Falsas acusações de fraude eleitoral geraram média de 888 posts por dia no Facebook entre 2020 e 2022

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, as postagens mais populares sobre o tema foram publicadas por políticos aliados ao governo Bolsonaro, pelo próprio presidente e por páginas de apoiadores. Facebook contesta estudo

Nos últimos 15 meses, conteúdos sobre alegações de fraude em urnas eletrônicas e defesa do voto impresso mobilizaram uma média de 888 posts por dia no Facebook. Ao todo, entre novembro de 2020 e janeiro de 2022, foram publicados 394.370 conteúdos no Brasil, gerando mais de 111 milhões de interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos.

Os dados do levantamento “Desinformação on-line e contestação das eleições”, divulgado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP), apontam um crescimento das mensagens de contestação eleitoral na plataforma. O número de publicações sobre o tema é o maior desde 2014, e apenas quatro meses de 2021 ultrapassaram a média de interações de outubro de 2018, até então ano-referência da temática nas mídias sociais.

Conforme a pesquisa, um dos períodos em que as publicações foram mais frequentes foi agosto de 2021, época de discussões sobre a PEC do Voto Impresso, rejeitada pela Câmara dos Deputados, chegando a alcançar 10.619 postagens em apenas um dia. 

Quem publicou

Carla Zambelli. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados.

Entre páginas, grupos e perfis verificados, 27.840 contas publicaram conteúdos com acusações de fraude na urna eletrônica e promoção do voto impresso auditável. Dessas, 12 concentram o maior volume de interações, sendo a campeã a deputada federal Carla Zambelli (PSL), com 1.576 publicações e quase 8 milhões de interações.

Em seguida, aparecem a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), deputado federal Filipe Barros (PSL-PR), presidente Jair Bolsonaro (com a maior média de interações por publicação – 92 mil), Jornal da Cidade online, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), UOL Notícias, deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), grupo Bolsonaro 2022, Jovem Pan News, deputada federal Caroline de Toni (PSL-SC) e grupo Aliança pelo Brasil.

Imagem: Levantamento Desinformação on-line e contestação das eleições/FGV

Com exceção do veículo de comunicação UOL Notícias, todas as contas são afinadas com o governo Bolsonaro ou alinhadas à agenda do conservadorismo de direita. 

Em paralelo a essas contas de influência, há outras 23 que realizaram mais de 1 mil postagens sobre a temática durante o período analisado pelo levantamento. A maior parte é de perfis de apoio a Jair Bolsonaro, como “Movimento Brasil” (11.856), “Bolsonaro 2022” (7.413), “GRUPO OLAVO DE CARVALHO” (2.815), “FORÇABRASIL” (2.725), “Aliança pelo Brasil 38” (2.649).

Um conjunto de 40 postagens que fomentam os ideários de fraude nas urnas e a defesa do voto impresso estão entre aquelas com mais interações, totalizando 6.8 milhões. Uma delas, publicada pelo ex-senador do Paraná Roberto Requião, compõe o top 10, rendendo 239.751 interações.

“É necessário investigar mais o quanto essas contas estão articuladas no processo de disseminação dessas mensagens no Facebook e a relação delas com uma máquina de propaganda e campanha políticas não-oficiais e, portanto, mais tipicamente vinculadas a campanhas de desinformação, visando a manipulação de opinião individual e coletiva. Frisa-se, também, que alegações de fraude nas urnas eletrônicas e os pedidos por voto impresso auditável são associados a outros discursos potencialmente perigosos”, diz parte do texto. 

O que diz o Facebook

Em nota, a Meta, empresa dona do Facebook, afirmou que o estudo “erra ao sugerir que todos os conteúdos na plataforma sobre esses temas possuem desinformação”.

Além disso, segundo a empresa, o levantamento “ignora a existência de um debate público na sociedade brasileira, durante o período analisado, sobre propostas legislativas em relação ao voto impresso”.

No texto, a Meta informa que o Facebook foi a primeira plataforma digital e até o momento é a única no Brasil a adicionar rótulos em postagens sobre eleições, direcionando as pessoas para o site da Justiça Eleitoral, onde elas podem encontrar informações oficiais sobre o sistema de votação e artigos rebatendo desinformação sobre o processo eleitoral.

“Temos equipes no Brasil e no mundo dedicadas a aperfeiçoar nossas políticas e produtos para lidar com temas como desinformação, discurso de ódio e violência nas eleições”, finaliza a Meta.

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