Conheça Alice Guy-Blaché, uma mulher genial que foi a primeira cineasta do mundo

Documentário explica por que Madame Blaché foi ignorada pela história por mais de cem anos, apesar de ter sido uma das pioneiras do cinema

É uma história surreal, narrada pelo documentário “Alice Guy-Blaché: a história não contada da primeira cineasta do mundo”.

Alice, então uma mulher de 21 anos, começou a trabalhar como secretária de um homem influente na Paris do fim do século 19. Ele era empreendedor e investiu um bom dinheiro para desenvolver câmeras capazes de registrar imagens em movimento. A ideia era vender essas câmeras.

A jovem, que havia perdido o pai há pouco tempo, buscava um emprego para sustentar a si mesma e a mãe. Na entrevista com Léon Gaumont, o empreendedor, ele teria dito para ela: “Você parece ser competente, mas é muito jovem”. Ao que a garota respondeu: “Não se preocupe, monsieur Gaumont, isso [a juventude] passa”.

Alice Guy conseguiu o emprego de secretária, depois de ter feito um curso de estenógrafa, uma das poucas coisas permitidas para mulheres em 1895. Com o tempo, ela foi ganhando cada vez mais a confiança de Gaumont até que se ofereceu para produzir os filmes que eram usados como propaganda na venda de câmeras (a empresa Gaumont existe até hoje e é uma rede de cinemas na França, além de produzir e distribuir filmes).

Assim Alice começou a fazer filmes. Mas, enquanto os Lumière e outros aventureiros registravam cenas cotidianas como a saída da fábrica, a chega do trem à estação etc., ela enxergou na traquitana um potencial que poucos foram capazes de ver, e menos ainda de explorar: o de narrar histórias.

Para encurtar, Alice Guy-Blaché (o último sobrenome, ela pegou do marido) foi uma das mentes geniais do cinema, a primeira mulher cineasta e uma das criadoras da narrativa cinematográfica – usando recursos como close, cor e som sincronizado. Ela migrou para os Estados Unidos e fez dramas, tinha timing para comédia, realizou o primeiro filme com elenco só de negros, construiu um estúdio e ganhou dinheiro com cinema.

Dentro do estúdio, ela providenciou uma cartaz enorme que dizia “SEJA NATURAL”, o que era absolutamente revolucionário naquela época, quando a naturalidade diante de um cinematógrafo não era nada comum. Essa recomendação simples, de tão visionária, tornou-se o título original do documentário: “Be natural”.

Hitchcock, em suas memórias, disse ter sido inspirado por Georges Méliès, D. W. Griffith e Alice Guy, nessa ordem e na mesma frase. Sergei Eisenstein, o diretor russo de  “O Encouraçado Potemkin”, descreveu em suas memórias a cena de um filme que o havia marcado na infância, mas cujo título lhe escapava. E tratava-se de um dos filmes de madame Blaché.

Depois de ter conquistado para si uma carreira espetacular como cineasta, uma sequência de problemas financeiros, injustiças e historiadores preguiçosos conseguiu apagar o nome de Alice Guy-Blaché da história do cinema. Quase por completo.

A diretora Pamela B. Green faz um trabalho de detetive, descobre informações há muito guardadas ou esquecidas, encontra imagens raras e entrevista dezenas de pessoas (algumas delas são da quinta geração da família e mal sabiam da existência de Alice). No fim, cria um documentário que faz justiça à memória de uma mulher genial e que é, ele mesmo, um elemento importante nesse processo de redescoberta.

Streaming

“Alice Guy-Blaché: a história não contada da primeira cineasta do mundo” será exibido no festival on-line de pré-estreias que inaugura o Espaço Itaú Play, o serviço de streaming da rede de cinemas. O documentário ficará disponível nesta sexta-feira (19) e no sábado (20), ao preço de R$ 10.

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