Fábrica da Petrobras na RMC poderia produzir 350 mil cilindros de oxigênio por dia para Manaus

Produção para fins hospitalares seria possível com mínimos ajustes operacionais dentro da unidade desativada, garantem especialistas

Diariamente, 700 mil metros cúbicos de oxigênio eram produzidos pela Araucária Nitrogenados/Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Ansa/Fafen-PR), subsidiária da Petrobras. A fábrica, localizada em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), está fechada desde março de 2020 e deve ser privatizada. Com a situação nos hospitais de Manaus, em que centenas de pacientes morrem por asfixia diariamente, a produção da empresa poderia retomar e suprir a necessidade da saúde em relação ao oxigênio hospitalar, afirmam especialistas.

Quem explica é Alexandre dos Santos, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Paraná (Sindiquimica-PR). Segundo ele, o oxigênio utilizado pela Fafen tinha pureza de 100% e a capacidade de produção total da fábrica de Araucária era de 700 mil metros cúbicos (m3) de oxigênio por dia. Considerando que cada cilindro do gás medicinal tenha 1 m3, a Petrobras poderia produzir 700 mil cilindros de oxigênio por dia.

O coordenador do Sindiquimica afirma que seria possível produzi-los para fins hospitalares com mínimos ajustes operacionais dentro da própria unidade da Ansa/Fafen. “Caso a fábrica fosse reaberta para produção de oxigênio, pelo menos a metade da produção total (350 mil m3) poderia ser enviada para hospitais”, diz.

O número é quatro vezes maior do que o consumo diário de oxigênio em todo o estado do Amazonas, que é de 76 mil m3, segundo o governo federal. Cada cilindro hospitalar tem capacidade de ar suficiente para 10 minutos.

Conforme explica o ex-funcionário que atuava na planta de separação de ar da fábrica, Rubens Marcos da Luz, para auxiliar em uma situação de crise como a de Manaus, seria preciso apenas uma parte da unidade em operação.

Ele esclarece que para produzir oxigênio medicinal é preciso captar o ar atmosférico e passá-lo por uma coluna de retificação, onde o oxigênio é separado de outros gases, tudo a 180 graus negativos. Na Fafen, a etapa final era enviar o oxigênio a um compressor e depois à queima dos resíduos asfálticos (matéria-prima utilizada pela fábrica) a fim de desencadear o processo dos fertilizantes. 

“A Fafen-PR tem uma planta de separação de ar que, com uma pequena modificação, poderia ser convertida para produzir oxigênio hospitalar, ajudando a salvar vidas nesse momento dramático da pandemia, que atinge novos picos em diversos estados do país”, reforça o petroquímico, Gerson Castellano, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Hibernação e privatização

A Ansa/Fafen, em Araucária, é uma subsidiária da Petrobras, “com autonomia estatutária e personalidade jurídica distinta, patrimônio e gestão própria, adquirida da Vale Fertilizantes SA em 2013”. A unidade, desligada em março de 2020 com a demissão de mil trabalhadores – o que levou a uma greve nacional de 21 dias – era responsável pela produção de ureia, amônia, hidrogênio, gás carbônico e ácido nítrico, além do Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32). 

Desde seu desligamento, a fábrica está em estado de hibernação, ou seja, a estrutura foi mantida, mas a operação está totalmente parada. Segundo o Sindiquimica/PR, cumprindo normas de segurança da Secretaria Nacional do Trabalho, a unidade conta com uma equipe pequena para fazer a inspeção e manutenção dos equipamentos, no caso de uma eventual reabertura – o que só deve ocorrer após sua privatização.

Procurada pelo Plural, a Petrobras afirma que “os resultados da Araucária Nitrogenados S/A (ANSA) historicamente demonstravam a falta de sustentabilidade do negócio. Para o final de 2020, as previsões indicavam que o resultado negativo poderia superar R$ 400 milhões, caso não houvesse a hibernação”, diz em nota.

“Em 17 de setembro de 2020, a Petrobras comunicou ao mercado o início do processo de venda da totalidade de suas ações na ANSA. Esse processo está atualmente na fase do recebimento de propostas vinculantes”, conclui o texto, sem responder sobre a possível produção de oxigênio para Manaus.

Atualização

Após a publicação da reportagem, a Petrobras informou, em nova nota enviada à reportagem, que “manifesta repúdio ao desrespeito com o sofrimento de pacientes hospitalizados pela Covid-19 no Amazonas, demonstrado pelo oportunismo na exploração política da hibernação da Araucária Nitrogenados (Ansa), anunciada há quase um ano”.

Segundo a companhia, a fábrica no Paraná nunca produziu oxigênio hospitalar. “Além disso, não havia, na unidade, estação para carregamento desse tipo de produto. Cabe ressaltar que uma unidade produtora no Paraná não teria viabilidade logística para abastecer a cidade de Manaus.”

Ainda de acordo com a Petrobras, “a companhia tem apoiado a sociedade e os governos locais por meio de doações de testes, combustíveis e materiais de higiene e segurança. A companhia está desenvolvendo, em parceria com outras empresas, iniciativas para ajudar a combater os efeitos da Covid-19 sobre a população amazonense.”

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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1 comentário em “Fábrica da Petrobras na RMC poderia produzir 350 mil cilindros de oxigênio por dia para Manaus”

  1. A Petrobrás e o governo brasileiro acusaram o golpe. Oportunismo é impor um processo de desmonte da indústria nacional. Oportunismo é indicar tratamento “precoce que não existe”. A produção de oxigênio é possível, carregar ele implica em uma simples instalação feita em menos de 2 dias. A logística sim seria um problema. Mas daí teríamos que cobrar isso do especialista nisso que é o ministro Pazzuello. Melhor ter oxigênio no Brasil ou depender da caridade da Venezuela? Faltou em Manaus, Coari, e onde mais depois? Vamos esperar ou produzir e ter mais opções? A FUP está aberta a debater com a Petrobrás sobre este tema. Politizar é negar o caos com que o governo brasileiro está conduzindo esta pandemia e a própria Petrobrás.

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