Parentes de presos protestam por falta de informação sobre Covid

Famílias têm medo de contágio em ambiente superlotado e insalubre

A pandemia trouxe um problema a mais para as mulheres, mães e amigos de presos. Sabe-se que essas pessoas estão em um ambiente tipicamente insalubre e superlotado, sem a menor condição da prática de distanciamento social. Mas apesar do medo da contaminação de maridos, pais e filhos, ninguém consegue muitas informações sobre a situação sobre o lado de dentro das penitenciárias e cadeias.

Desde a sexta-feira passada na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente ao Palácio Iguaçu, no Centro Cívico de Curitiba, os parentes de presos estão em um novo acampamento para cobrar informações. É a quarta vez que manifestações do gênero ocorrem, até agora sem muitos avanços.

“Hoje já é o nosso quarto acampamento. Já acampamos na frente da sede do Depen no Bacacheri e esse é o terceiro aqui na frente do Palacio”, diz Naíra, representante do grupo.

As famílias em protesto, no começo, temiam pelo contágio em massa por Covid-19. E um dos pedidos era que o mutirão –  transferência de apenados para o regime semiaberto ou para colônias – não fosse suspenso para que assim houvesse um desafogamento nas cadeias. As famílias também pediam a testagem em massa.

De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), 42.517 presos foram infectados pela Covid-19 desde março de 2020 no Brasil todo, e 133 desses morreram. Comparando a taxa de infecção pelo vírus com o da população brasileira, a infecção nos presídios foi 47% maior e a letalidade foi 87% maior, colocando assim todos os prisioneiros e agentes penitenciários em perigo.

Parentes estão no quarto acampamento, sem ser atendidas. Foto: Giorgia Prates/Plural

O Complexo Penitenciário de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, tem hoje cerca de 7 mil aprisionados e é considerado o maior do Paraná. Em meados de agosto do ano passado, chegou a suspender as atividades pelo período de 14 dias após detentos serem diagnosticados com a Covid-19.

Com o avanço dos meses a situação foi controlada, segundo levantamento do Sindicato dos Policiais Penais do Paraná (Sindarspen). Porém, as medidas de isolamento, segundo familiares, são insuficientes e descuidadas. “Quando um apresentava sintomas, recebia só remédio comum de gripe e não tinha atendimento adequado pra Covid”, conta Maria, esposa de detento. 

Outra questão levantada nas reivindicações dos familiares é a normatização da entrega das “sacolas” com alimentos, roupas, cartas e remédios. Esposas e mães dos detentos não têm renda fixa, e agora, sem o auxílio emergencial, não podem arcar com os custos da entrega via Sedex.

“O Coronel Rômulo Marinho (secretário de Segurança Pública) vem estudando a possibilidade do corte dessas sacolas. O argumento é que sacola não é direito dos apenados e que o estado recebe R$ 160 milhões para suprir as necessidades de alimentação e higiene de todos os apenados dos estado. Mas nós sabemos que essa verba não supre nem 1% das necessidades deles dentro do sistema. A alimentação muitas vezes vem em situação precária, não tem condições nenhuma deles se alimentarem”, conta uma esposa que pediu para não ser identificada.

Naira conta que nesse período de um ano, várias foram as promessas feitas em reuniões a esses familiares – mas nenhuma teria sido atendida. Agora, com a vacina e com a resolução publicada no Diário Oficial da União, pelo Conselho Nacional de Política Criminal Penitenciária, que recomenda a prioridade na vacinação de todos os presos, a luta é para que eles sejam vacinados e que as visitas retornem ainda que gradualmente.

“A gente está cansada já. A luta não é de hoje. Mas só vamos sair quando atingirmos nossos objetivos. Se as escolas estão voltando, porque nós não podemos voltar com as visitas e assinar um termo de responsabilidade?” questiona Naira.

“Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.

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