Aposentado de 88 anos oferece aulas gratuitas de inglês: “Quero compartilhar meu conhecimento”

Todo domingo, o iraquiano Hikmat Daoud Hanna, conhecido como Henrique, vai à Feira do Largo da Ordem em busca de alunos

Em frente à Igreja da Ordem, no Centro de Curitiba, um homem idoso segura uma placa: “Reforço de inglês. Aulas gratuitas”. Todo domingo, entre 9h30 e 10h30, Hikmat Daoud Hanna, 88 anos, fica ali parado em busca de alunos.

“Tenho talento do inglês. O que vou fazer com esse talento armazenado na minha cabeça? Vou compartilhar. Sei que é muito difícil pagar aulas de inglês que custam R$ 50 ou mais a hora”, explica o homem.

Nascido em Bagdá, no Iraque, Hikmat aportuguesou seu nome para Henrique e é assim que se apresenta para as pessoas. Entre São Paulo, Salvador, Brasília e Curitiba, ele mora no Brasil há quase 50 anos, sendo 17 deles na capital paranaense, cidade onde retornou em meados do ano passado, após passar 15 anos na Bahia.

Morador do bairro Fazendinha, ele atualmente vive graças ao salário mínimo. “Me é suficiente. Então não cobro nada [pelas aulas]”, afirma. As aulas são presenciais e Henrique se desloca de ônibus até a casa dos alunos, que são principalmente adolescentes.

A agenda está praticamente lotada, já que o professor dá duas aulas por dia, uma de manhã e uma tarde, de segunda a sábado. “Mas ainda dá para encaixar alguém logo depois do almoço ou no final da tarde”, garante.

Poliglota, Henrique diz falar fluentemente árabe, português, inglês e italiano, além de ter estudado ao longo da vida também latim, espanhol, francês e esperanto.

Aos 18 anos, ele deixou o Iraque, país ao qual nunca mais voltou, e, mediante bolsa de estudo, ingressou na faculdade de Filosofia na Universidade Católica de Roma, na Itália, país onde se estabeleceu por 22 anos.

Depois do diploma, foi dono de uma agência de turismo e após conhecer sua futura esposa brasileira, hoje falecida, se mudou para o Brasil, onde fixou raízes. Em seguida se estabeleceu em Curitiba, casou com uma mulher curitibana, mas hoje é divorciado.

Nos últimos dias, a história de Henrique viralizou, após a fotógrafa Fran Machoski publicar uma foto dele segurando o cartaz nas redes sociais.

“No dia 27 de fevereiro, eu estava passando na feira [do Largo da Ordem] e gravando uns vídeos para o meu Instagram, quando vi esse senhor num cantinho, com essa plaquinha, que me chamou atenção”, conta Fran, cuja publicação foi compartilhada por milhares de pessoas, muitas delas dispostas a contribuir de alguma forma.

Seu Henrique e a fotógrafa Fran Machoski que o ajudou a encontrar novos alunos. Foto: Fran Machoski/Arquivo pessoal.

Fran diz que uma plataforma de ensino de idiomas se prontificou para hospedar videoaulas de Henrique, já outras pessoas prometeram doar um computador e um celular para que ele possa gravar as aulas e se comunicar com os estudantes.

A fotógrafa lançou também uma vaquinha virtual para ajudar o professor a publicar dois dicionários (português-árabe e italiano-árabe) e um livro de autoajuda escritos por ele ao longo dos anos. No meio da tarde deste domingo (13), 150 pessoas já haviam contribuído com doações que somam quase R$ 10 mil. A meta é alcançar R$ 50 mil.

Henrique ganhou também um perfil de Instagram que, por enquanto, é gerenciado por Fran. Como o professor não tem celular, a única maneira de falar com ele é encontrá-lo na feirinha aos domingos, ao lado da Igreja da Ordem, com seu cartaz e sua generosidade.

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3 comentários em “Aposentado de 88 anos oferece aulas gratuitas de inglês: “Quero compartilhar meu conhecimento””

  1. Marinez giacomin Dalmina

    Bom dia ?
    Assistindo ontem na TV aparecida, fiquei emocionada ao ouvir as palavras de Henrique, como todos que o conhecem o chamam por seu nome ser muito difícil de pronunciar.
    Como precisamos de mais pessoas como ele, porque não ensinar o que sabemos para não morrer com nós!

  2. Parabéns senhor Henrique o senhor é um abençoando por Deus, meu filho quer muito ter o senhor como professor e teríamos um prazer muito grande em Telo aqui em nosso lar para tomar uma cafezinho bem gostoso. Bjs e um grande abraço

  3. Eu vi essa história no LinkedIn e alguém publicou o link com essa matéria que está ainda mais rica de detalhes (só senti falta do link com a vaquinha)!
    Fiquei emocionada lendo tudo isso, e lamentando não morar mais na Grande Curitiba e assim ter a oportunidade de conhecer o Sr. Henrique pessoalmente! Obrigada por compartilharem essa história!

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