Nova variante do coronavírus atinge mais jovens

Tempo de recuperação maior e evolução rápida assustam especialistas

A segunda onda da Covid-19 em Curitiba mudou o perfil dos infectados. Com a P1, a nova variante do vírus, os chamados “jovens adultos”, com idade entre 30 e 49 anos, são grande parte dos pacientes internados, o que preocupa médicos e hospitais, já que este perfil tem tido evolução rápida da doença e demandado mais tempo de recuperação.

“O cenário é o mais desafiador de todos os tempos”, afirma o médico intensivista Jarbas Motta Junior, atuante no Hospital Marcelino Champagnat. “A gente tem se deparado com pacientes mais jovens chegando ao hospital, sem comorbidades e, mesmo assim, evoluindo rapidamente para um quadro grave, que demanda mais tempo dos profissionais”, conta.

O Marcelino Champagnat está com seus 37 leitos de UTI e os 34 leitos de pacientes não críticos para Covid ocupados. Por isso, a demora na recuperação preocupa. “Este novo perfil tem tido de três a quatro vezes mais tempo de permanência no hospital”, completa Jarbas. Esta semana, o Marcelino está com o Pronto Atendimento fechado, não atendendo novas demandas.

O médico Rafael Deucher, intensivista e coordenador das UTIs do Hospital Vita Batel, diz que a situação por lá não é diferente. “Antes eram pacientes com 80 anos e agora os pacientes são muito mais jovens, têm entre 30 e 40 (anos)”. O médico, que também é presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (Sotipa), diz que, em todo país, o internamento de jovens adultos aumentou. “Tenho conversado com profissionais de saúde do Brasil e em todo país tem sido igual: jovens com uma gravidade alta. A situação está bem crítica”, completa.

Em sessão da Câmara Municipal de Curitiba nesta semana, a secretária de Saúde Márcia Huçulak também afirmou que a evolução do quadro nos jovens tem sido mais rápida. “Não sabemos ainda se por conta da variante, eles têm se agravado muito rapidamente. Antes, agravava entre o 7º a 10º dia. Agora agravam muito rapidamente para uma condição de necessidade de suporte ventilatório”, disse.

Hospitais de médio e grande porte também mostram a evolução da doença em números. No Hospital Evangélico Mackenzie, por exemplo, dos 51 leitos de UTI, 20 (40%) estão ocupados nesta quinta-feira (11) com pessoas que têm menos de 50 anos. Destes 20, nove têm idade menor do que 40.  

Já no Hospital do Trabalhador, dos 23 pacientes internados por coronavírus, 12 têm menos de 70 anos. O paciente mais novo na Enfermaria tem 24 anos, e na UTI 34.

Para o epidemiologista Moacir Pires, do escritório regional do Ministério da Saúde no Paraná, “há uma mudança de comportamento biológico do vírus”. Ele afirma que também existe o agravante do pouco distanciamento social praticado nos últimos tempos. “O que nós estamos vendo é o comportamento de duas questões juntas: a maior flexibilidade que houve com relação ao Carnaval, e a questão dos mutantes que têm maior transmissibilidade e atingem populações um pouco mais jovens.”

Problemas ligados ao afrouxamento das medidas de restrição têm sido consenso entre especialistas. Para o biólogo Lucas Ferrante, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), “a principal medida no momento é o isolamento social, pois esta variante atinge principalmente os jovens”, ressalta. “Por motivos biológicos, ela tem uma pirâmide etária invertida.”

Festas e aglomerações entre jovens foram constantes nos últimos meses. Foto: Plural.jor

Bebês e Crianças

A taxa de ocupação para UTIs pediátricas no Paraná também nunca esteve tão alta. Em todas as Regionais do Estado, as vagas já se esgotaram. Restam poucos leitos no Hospital das Clínicas e no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

No Pequeno Príncipe, referência no atendimento infantil, os números apontam um aumento de mais de 100% de casos de menores infectados. A média mensal de 2020 foi de 31 crianças positivadas. Em 2021, a média mensal tem sido de 72,5 crianças confirmadas por mês, totalizando 145 em janeiro e fevereiro. Destes, 19 (13%) precisaram ser internados e quatro (3%) foram para UTI.

Além disto, a média mensal de casos suspeitos da Covid atendidos no Hospital Pequeno Príncipe subiu de 162 no ano passado, para 420 neste ano. Uma alta expressiva de 159%.

Para Victor Horácio de Souza Costa Júnior, pediatra especializado em Infectologia, os números altos ainda são reflexos do final do ano. “Este aumento significa que estamos colhendo o fruto do descuido do distanciamento social do Ano Novo, Natal, Férias e viagens.”

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