Feijão colhido em mutirão do MST vai alimentar pessoas em situação de rua em Curitiba e região

Voluntários ajudaram a colher cerca de 700 quilos em assentamento na Lapa. Coletivo Marmitas da Terra atende 1,1 mil pessoas por semana

No último sábado (5), 50 voluntários e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) colheram cerca de 700 quilos de feijão agroecológico no Assentamento Contestado, na Lapa (PR). O produto foi doado ao coletivo Marmitas da Terra, que entrega alimentos e distribui marmitas por Curitiba e Região Metropolitana para pessoas em situação de rua e famílias em situação de vulnerabilidade, agravada pela pandemia. A ação realizada na Lapa fez parte da campanha nacional do MST que tem como objetivo enfrentar a fome na pandemia. Por todo o estado, as comunidades do Movimento doaram aproximadamente 800 toneladas de alimentos.

Os alimentos, doados pelo MST ao Marmitas da Terra, são pré-preparados às terças-feiras. Nas quartas-feiras pela manhã, voluntários formam uma linha de produção de marmitas. Os protocolos de saúde são seguidos na cozinha: uso de máscara, álcool em gel e apresentação do comprovante de vacinação contra a Covid-19. Ao meio-dia, um grupo de voluntários se dirige até a Praça Rui Barbosa onde iniciam a distribuição das quentinhas. Na sequência, continuam a distribuição na Praça Tiradentes e em ocupações na capital e região metropolitana.

A rotina é a mesma: as filas são formadas e voluntários passam oferecendo álcool em gel e distribuem máscaras para as pessoas. A marmita é completa, tendo como base o clássico brasileiro arroz com feijão e mais quatro acompanhamentos como berinjela, abobrinha, cenoura, tomate, pepino, repolho, escarola, batata, pimentão, entre outros. Todos os alimentos distribuídos são plantados e colhidos no Assentamento Contestado. São também são oferecidas frutas e água.

Desde maio de 2020, foram produzidas mais de 100 mil refeições na capital paranaense. Segundo dados, de abril de 2021, do Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, mais de 116 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, o que fez com que o país retornasse ao mapa da fome.

“Não tem nada mais obsceno na contemporaneidade o país que mais produz alimento estar no mapa da fome. As políticas públicas voltadas ao agronegócio para enriquecer as oligarquias de sempre contrastam com as necessidades mais primárias da população, que é o direito a poder se alimentar. O trabalho feito nesse assentamento e em todos os outros é fundamental.”

Wilson Ramos Filho, advogado e voluntário no mutirão.

Semanalmente, os voluntários do Marmitas da Terra ajudam a aplacar a fome de cerca de 1.100 pessoas em situação de rua ou em vulnerabilidade social. De acordo com a entidade, no começo das ações em 2020, as marmitas eram distribuídas para homens adultos, em sua maioria. Mas com o aumento da crise econômica no país, famílias inteiras, mulheres, pessoas idosas, jovens e crianças engrossam as filas em busca de algo para comer.

Mais de 116 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar Foto: MST Paraná

Assentamento Contestado

Em fevereiro de 1999, 40 famílias ocuparam uma área pertencente a cerâmica Incepa. A empresa possuía dívidas com a União e como forma de abater o débito com o Estado a área foi destinada para a reforma agrária. Na ocasião da ocupação, a terra de 2.259,6 hectares só possuía milho, soja e madeira.

Mais de duas décadas depois, a vida das famílias assentadas mudou bastante. Hoje o assentamento conta com posto de saúde, escola de ensino fundamental ao superior, área de lazer, Centro Cultural e também abriga a sede da Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA) e a Cooperativa Terra Livre, que auxilia no processo de escoamento da produção.

No período da monarquia, as terras do Contestado pertenciam ao Barão dos Campos Gerais que, além de ser um grande proprietário de terras na região, escravizava pessoas no local. O Centro Cultural Casarão foi instalado na antiga casa do barão e sua família.

O assentamento conta com 50 famílias que possuem certificação agroecológica. Só no ano de 2021, foi realizada a doação de mais 13 toneladas de alimentos nas ações de solidariedade, além do plantio de 7 mil mudas de árvores. 

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