Uma personalidade para cada noite. Saiba tudo sobre a reinauguração do Wonka

Bar icônico da Trajano reabre no próximo dia 6

Um Wonka, não. O bar são vários. A casa reinaugura em 6 de janeiro e mantém seu DNA de local eclético. Volta capitaneada por sua idealizadora, Ieda Godoy, e com uma personalidade diferente a cada dia da semana. Tudo dentro da proposta original: muita cultura, música autoral, poesia, uma pitada de brasilidade e o fervo da pista de dança com os DJs. Veja um pouco da história de cada noite e do que vem por aí.  

Terças: Esbórnia Poética

Junto com a vontade de reabrir as portas do Wonka, sempre esteve a poesia. “As pessoas perguntam: quem abre bar para ter poesia? Poesia não dá dinheiro, todo mundo quer balada… É um preconceito, posso ter tudo aqui. Foi a leitura que formou quem eu sou, foi o cinema que formou quem eu sou, então, se eu puder abrir espaço para que as pessoas venham dizer o que escrevem, é maravilhoso”, diz Ieda.

O primeiro parceiro das terças, que flutuavam entre um sarau e uma confraria moderna chamada Porão Loquax, foi Mário Domingues. Ieda conta que passar a bola para o poeta e tradutor Ricardo Pozzo, quando o evento tornou-se o Vox Urbe, foi muito tranquilo. Ricardo retorna como curador na terça do Wonka, que vem com um nome para lá de sugestivo: Esbórnia Poética.

O passado teve poetas e tradutores, noites temáticas e vários lançamentos de livros. Dos locais, passaram por ali: Guilherme Gontijo Flores, Adriano Scandolara, Bernardo Brandão e Vinicius Ferreira Barth, integrantes do Scamandro, blog e revista sobre poesia, tradução e crítica; Ivan Justen Santana; Octavio Camargo; Ricardo Corona, Monica Berger; Adriano Esturilho; e muitos mais. De fora, alguns foram: os portugueses Jorge Melícias e Luís Serguilha; o francês Jean Foucalt (em memória), à época radicado em Curitiba;  o paulistano Fábio Weintraub; e os Trovadores do Miocárdio, com Xico Sá e Fausto Fawcett. Ezra Pound, Dante Alighieri, Homero e Paulo Leminski estão entre os homenageados nas noites temáticas. 

Ricardo conta que a noite consagrada à poesia no Wonka fortaleceu a cena literária curitibana, “os poetas começaram a se conhecer, a se ouvir, a trocar ideias e até trabalhar em conjunto depois. Dali surgiram vários coletivos, alguns ativos até hoje.” Além de retomar a tradição da oralidade com a récita, o que permite uma experiência diferenciada da leitura dando vida à obra, segundo ele, o resgate do “microfone aberto” conquistou os frequentadores: “Depois que o poeta principal se apresentava, o público declamava seus poemas.” A música também subia no palco. Tocaram ali Edilson Del Grossi, publicitário, músico e poeta (em memória) e João Francisco Paes, apenas como exemplos. 

A expectativa é congregar a cena novamente com o retorno no bar, “incentivar o gosto pela apresentação poética, ter a poesia como um espetáculo”, explica Ricardo ao afirmar que falta um espaço assim na cidade, aberto a apresentações e discussões. Entre os poetas convidados para a nova temporada, muitos já estiveram ali, como Monica Berger e Guilherme Gontijo Flores. Outros trazem o perfume do novo, como Julia Raiz e Rodrigo Madeira, enquanto alguns são esperados para cumprir o desejo de sair da “bolha”, como o ativista cultural Kenni Rogers e seu secto de jovens da periferia. 

O casamento com a música continua, conforme a Ieda adianta, “depois terá sempre uma banda, uma música surpresa que pode ser um jazz, um rock, um bolero, pode ser qualquer coisa legal.”

Quartas: Iracema cai no Samba!

“O Wonka é sinônimo de música boa”, diz Maytê Corrêa, cantora e compositora paranaense hoje radicada no Rio de Janeiro, que esteve ao lado de Ieda no nascimento da noite do Wonka dedicada ao samba. Ela explica como a visão de Ieda era diferenciada: “Pensava no palco; no cenário; nas toalhinhas de chita, que é um tecido brasileiro; ornamentava o espaço com Santos e os Orixás. Aí veio com fósforos personalizados, e caixinha de fósforos é o instrumento do samba.”

Durante os aproximadamente três anos em que a quarta-feira foi dos bambas, a receptividade do público era surpreendente. Já na primeira noite, mais de 600 pessoas compareceram. Além de tributos aos novos compositores, as rodas traziam clássicos e também músicas menos conhecidas de Cartola, João da Baiana, Pixinguinha, Candeia, Noel Rosa, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Clara Nunes e Chico Buarque.

Entre os convidados, Maytê destaca integrantes do grupo carioca Samba do Trabalhador; Vanderlei Monteiro, compositor que já foi gravado por famosos como Diogo Nogueira e Beth Carvalho; e Alcino Correia, conhecido como Ratinho (em memória). Além do time de feras e do trabalho de pesquisa envolvido, a falta de rodas de samba teria determinado o sucesso da empreitada. “Não tinha nada parecido em Curitiba, quarta só tinha o futebol na TV, então as pessoas iam. Era um público que gostava realmente de música boa”, afirma a compositora.

Para o retorno, não faltarão convidados para sacudir a poeira do porão. Maytê conta que o samba em Curitiba ganhou muito desde que a roda do Wonka parou, inclusive com as mulheres conquistando mais espaço cantando e também tocando. Ela própria estará no palco da casa em 19 de janeiro, para matar a saudade. 

Jazz Me: quintas perfumadas pelo mais autêntico jazz

Desde o início, em 2005, Ieda tinha algumas certezas. A poesia na terça e o jazz na quinta estavam entre elas. Por isso, quando José Boldrini e Hélio Brandão perguntaram sobre levar um jazz pro Wonka, não pensou duas vezes. Agora, outra coisa nasce para lá de definida: o resgate da essência do estilo musical com liberdade para os músicos e muita informalidade. O lado mais comercial da arte, sempre ficou de fora. Uma boa tradução da proposta está no nome escolhido por ela para a nova temporada jazzística da casa.

“Jazz Me lembra jasmim. A palavra jazz não tem tradução, mas tem toda uma história. Os marinheiros chegavam ao cais do porto e quando perguntados sobre para onde iriam, respondiam: ‘vou sentir um cheiro de jasmim’. Era o perfume das prostitutas. Eles iam ouvir os músicos tocando, enquanto cafungavam no cangote delas — cheirando a flor. A palavra jazz veio daí”. Lenda ou verdade, não importa. O que vale é o retorno do espírito que conquistou o público e os músicos. 

O saxofonista Helinho continua como curador e músico fixo da noite. A volta é muito esperada, pois segundo ele, a personalidade do jazz no Wonka foi única na cidade: “É muito importante que tenha um clube de jazz legítimo, voltado para a música e que não tenha aquele ar de coisa velha e careta. Você precisa ter liberdade total para tocar e quem ouve tem que estar aberto para a novidade.”

Ele conta que a ideia foi manter um quarteto fixo e trazer convidados. Quem ficou mais tempo por lá foi Jefferson Lescowich (baixo), Fernando Rivabem (bateria), Paulinho Sabbag (piano), e o próprio Helinho (sax). Jeff Sabbag também esteve no piano, antes da abertura do Dizzy ao lado de Ieda. Os maiores jazzista da cidade e do Brasil também marcaram presença: Boldrini, Rogério Leitum, Mário Conde, Glauco Solter, Arismar do Espírito Santo, Roberto Sion, Mauro Senise, Robertinho Silva, Nivaldo Ornelas, e Idriss Boudrioua, entre outros. A estratégia era descobrir quem vinha de fora para shows em teatros e levar para o Wonka. 

A expectativa é juntar a turma que já ia no bar e está com vontade de voltar a ver um jazz mais livre e também formar um público novo, que se encanta ao conhecer a música. Ao final das atrações, devem rolar jam sessions, para os músicos presentes darem uma canja sem compromisso. Alguns nomes certamente estarão ao lado de Helinho e Ieda na temporada que se inicia, além dos que já brilharam no palco e devem retornar, estão pensando em Davi Sartori, Matheus Silva, Priscila Nogueira e Fábio Hess, apenas como exemplos. 

Sextas e sábados: a pista pega fogo no porão do Wonka.

Will explica que está garantido o espaço para a pegada jovem alternativa, que é a cara da cidade. “A casa é muito cultural e vem mais colorida no sentido da pluralidade, tanto curitibana quanto brasileira e até mundial. O Wonka se assemelha muito com as casas noturnas que a gente ouve falar de grandes megalópoles, como Nova York e Londres.” 

Entre os DJs que fizeram a galera agitar, além do próprio gerente, estiveram lá: Claudinha Bukowski (ex-integrante do Copacabana Club), Georgia, Rafael Trucker, Bernardo Correia, Guga Azevedo e Eduardo Quagliato. E ainda muitos convidados especiais, que nem sempre eram DJs profissionais, mas vinham compartilhar suas playlists, como Uyara Torrente (A Banda Mais Bonita da Cidade) e Edgard Scandurra (Ira!).

A sexta vai se chamar Supernova e receber rock, indie, electro e pop. O sábado será mais caliente, sob o nome de Me Gusta, trará música brasileira e muita latinidade. Os esperados são das antigas e também os nomes novos da cena noturna, Will afirma que todos são bem-vindos, porque o bar não se fecha em um estilo, é um local plural. “Pode esperar tudo que está tocando por aí que dê para mexer o corpo. E com aquela pimenta, com o espírito jovial e atrevido. Eu até diria que o Wonka volta mais safado, mais audacioso.”

Leia mais sobre a reinauguração do Wonka aqui.

Serviço: 

Wonka Bar

Reinauguração: 6 de janeiro, quinta-feira. Prioridade para convidados, sujeita à lotação da casa.  

Endereço: Rua Trajano Reis, 326.

Informações e reservas por WhatsApp: 41 98893-5321

Funcionamento: 

Terças, quartas e quintas: abertura às 19 horas e shows às 20 horas.

Sextas e sábados: abertura às 20 horas e pista às 22 horas.

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Uma personalidade para cada noite. Saiba tudo sobre a reinauguração do Wonka”

  1. Que maravilha saber dessa inauguração. Não conheci o Wonka mas sei da capacidade e do bom gosto da Ieda Godoy que ficaram demonstrados quando geriu o Dizzy’s junto com o Jeff Sabbag. Longa vida ao novo Wonka que pretendo conhecer na minha próxima ida a Curitiba.

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