de Marcel Proust (1871–1922).

A leitora A jornalista Marleth Silva encarou o desafio de ler todas as 2.500 páginas e fez isso ao longo de sete meses. Ela conta que, já na página 62 do primeiro volume, encontrou um trecho que parecia intransponível.

A armadilha No trecho, o narrador descreve a igreja da cidadezinha de Combray onde via a missa quando era criança. A leitura é difícil pela quantidade de detalhes descritos no texto. São tantos que fica fácil de se perder.

O salto “Meu cérebro se desligava da leitura e eu era obrigada a recomeçar”, conta a jornalista. “Então optei por pular o trecho intransponível, que eu estava encarando como um mangue em que só podia afundar.”

É difícil Saltar o trecho ruim funcionou e, a partir disso, a leitura fluiu. “Tive novos momentos de dificuldade para avançar nos livros 5 e 6, mas foram menos angustiantes”, diz Marleth.

Mas é bom Os volumes 5 e 6 são, na opinião da jornalista, os mais cansativos, mas ambos têm grandes momentos – como a morte de Bergotte, no livro 5, e as reflexões sobre a dor provocada pelo abandono da amante, no livro 6.

A revelação Um dos segredos para percorrer as páginas de Proust é aceitar o fato de que um livro tão longo quanto “Em Busca do Tempo Perdido”, e que exige tanto empenho do leitor, demanda mais de uma leitura.

O melhor Reler Proust talvez seja uma experiência mais agradável do que ler pela primeira vez por causa de uma construção espiralada em que uma linha no primeiro livro funciona como um resumo de algo que aparece nos seis volumes seguintes.

“A realidade só se forma na memória”, escreveu Proust.

Serviço “Em Busca do Tempo Perdido”, com tradução de Fernando Py, saiu mais recentemente pela editora Nova Fronteira. Há também uma edição da Biblioteca Azul, com tradução de Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade e outros.