Polícia investiga assassinatos similares de dois homens gays em Curitiba

Ambos foram amarrados e asfixiados, provavelmente após encontro de app

Na última semana, dois homens gays foram assassinados sob as mesmas circunstâncias em Curitiba: David Levisio e Marcos Vinício Bozzana da Fonseca, ambos encontrados asfixiados e com os braços amarrados em seus próprios apartamentos. A polícia trabalha com a hipótese de se tratarem de crimes de ódio contra homossexuais cometidos pelo mesmo criminoso.

David era enfermeiro e veio de Londrina para trabalhar na capital. Ele foi encontrado morto na sexta passada, 30 de abril, no bairro Lindoia. Marcos era de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e se mudou para cursar Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Seu corpo foi encontrado na quarta (5), no bairro Portão.

“Eles eram sujeitos que tinham uma vida sexual ativa e costumavam marcar encontros via aplicativo de celular. A maneira como os corpos foram encontrados são muito semelhantes, o que está nos levando a crer que o mesmo criminoso cometeu os dois crimes”, comenta o advogado Marcel Jeronymo, coordenador jurídico da Aliança Nacional LGBTI+.

Os crimes estão sendo investigados pela 3ª delegacia da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), pelo delegado Thiago Nóbrega. O Plural solicitou entrevista, mas a assessoria da Polícia Civil declinou e informou que mais detalhes não seriam repassados para não atrapalhar o andamento das investigações. 

Jeronymo está acompanhando a investigação de perto. “Quando houve o primeiro caso, a linha de investigação chegou a cogitar crime passional ou alguma coisa nesse sentido, mas a gente se posicionou dizendo que não era bem assim. Com o segundo caso, é bem provável que o delegado entenda que foram homicídios por homofobia.”

No momento, a equipe de Nóbrega está buscando gravações dos condomínios da região e da rua e avaliando as imagens. Material foi colhido pela perícia e aguarda laudos. Quem tiver alguma informação, pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo número (41) 3360 1400 ou com a Aliança LGBTI+ no (41) 3222 3999.

Homenagens

A PUCPR não se pronunciou sobre o caso de Marcos, mas o Plural apurou que a universidade está auxiliando a família do aluno, que precisou vir de Campo Grande para Curitiba. Já os colegas de curso publicaram homenagens nas redes sociais.

Crédito: reprodução/Instagram

Um grupo de conterrâneos de Marcos também enviou uma homenagem à redação. Reproduzimos o texto na íntegra:

“Uma pessoa inesquecível, a alma de qualquer rolê, com uma gargalhada que marca seu jeitinho de ser. Um ser incrível, que transmitia só amor e carinho! Fazia o possível e impossível para fazer o bem para os amigos, família e até desconhecidos. Nos ensinou a valorizar cada momento juntos, são muitas memórias boas e incríveis que teremos sempre em nossos corações! Ainda em nossas mentes e corações não parece realidade que ele se foi… A qualquer momento estamos o esperando, brincando, dizendo: é mentira, estou aqui! Porém, infelizmente a realidade é outra e dói muito! Hoje ele é luz, que brilha no céu e ilumina nossas vidas. Amamos muito ele, eternamente, e cada um de nós o carrega no coração.
De: Clarice, Gabriela, Helena, Karla, Nadine, Paulo, Roberto e Thâmela”

Amigos de David disseram que ele era “reservado” e a família quer respeitar isso, por isso eles preferem não falar com a imprensa.

Segurança

Os casos acendem um alerta para jovens que conhecem pessoas por meio de aplicativos de relacionamento. O Grupo Dignidade postou em suas redes sociais uma série de dicas de segurança, que reproduzimos na íntegra abaixo:

  1. Investigar se a pessoa é real ou fake: tem redes sociais? Algum amigo seu conhece?
  2. Tenha um contato amigo para informar seus encontros. Compartilhe localização e endereço.
  3. De preferência, marque o primeiro encontro em um local público.
  4. Identificar na portaria sem máscara para câmeras.

Terceiro caso?

No dia 17 de abril, o professor universitário Robson Paim, de 36 anos, foi encontrado morto em seu apartamento em Abelardo Luz, em Santa Catarina. O cenário é parecido: o corpo estava na cama, com sinais de violência e asfixia. Logo depois, o carro de Robson foi encontrado na Região Metropolitana de Curitiba.

Robson dava aulas na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Foto: reprodução/Facebook

O que antes parecia um caso de latrocínio, agora chama atenção por ser similar às mortes de David e Marcos. A reportagem questionou a Polícia Civil sobre uma possível relação entre os assassinatos, mas ainda não foi respondida. O advogado Marcel Jeronymo soube do caso ontem e disse que encaminhou para o delegado Thiago Nóbrega.

Caso Lindolfo

Na semana passada, outro homem gay foi morto no Paraná, desta vez em São João do Triunfo, na região dos Campos Gerais. Lindolfo Kosmaski foi assassinado a tiros e teve o corpo carbonizado no próprio carro. 

Lindolfo Kosmaski. Foto: reprodução/Facebook

“O caso do Lindolfo também parece um crime lgbtifógico. As circunstâncias são muito similares às de crimes que geralmente acontecem com a população LGBTI+, que são muito cruéis. Não foi uma mera agressão que levou à morte, tem um requinte de crueldade – como aconteceu nos dois casos de Curitiba”, diz o advogado da Aliança LGBTI+. No entanto, ele não acredita que se trate do mesmo criminoso. 

O Plural já mostrou que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) lamentou a morte do estudante. Ele era mestrando em Educação em Ciências e em Matemática na instituição. Kosmaski também era militante LGBT e atuava no Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), que organizou um protesto para este sábado (8). O ato será a partir das 10h, no município de São João do Triunfo, com concentração no centro da cidade.

A reportagem ainda conversou com uma amiga do camponês, que o descreveu como “gentil, muito humilde e muito simples”. “Nós dois estávamos, ano passado, em nosso primeiro ano como professores PSS em Palmeira. Pegávamos ônibus para o Colégio Pinheiral de Baixo juntos. Traçamos muitas ideias sobre as incertezas de professor PSS. Ele acreditava muito na educação”, relembra Jessica Almeida Sachs.

“Um menino que saiu da lavoura de fumo pra estudar na Federal do Paraná. Ele tinha muito muito orgulho disso e, principalmente, tinha muita gratidão aos pais. Uma semana antes de falecer, ele falou que eu tinha que pegar meu esposo e fazer uma visita à família em São João do Triunfo, quando a pandemia passasse. Infelizmente não deu tempo”, lamenta a amiga. 

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4 comentários em “Polícia investiga assassinatos similares de dois homens gays em Curitiba”

  1. Thiago cerqueira

    Não pegar carona com estranhos: isso a gente aprende desde criança.
    Há suspeita de homofobia mas não se pode afirmar ou generalizar, pois a motivação nem foi apurada ainda, já que não há suspeito preso.
    Menos imprudência aí

  2. Com os políticos que estão no poder, a tendência parece ser um aumento significativo desse tipo de crime e a também sua impunidade.
    E enquanto isso o povinho preconceituoso vai continuar contando sus piadinha homofóbicas nas suas rodinhas de amigos.

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