Em Curitiba, 197 motoristas saem do táxi para tentar a vida de Uber e 99

Outros 24 taxistas foram mais radicais e simplesmente entregaram à Urbs a permissão para dirigir táxis

Pode ser que já tenha acontecido com você de pedir um Uber ou 99 e chegar em sua porta um carro com a pintura laranja típica dos táxis de Curitiba. É muito provável que se trate de fato de um táxi que teve removida toda a adesivagem e agora roda por aplicativo.

Com o táxi sendo cada vez menos rentável e os aplicativos de transporte individual em pleno crescimento, 197 motoristas decidiram ir à prefeitura e suspender temporariamente o serviço de táxi. Resolveram se arriscar nos aplicativos para ver se vale mais a pena.

Outros 27 foram mais radicais: simplesmente entregaram a permissão na Urbs e desistiram de ser taxistas para sempre, Ou seja: aquela licença tão sonhada, que muita gente inclusive pagou para ter, agora está sendo devolvida a custo zero para o município.

Com uma frota de 3 mil táxis autorizada na cidade, os 221 desistentes significam 7,5% do total de permissionários. É como se um a cada 13 motoristas tivesse desistido do sistema tradicional e passado para o novo.

O Plural falou com um motorista de táxi que passou para os aplicativos há duas semanas. “Entreguei de graça mesmo. Ninguém mais aceita comprar. Tem gente que acha melhor só suspender, mas aí tem que pagar a outorga”, disse ele, admitindo que havia comprado a licença de táxi – algo que sempre foi proibido mas para que a prefeitura sempre fez vistas grossas.

No dia da conversa, o motorista já tinha quase empatado, só pela manhã, o número de corridas que fazia no táxi o dia inteiro. Foram cinco antes do meio-dia, quando no táxi fazia oito durante 12 horas de trabalho. Arrependimento de entregar a placa? Zero.

A suspensão temporária do serviço de táxi foi permitida no início do ano passado, quando o prefeito Rafael Greca (DEM) mudou por decreto a regulamentação do sistema. Pelo texto publicado em Diário Oficial, o motorista pode ir à Urbs e solicitar uma parada por até 24 meses. Mas continua pagando anualmente a outorga.

Os taxistas sempre reclamaram da concorrência dos Uber, 99 e Cabify. Dizem que no táxi pagam muito mais taxas e sofrem fiscalização maior, o que torna a concorrência difícil. De fato, as corridas de táxi saem significativamente mais caras do que as de aplicativo, o que deixa os taxistas mais parados do que antes – o que significa dinheiro perdido.

Na maioria dos táxis, também deixou de haver a figura do segundo motorista. Se antes alimentavam duas famílias, hoje os táxis rendem o suficiente para uma só.

No aplicativo, há mais liberdade, mas ganhar o pão exige bastante. Para ter uma renda razoável, que cubra as taxas retiradas pela empresa, pague gasolina e outras despesas (como o aluguel do carro, em muitos casos), os motoristas que vivem só disso precisam ficar em geral 12 ou mais horas por dia na rua.

No entanto, com a economia em baixa, muita gente aposta nessa saída. Estima-se que em Curitiba haja 15 mil motoristas cadastrados nos aplicativos. Um cadastramento que termina ainda neste ano deve servir como primeiro censo da categoria.

Como diz outro motorista ouvido pela reportagem: ”Se não fosse esses aplicativos, o número de desempregados ia ser muito maior. O descontentamento também”. Pior para os taxistas que, não podendo vencer os motoristas concorrentes, estão cada vez mais se unindo a eles.

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