Feminismo, maternidade, romances… mais seis dicas de livros para o Natal

Giovana Madalosso, Gisele Eberspächer, Benedito Costa e Matheus Duque Erthal recomendam livros para você

O Plural está fazendo uma campanha para que você dê livros de Natal. Hoje publicamos mais seis dicas de escritores e editores para você saber o que pode agradar as pessoas que você quer presentear. Se não achar aqui, procure nos outros posts:

Livros nacionais
Autoras mulheres
Dicas de editoras locais
Indicações de Cristovão Tezza


GIOVANA MADALOSSO, escritora

Afetos ferozes
Vivian Gornick
Todavia, R$ 64,90 (papel) ou R$ 39,00 (ebook)

Publicado originalmente em 1987, Afetos Ferozes é um das obras precursoras na desmistificação da maternidade. Ainda que atrasado, chega ao Brasil em boa hora, fazendo coro para uma literatura que não aceita mais relações edulcoradas. Nesse livro de memórias que pode ser lido como um romance, mãe e filha andam de braços dados pelas ruas de sua cidade, recordando episódios da vida em família, em uma escrita repleta de humor, fúria e honestidade. Foi eleito o melhor livro de memórias dos últimos 50 anos pelo New York Times.


GISELE EBERSPÄCHER, Tradutora e YouTuber

De quem é esta história? – Feminismos para os dias atuais
Rebecca Solnit
Trad. Isa Mara Lando
Companhia das Letras, R$ 64,90 (papel) ou R$ 39,90 (ebook)

Neste livro de ensaios, a feminista norte-americana Rebecca Solnit reflete sobre os nossos tempos – e mais do que isso, sobre quem conta a história dos nossos tempos. Enquanto minorias ganham voz no debate público, vozes tradicionais tentam manter o poder, e esse é provavelmente um dos grandes embates de hoje. “É fácil presumir que nossas opiniões sobre raça, gênero, orientação sexual e tudo o mais são sinais de uma virtude inerente, mas muitas ideias que circulam agora são presentes que chegaram há pouco, por meio do trabalho e do esforço de outras pessoas”, comenta na introdução. Com exemplos de pessoas que se posicionaram, Solnit mostra questões que envolvem preconceito racial, machismo estrutural ou o negacionismo com a crise climática

Mas o principal motivo para ler este livro – e dar este livro de presente – em 2020 é a maneira com que Solnit vê o mundo. Sim, existem problemas. Sim, é um pouco assustador. Sim, há muito o que se fazer. Mas ela encara tudo isso como uma resposta a uma mudança real, positiva e grande. Solnit põe certas coisas em perspectiva para mostrar os avanços sociais recentes e mostra que as coisas estão um pouco melhores, apesar de poderem parecer muito piores. E dá uma mensagem para o futuro: avante.


MATHEUS DUQUE ERTHAL, editor da Planeta

Nesse final de um ano tão difícil, de tantas formas, faço três recomendações de livros: um nacional e dois estrangeiros, sendo um dos dois escrito em português.

Torto Arado
Itamar Vieira Júnior
Todavia, R$ 54,90 (papel) ou R$ 32,90 (ebook)

Publicado em 2019 e ganhador do Jabuti de Melhor Romance Literário em 2020. Há um pouco de Realismo Mágico e um tanto de realidade cruel e atual na prosa de Itamar. Trabalhadores rurais, vivendo em uma fazenda do Sertão da Bahia sem receber salário, labutam nas lavouras e habitam suas casas de barro construídas sob a autorização temporária do “senhor”. São descendentes de escravizados, negros e indígenas, mas ainda vivendo sob um sistema que guarda fortes semelhanças com a escravidão – traço que teima em persistir na sociedade desse nosso Brasil, em que a abolição foi mal conduzida e sem qualquer tipo de reparação. No romance, acompanha-se a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, filhas do líder espiritual da comunidade de Água Negra. Uma faca com ares míticos marca o destino das irmãs desde a infância: uma delas tem a língua cortada, e a impossibilidade da fala impõe a necessidade de outras formas de comunicação, estreitando o laço entre as duas. Guiado pelos encantados do jarê baiano, Torto arado é romance forte, afetivo, e faz pensar no poder da linguagem como resistência cultural ao silenciamento da população marginalizada e, em especial, das mulheres negras. O primeiro estrangeiro

A cachorra
Pilar Quintana
Intrínseca, R$ 34,90 (papel) ou (R$ 22,90 (ebook)

Nesse livro curto, o primeiro de Pilar a ser publicado no Brasil, fala-se de maternidade, trauma, abuso e desejos. A protagonista é Damaris, marginalizada e negra como Bibiana e Belonísia, também ela marcada pela violência estrutural imposta por uma sociedade altamente desigual, machista e racista. A solidão e o peso de um terrível acontecimento de seu passado são as companhias mais constantes dessa mulher, responsável, com o marido, por cuidar da quinta litorânea abandonada pelos Reyes, família branca e rica que ali costumava viver. A dor sem nome e sem tamanho dessa mulher não pode ser aplacada pela presença de uma criança: apesar das tentativas, Damaris não consegue engravidar. Um dia, no entanto, ela encontra uma cachorrinha órfã na praia e decide adotá-la. Todo o investimento que a mulher guardava para um filho é direcionado, então, à cachorra, e nada na vida de Damaris permanecerá como antes.

Os vivos e os outros
José Eduardo Agualusa
Tusquets – Planeta, R$ 51,90

Livro inédito de Agualusa, considerado um dos maiores escritores contemporâneos de língua portuguesa, esse é um romance sobre o poder transformador e demiúrgico da arte, da literatura e da palavra. Com toques de Realismo Mágico, como em Torto arado, Os vivos e os outros ganhou um status quase profético depois do caos pandêmico de 2020 e da necessidade de isolamento de todos nós, em todo o mundo. No romance, um festival literário na ilha de Moçambique – nos moldes de nossa Flip pré-pandemia – pretende reunir os principais escritores africanos para mesas temáticas e debates. Um pouco antes do início do festival, acontece algo inesperado: uma tempestade terrível assola o continente, e a ilha fica completamente apartada do resto do mundo. Autores e habitantes se veem sem luz, sem internet, sem conseguir se comunicar com nada nem ninguém fora dali, e não é possível saber o que está acontecendo de verdade. Por sete dias, estranhos e misteriosos acontecimentos questionam o que real e o que é imaginado, o que é tempo e destino, o que é fim e recomeço, inquietando os autores convidados, a população local e os leitores: alguns dos personagens dos livros daqueles escritores parecem ter tomado vida, passeando agora pelas ruas da cidade histórica.


BENEDITO COSTA, escritor e colunista do Plural

Quéreas e Calírrioe
Cáriton de Afrodísias
Editora 34, R$ 57,00

O romance grego é um dos mais antigos relatos de que temos notícia que pode ser chamado justamente ‘romance’. Sobraram poucas narrativas com esse modo de se contar uma história, geralmente a de dois amantes que passam por grandes desafios (sequestros, terremotos, guerras, maldições). A partir dessa lista de temas, vc já deve ter percebido o quanto o romance grego faz parte de nossa visão do que venha a ser um romance.

Dos poucos romances gregos que restaram, um é o ‘Quéreas e Calírrioe’, atribuído a um quase desconhecido, Cáriton de Afrodísias. A Editora 34 publicou recentemente uma tradução muito bacana da Adriana da Silva Duarte, que nos presenteia com uma bela introdução. Para quem é das Letras, vai se deliciar com a ideia de cronotopo de Bakhtin (mostrada passo ali nesse livrinho). Para quem não é das Letras, a delícia é a mesma (talvez ainda mais gostosa). Se quiser, pode comparar com histórias árabes ou japonesas sobre grandes amantes. Para ler na praia, num dia de chuva, antes de dormir, com o gatinho no colo.

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