“Jojo Rabbit” brinca com coisas sérias

Filme do diretor Taika Waititi pode gerar algum desconforto; porém, é mais do que só uma piada de nazistas

Como explicar “Jojo Rabbit”? É uma comédia que faz graça com Adolf Hitler (1889-1945) e os nazistas. O protagonista é um menino de dez anos fã do führer com cartazes colados na parede do quarto e um pequeno uniforme da SS (sigla para schutzstaffel, a força armada do Partido Nazista). É como se Hitler fosse um super-herói. O menino tem um pai que está lutando na guerra – ele não aparece na história – e uma mãe amorosa que tolera bem os caprichos do filho.

Johannes Betzler, ou Jojo, mal consegue conter o entusiasmo diante da possibilidade de participar de um acampamento militar para crianças. É onde começam a ser formados os nazistinhas. Em uma cena tensa, dois instrutores testam o estômago das crianças e pedem para que Jojo mate um coelho com as mãos nuas. “É só segurar o pescoço e torcer”, explica um deles.

Jojo segura o bicho no colo, mas não consegue matá-lo. É quando ganha o apelido de Rabbit (coelho, em inglês). E é também quando percebemos que ele não parece ser o nazista-padrão. (Porque o filme sugere que um nazista-padrão, ao receber uma ordem para matar, não hesitava em cumpri-la.)

A história se complica quando Jojo descobre que a mãe esconde uma menina judia dentro de casa, de nome Elsa Korr. Como o menino quer ser um bom nazista, ele quer dedurar a menina para a Gestapo, mas tem medo de colocar em risco a vida da mãe – nazistas eram pouco tolerantes com alemães que ajudavam judeus.

Esse enredo dá uma ideia geral dos sentimentos complexos que fazem parte do filme. Não bastasse a ousadia de adaptar o livro de Christine Leunens, o diretor e roteirista Taika Waititi encarou o papel mais absurdo e absurdamente engraçado do filme: ele é Adolf Hitler. Ou quase isso.

Esqueci de contar que o amigo invisível de Jojo é Hitler, ou uma versão do Hitler imaginada por um menino de dez anos: ele brinca de jogar granadas de mão, pula, dança e mostra a língua quando ouve algo de que não gosta. Para animar Jojo, logo no comecinho do filme, ele diz: “Ei, me dá um heil”, a que Jojo responde com um “Heil, Hitler” meio xoxo. O führer imaginário não se contenta e provoca o garoto até que ele berre com todas as forças e saia pela rua cantarolando a saudação nazista. (E essa é uma das piadas mais tranquilas do filme.)

Talvez você precise de um senso de humor muito específico para curtir “Jojo Rabbit”. Waititi brinca com coisas sérias, mas consegue fazer mais do que só uma sátira. Porque Jojo vai entender, da pior maneira possível, que os nazistas não são os heróis que ele imaginava.

Serviço

“Jojo Rabbit” ganhou o Oscar de roteiro adaptado e está em cartaz no Espaço Itaú, no UCI Shopping Estação e no UCI Shopping Palladium.

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