Em “Tenet”, Nolan tenta brincar com o conceito linear de “tempo”

Primeiro grande lançamento cinematográfico desde o início na pandemia, obra do diretor britânico inverte o sentido do próprio tempo

Primeiro grande lançamento nos cinemas desde o início da pandemia de Covid-19, “Tenet” tem direção e roteiro assinados por Christopher Nolan. O longa acompanha um agente da CIA, chamado apenas de Protagonista (John David Washington), que é recrutado por uma misteriosa organização, chamada Tenet, para salvar o mundo.

A ameaça que o Protagonista enfrenta vem do futuro – quando é descoberta uma forma de enviar mensagens e objetos para o passado. Esses objetos experimentam o tempo de forma reversa – o que, nas mãos da pessoa errada, pode levar à aniquilação do planeta. Cabe ao Protagonista, auxiliado pelo engenhoso Neil (Robert Pattinson) e pelos recursos de Tenet, impedir esta catástrofe.

Sobre o tempo

Desde o início de sua carreira, Nolan favorece narrativas que manipulam o tempo, o espaço e a consciência de seus personagens. Em suas produções anteriores, o cineasta frequentemente fez uso de técnicas narrativas de exposição como os letreiros na tela no início de “Dunkirk”, que explicam a passagem do tempo para os espectadores; ou a introdução de Ariadne em “A Origem”, personagem que, sem familiaridade com as regras do universo da história, proporciona um “tour explicativo” por conceitos que os demais personagens já conhecem.

Embora venha acompanhado de uma grande dose dessa exposição narrativa, “Tenet” ainda carece de meios para explicar o funcionamento de sua física. Às vezes, quando tenta expor conceitos complexos, o roteiro parece estar falando com especialistas da área. Em um filme o ideal é mostrar as ideias, não verbalizá-las à exaustão, mas a direção de Nolan também falha na ilustração visual destes conceitos.

A narrativa é constituída de início, meio e fim, mas sua tentativa de inserir uma “não linearidade” na trama acaba entrecortando os eventos do longa, sem maiores esclarecimentos para o espectador. Chega a ser irônico quando, em determinado momento, um personagem recomenda ao Protagonista que pare de pensar no tempo de forma linear para que possa compreender o que acontece ao seu redor, quando o próprio roteiro não consegue escapar da narrativa hollywoodiana clássica.

Por outro lado, as 2h30min de duração de “Tenet” são paradoxalmente curtas e longas. O filme se revela cansativo quando não consegue explicar sua trama, mas ainda emerge como um bem-sucedido representante do gênero de ação. As lutas corporais, perseguições de carro e sequências de guerra são momentos favorecidos pelo uso do IMAX na captura das imagens.

A “donzela” em perigo

Se a dinâmica entre os personagens de John David Washington e Robert Pattinson é interessante e divertida de observar, a de Kat, personagem de Elizabeth Debicki, não oferece o mesmo resultado. Personagem-chave da ação, a esposa do antagonista Sator (Kenneth Branagh) sofre com o olhar masculino da câmera de Nolan. A personagem é constantemente brutalizada e aterrorizada pelo marido, e seu principal traço de personalidade é seu instinto maternal. Para estar perto do filho, Kat tudo suporta – chantagem, abusos físicos e psicológicos, manipulação.

A personagem também se adapta ao que o roteiro precisa: para o Protagonista, Kat é um meio para um fim e uma donzela em perigoPara o marido é apenas a esposa troféu. Para a maioria dos personagens a personagem é descartável, até ocupar o lugar de motivador para o Protagonista.

Infelizmente para “Tenet”, quando o filme finalmente consegue estabelecer alguma profundidade e simpatia para seus personagens, ele acaba. Porém esta é uma obra que pede revisitas, e é possível que um novo olhar revele linhas temporais ignoradas na primeira vista.

Filme

Tenet” tem 2h30min de duração e está em cartaz no Cine Passeio, no IMAX do Shopping Palladium e na rede Cineplus. As sessões diárias são limitadas, assim como o número de poltronas por sala. O uso de máscara durante a exibição do filme é obrigatório.

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