A Universidade Federal do Paraná (UFPR) anunciou nesta segunda-feira (26) que avançam os estudos para uma vacina paranaense contra o coronavírus. Os testes pré-clínicos receberão um incentivo de R$ 995 mil do Governo do Estado e até 2022 devem resultar no início da fase clínica, ou seja, os testes em humanos. A vacina, que terá custo entre R$ 5 e R$ 10, poderá ser desenvolvida na forma injetável, já conhecida, e também no formato spray, próprio para agir no principal ponto de entrada do vírus no organismo: as vias respiratórias.
O imunizante desenvolvido pela UFPR utiliza insumos nacionais com biopolímeros biodegradáveis e com partes específicas de proteínas virais, não sendo assim necessário o uso do coronavírus inteiro na produção. Com disso, a intenção é que a nova vacina possa ser recombinada para proteger contra outras doenças, como dengue, zika, leishmaniose e chikungunya.
“Podemos produzir vacinas contra as variantes do coronavírus rapidamente, sem precisar mudar todo o processo, usando o mesmo método para produzir vacinas contra outras doenças, apenas mudando o antígeno. A plataforma tecnológica para isso é totalmente desenvolvida aqui, sem a necessidade de insumos importados”, explica Emanuel Maltempi de Souza, vice-diretor do Setor de Ciências Biológicas da UFPR.
De acordo com os testes pré-clínicos, em camundongos, após duas doses da vacina da UFPR, a quantidade de anticorpos produzidos nos animais foi maior do que o imunizante da AstraZeneca/Oxford. Para avançar para os testes em humanos, porém, ainda é preciso descobrir por quanto tempo permanecem ativos esses anticorpos e se eles são capazes de bloquear e neutralizar a infecção. Depois, ainda é necessário definir qual a melhor dose para proteção e quais os possíveis efeitos colaterais.
O pedido para o início dos testes clínicos deve acontecer em seis meses, prevê a UFPR. Até lá, o trabalho será financiado pelo Governo do Estado, num repasse de R$ 995 mil, confirmados pelo superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Nelson Bona. “Estamos investindo nesta iniciativa da UFPR para termos uma vacina paranaense e estamos otimistas.”
Do montante, R$ 700 mil serão para compra de equipamentos e custos da pesquisa e R$ 295 mil em bolsas para os cientistas, pesquisadores em pós-doutorado. Para 2022, “serão necessários novos parceiros e novos recursos financeiros”, adianta a UFPR.
Após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, inicia-se a fase clínica da pesquisa, dividida em três etapas. Todas com voluntários humanos. O tempo dela vai depender dos novos investimentos e do avanço da Covid-19 no Brasil, onde apenas 13% da população está imunizada contra a doença.
O Spray
Além da vacina injetável, os cientistas paranaenses trabalham com uma segunda possibilidade para a forma final do imunizante, que poderá ser spray.
A ideia é criar uma barreira para o vírus nas principais portas de entrada no organismo: as vias respiratórias. “Isso pode ser feito com uma adaptação das partículas. O imunizante continua o mesmo, mas a partícula é modificada”, conta o professor e pesquisador Marcelo Müller. “Elas foram capazes de ativar o sistema imune e gerar anticorpos, inclusive do tipo IgA, que são anticorpos que normalmente são produzidos pelo sistema imune nas mucosas”, diz ele, destacando que a vacina spray pode vir a ser testada em crianças, por sua “elevada segurança”.
“Nas formas injetáveis da vacinação, o efeito sobre a transmissão do vírus é menor. Então, a gente tem essa expectativa de que a vacina poderá, eventualmente, ser administrada dessa forma. Os testes das duas formas avançam paralelamente”, completa o cientista e professor Breno Beirão.
A equipe não descarta uma aplicação associada entre a solução nasal e a injetável – que ainda pode ser distribuída na forma de pó, para facilitar o transporte e o armazenamento.
Outro benefício da vacina paranaense seria o preço, estimado entre R$ 5 e R$ 10. “Vacina 100% nacional e paranaense, de baixíssimo custo, que pode dar as condições, no futuro, para uma soberania tecnológica neste sentido, o que aflige o Brasil hoje”, conclui o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca.