Vila Torres: um lugar de pertencimento

Uma comunidade além do estereótipo, repleta de cultura e memória

“Quando eu cheguei aqui nos anos 70 não tinha nada, só tinha barraco. Eu morei numa casa coberta de pneus. Então a maior vitória foi quando eu, com a Associação de Moradores, conseguimos abrir as ruas, trazer água, luz, melhorar as casas e melhorar toda a vida aqui.”
Arminda, moradora da Vila Torres.

“As casas melhoraram, as ruas. O momento mais feliz aqui foi quando a gente ganhou os papéis da prefeitura, regularizou os terrenos e agora temos as escrituras das nossas casas. […] Gosto muito de morar aqui.”
Seu João, morador da Vila Torres.

“O meu momento preferido foi quando veio água, luz, escola e agora a gente tem tudo o que precisa para viver aqui na Vila. Antes não tinha nada disso, as casas e as ruas eram muito feias. Era muito difícil, não tínhamos nada. Então, para mim, esse foi o momento mais feliz.”
Maria Aparecida da Silva, moradora da Vila Torres.

“Está cada vez melhor. Tem aula aqui agora, com todo mundo. Antes não tinha muita coisa boa. Eu gosto muito daqui!”
Maria Sampaio, moradora da Vila Torres.

Localizada entre os bairros Jardim Botânico, Guabirotuba, Prado Velho e Rebouças, a região da ex-ocupação irregular já se chamou “Vila Pinto” e “Vila Capanema”. Atualmente conhecida como “Vila Torres”, é a comunidade mais famosa da capital paranaense e também a mais antiga, com mais de 66 anos de existência.

Também conhecida por sua localização, a Vila Torres é uma espécie de lembrança  — ao entrar e sair da cidade — de que a justiça social precisa passar por ali também. As imagens de um lugar de miséria e de marginalidade são constantemente atribuídas à região. Os moradores, no entanto, resistem e se esforçam para mostrar que a Vila Torres é uma comunidade digna como qualquer outra.

De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras de 2014, a Vila Torres divide com o Parolin o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Curitiba; 0,623, com expectativa de vida de 69 anos. Apesar dos desafios, a vila é inspiração para outras comunidades quando se trata de organização comunitária e manifestações culturais.

O elo afetivo entre as pessoas da comunidade e o território é muito forte, pois pertencer a um lugar envolve mais do que somente estabelecer moradia. O sentimento de pertencimento surge dos encontros cotidianos, da rotina dos moradores, dos laços que são criados e cultivados e das conquistas que tiveram juntos. Esses sentimentos se transformam na identidade coletiva própria de cada território.

A memória coletiva é considerada indispensável à sobrevivência de comunidades como a vila. É por meio dessa transmissão de conhecimento que se mantém a identidade histórica e geográfica, fazendo com que os jovens não esqueçam de suas origens. Ao preservar sua identidade, a comunidade reforça a manutenção dos sentimentos de união e pertencimento. 

Com essa finalidade, foi criada, em 2006, a Festa da Paz. O evento, que é tradição na comunidade, trouxe como ato simbólico a pintura da ponte e a escrita da palavra “paz” nas cores verde e amarelo, escolhidas por serem consideradas neutras. Além disso, a ação foi importante para a união dos moradores e para a promoção de um clima amistoso, no qual a população local não precisa sentir medo dos conflitos presentes no território. 

Em 2019, foi realizado o Festival Vila Torres na tentativa de preservar as manifestações artísticas, promover talentos regionais e divulgar os empreendimentos que movimentam a economia da vila. O evento, com a temática “Resgate da Memória da Vila Torres”, foi repleto de alegria, pois trouxe recordações e um sentimento de orgulho aos moradores. Eventos como esse inspiram outras comunidades a revisitar seu passado e reviver lembranças e conquistas que não devem ser esquecidas.

Para colaborar neste resgate da memória, o Núcleo de Comunicação e Educação Popular (Ncep), em parceria com a ONG Passos da Criança, coordenou uma oficina produzida com as crianças da comunidade em um processo de educomunicação. Foram realizadas entrevistas e depoimentos com antigos moradores para estimular a memória coletiva e preservar a história local. O material final foi exposto no Festival.

Mas a inserção do projeto de extensão na comunidade vai além da sua colaboração no festival. O Ncep tem como ideia principal a organização de um Museu da Periferia na comunidade da Vila das Torres, com o intuito de contemplar e preservar os costumes, a arte, a história oral, as tradições, as crenças e as manifestações culturais. Através dessa iniciativa, o projeto busca contribuir para o resgate da memória e o sentimento de pertencimento que os moradores nutrem pela Vila Torres.

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