Isabel Dias investiga sua sexualidade aos 64 anos no documentário “Acende a luz”

Escritora mostra o que aprendeu com as experiências narradas no livro "32: um homem para cada ano que passei com você"

Em 2015, quando publicou o livro “32: um homem para cada ano que passei com você”, Isabel Dias se viu nas capas dos maiores jornais e revistas do país. Na época, a ênfase era na história da “mulher traída que deu a volta por cima”. Como o título da obra entrega, ela deixou o casamento de 32 anos, fez um perfil num site de relacionamentos e, como se diz, voltou para o mercado.

Cinco anos depois, Isabel continua no caminho que começou com o livro: o de se redescobrir e de identificar, afinal, o que lhe dá prazer. No percurso, o antagonista – o ex-marido – desapareceu e deu espaço para Isabel e toda sua sexualidade exuberante. Afinal, o que é prazer para ela?

É essa presença única que se vê em “Acende a Luz“, um documentário do selo Mov.doc, do UOL, de Paula Sacchetta e Renan Flumian. Em 11 minutos, Isabel permite que a câmera sensível de Paula revele na intimidade como ela explora sua sexualidade aos 64 anos.

“De vez em quando não gosto da minha bunda, mas acho que estou ótima”, diz Isabel logo nos primeiros minutos. O que se segue mostra que ela não só está ótima, como parece extremamente à vontade, seja nas cenas em que está nua, transando ou conversando com seu parceiro, seja nos takes de entrevista.

Ao Plural, Isabel disse ter sentido medo de que o resultado ficasse pornográfico. “Eu me assustei muito, achava que nada ia dar certo”, diz.

Há sexo no documentário. Isabel aparece acompanhada e sozinha explorando o autoconhecimento que adquiriu nos últimos anos. No entanto, é uma tradução visual de como ela parece abordar seus desejos. “O meu corpo é o que me dá prazer”.

O sexo de Isabel é aquele que explora o imenso repertório de sensações que se encerram no corpo e na mente. Ela não tem pressa, nem expectativas. Apenas o desejo de se permitir ser feliz, de morrer um pouco.

“O retorno que eu tenho é maravilhoso. As mulheres me veem como um exemplo de liberdade”, diz. Isabel acredita que o filme é para mulheres velhas, uma forma de mostrar que a idade não é certidão de óbito da libido, mesmo que a fisiologia não ajude.

“Há um processo natural, de envelhecimento. Mas hoje há maneiras de lidar com isso”, diz. A vontade de olhar o próprio corpo velho e descobrir como ele podia continuar a dar prazer é fundamental.

Talvez alguém se pergunte qual a graça de ver uma senhora fazendo sexo quando a intimidade sexual de tantos está em exposição na internet. O sexo de Isabel não é agressivo nem cheio de adjetivos como o dos canais de pornografia.

Ao contrário, ele é um lembrete bem-vindo de que sexo é intimidade, seja com o outro, seja consigo mesma. E é entrega ao desejo e ao prazer. O sexo dela é diálogo.

“Para mim, o que mais me ajudou foi reconhecer meu corpo, colocar para o parceiro o que eu quero, do que eu gosto. Acho muito importante se conhecer. Conhecer seu corpo fica muito mais fácil”, diz.

Muito diferente da pornografia de internet. “Os jovens estão crescendo achando que o prazer vai ser o que estão vendo. É violento, é machista, é cheio de subtítulos. Bem diferente de um relacionamento. A pessoa acha que a primeira relação já vai ser maravilhosa. Não é bem assim”.

Mais importante ainda, o sexo de Isabel é o sexo da mulher. Ela fala de si, de como se satisfaz, de como faz sexo e do que gosta. É um desafio constante ao senso comum, como o de que o sexo é melhor com o jovem de corpo bonito. “Às vezes o gordinho ou o careca têm uma empatia, um toque. A sociedade cobra um padrão. Me deixa ser velha, ficar com ruga”, diz.

Ela se preocupa também em deixar claro que não desafia o padrão para impor outro. “A manifestação do meu desejo é minha. Ninguém precisa sair com 30 homens. Ninguém. Há várias maneiras de se olhar”, diz.

E o poder dessa sexualidade de mulher, de velha, de quem se conhece, é tanta que, ao estrear no dia 13 de junho, o documentário de Isabel foi acessado por mais de meio milhão de usuários, na capa do UOL.

Quem é Isabel Dias?

Autora do livro “32: um homem para cada ano que passei com você”, Isabel era administradora de empresas em Jundiaí (SP). Casada, teve três filhos (um casal de gêmeos e um menino). Mas decidiu encerrar o casamento quando descobriu que o marido tinha diversas relações extraconjugais.

Foi quando se mudou para São Paulo, capital. “Vim embora pra me esconder. Cidade pequena, todo mundo se conhecia. O anonimato foi a melhor coisa que fiz”, diz.

Na metrópole, Isabel curtiu a fossa e o luto pelos planos interrompidos, começou a se relacionar com outros homens e a escrever.

Hoje ela trabalha como mentora de outros escritores, dá oficinas de escrita e palestras para mulheres. Com a pandemia, Isabel passa os dias protegida em casa, mas acompanha a vida dos filhos e a gravidez da filha. Deve se tornar avó pela primeira vez em breve. “Estou podendo acompanhar de perto”, diz.

Serviço

O documentário “Acende a Luz” está disponível gratuitamente no UOL. E o livro “32: Um homem para cada ano que passei com você” pode ser adquirido pelo e-mail [email protected], ao preço de R$ 50, mais a taxa de envio.

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