Por mais música para as garotas

Financiamento coletivo arrecada para compra de instrumentos musicais

Uma vez ao ano, dezenas de garotas entre sete e dezessete anos se reúnem para aprender música. O som que domina a semana de atividades vem de instrumentos variados, mas quase todos emprestados. Poucos são adaptados ao tamanho das menores. O projeto, que começou nos Estados Unidos, chegou a Curitiba em 2017 e agora quer ampliar as ações e ajudar mais meninas a construírem seu amor próprio, por meio da música.  

Com o financiamento coletivo, o Girls Rock Camp de Curitiba busca arrecadar o suficiente para adquirir instrumentos musicais próprios e, assim, conseguir dobrar o número de vagas para o próximo acampamento, em janeiro de 2020. A campanha vai até o dia 7 de setembro e oferece recompensas para quem colaborar. A meta é arrecadar R$ 16,5 mil.

“Nós já recebemos doações de instrumentos, o que é maravilhoso, mas não é suficiente”, conta uma das organizadoras do projeto, Roberta Cibin. Segundo ela, entre os objetivos da campanha estão a maior autonomia para a realização dos acampamentos e também de outras atividades do trabalho.

“Emprestar instrumentos não é apenas trabalhoso, mas uma super responsabilidade. Também queremos comprar instrumentos de escala curta para as meninas menores, que acabam tendo dificuldade com baixos e guitarras grandes e pesados. Nossos teclados são antigos e acabam sempre dando problema de manutenção, além dos amplificadores de guitarra e baixo, que são itens mais difíceis de emprestar”, lembra Roberta.

No último evento foram 48 garotas. O credenciamento é em outubro e por ordem de chegada. Ano passado, em 12 horas estavam encerradas as vagas para alunas pagantes, com inscrições em média a R$ 300. A meta para ano que vem são 60 participantes – metade bolsistas. “As bolsas integrais são sempre para alunas de escola pública. Isso é incrível porque temos meninas vindas de diferentes lugares da cidade.”

Com planos de uma sede para abrigar os instrumentos, Roberta destaca que também estão previstas ações durante o ano. “Podemos emprestar ou locar por um valor simbólico esses instrumentos para meninas e voluntárias que querem tocar mas não conseguem comprar um instrumento ainda.”

As adultas não estão de fora. “Temos planos de ter dez oficinas para meninas e também mulheres adultas. Outro sonho grande é fazer o Ladies Rock Camp, que é igual ao que fazemos para meninas, só que noturno, para mulheres.”

Desafio ainda é conseguir um lugar para acolher o grupo. “Precisamos de um espaço com sete salas, cozinha e um lugar grande coberto. O problema é que em janeiro a maioria das escolas nos diz não, porque faz reforma.”

Girls Rock Camp

Presente em São Paulo (Sorocaba), Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e Paraná (Curitiba), o Girls Rock Camp nasceu na cidade de Portland (Oregon, EUA) e chegou ao Brasil em 2013. Em formato de colônia de férias, o camp reúne exclusivamente garotas entre sete e dezessete anos e é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Além de ensinar um instrumento, busca levar o sentido da música para as meninas, apresentando a produção musical feminina e o trabalho coletivo entre as mulheres.

Cada garota pode escolher o seu instrumento preferido (guitarra, baixo, bateria, teclado ou vocal) e participar de oficinas, que visam o autoconhecimento e o empoderamento das meninas, como: defesa pessoal, identidade e processo criativo. Elas formam bandas, compõem e se apresentam em um show especial, no sábado.  

Os talentos não são raros. “Esse ano, após o camp, uma escola de música ofereceu bolsa para uma de nossas meninas. E nós indicamos uma muito talentosa que tinha sido nossa bolsista. Ela arrasa no vocal e tá indo super bem”, revela a produtora cultural e uma das organizadoras do evento, Roberta Cibin.

Ao lado de Carla del Valle, Gabriela Pinheiro e Marlisi Rauth, Roberta trouxe o camp a Curitiba em 2017. “Eu acompanhava o trabalho em Sorocaba e sempre achei incrível. Juntei algumas amigas, que chamaram outras.  Tivemos apoio de uma campista de São Paulo, que também tinha sido diretora do camp de Montreal alguns anos. Muitas voluntárias de outras cidades, que já tinham experiência, vieram nos apoiar aqui, o que foi essencial.”

Ela lembra que os professores do camp são todos voluntários. “Nós abrimos uma chamada de inscrição de voluntárias e entre as vagas estão as instrutoras de instrumentos. São todas voluntárias, a maioria de Curitiba, mas temos algumas de outras cidades também. Muitas musicistas acabam emprestando seus instrumentos para o camp.”

Nessa de aprender instrumentos, Roberta não ficou de fora. “Quando comecei a organizar o camp eu não tocava nada, inclusive achava que tinha zero habilidades musicais. Mas quando terminou o primeiro projeto eu me dei conta que isso não era verdade. Como eu fiquei falando para as meninas (que também não tinham experiencia musical) que elas conseguiam, e eu? eu também posso, né?”, recorda.

Então, em fevereiro ela começou a fazer aulas e hoje toca baixo e tem até uma banda: As Jaguatiricas. “Formei com outras voluntárias do camp, que também não tocavam e nunca tinham tido banda. Essa história não é só minha. Algumas outras mulheres começaram a tocar e formaram bandas depois de serem voluntárias. O projeto não é só inspirador e muda a vida das meninas, mas das voluntárias também”, percebe a produtora e, agora, musicista.

SERVIÇO:
Financiamento Coletivo Girls Rock Camp Curitiba
Quando: Até 07/09/2019
Doação: Campanha ‘A gente pode, a gente faz’ 
Mais informações: Girls Rock Camp Curitiba

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