Abertura do Festival tem vaias (reais) e quedas (falsas)

Abertura do Festival foi marcada pela valorização da arte, vaias ao representante do governador, e a estreia de um espetáculo de encher os olhos

O convite marca o início do evento para as 20h – quase dez minutos já se passaram do horário inicial e ainda há uma centena de pessoas formando filas do lado de fora do Teatro Guaíra. Só 15 minutos mais tarde a voz da gravação que dá boas vindas reverbera pela plateia – lotada -, anunciando o início do Festival de Teatro de Curitiba.

A atriz Bárbara Paz é anfitriã da cerimônia que dura pouco menos de uma hora. Trajando gravata borboleta, camisa branca, paletó e uma calça cintilante, a entrada da mestre de cerimônias já dá o tom da noite: no meio do palco, Bárbara faz uma reverência. Quando alcança o microfone, aponta para o ponto em que esteve antes e declara: “Isso é sagrado, é razão da minha existência”.

Com mais de 400 apresentações, 2.700 trabalhadores diretos e indiretos, e um público estimado em 200 mil pessoas, a 28ª edição do Festival parece dizer a que veio: “O festival para todos”. Ao longo dos próximos 13 dias, Curitiba irá respirar e viver da arte, seja nas ruas, nos palcos, ou na movimentação que vem com os 6 mil turistas.

Sobem ao palco, ainda, o secretário da Comunicação Social e Cultura do estado, Hudson José, e o diretor do Festival, Leandro Knopfholz. Representando o governador, Hudson iniciou sua fala com um impactante: “Os tempos estão mudando”. A frase, no entanto, termina em vaias quando o secretário complementa, explicando sua presença em decorrência de problemas que Ratinho Jr. teve com um voo comercial. “Não tem mais jatinho particular”, declarou o secretário.

Knopfholz se ateve ao roteiro, argumentando sobre a escolha da peça francesa “Celui que Tombe – Aquele que Cai” para a abertura. “Uma das montagens mais surpreendentes das últimas temporadas europeias”, comentou. Antes de finalizar com agradecimentos, o diretor ressaltou ainda o valor metafórico da peça, atrelando-o ao momento político e social que o país vive: “Acho pertinente o seu título, e a sua metáfora: podemos entender ‘Aquele que Cai’ como sendo todos nós, indivíduos e sociedade. […] Como ainda mostra o espetáculo, aquele que cai também é aquele que se levanta”.

O espetáculo

Às 21h21 as luzes do teatro começam a esmorecer, até que o breu se instale. As cortinas se abrem e revelam uma plataforma suspensa. Sobre ela, cinco corpos descordados. Ao longo dos próximos minutos, a plataforma fará – assim como os artistas – uma série de acrobacias.

Montagem é destaque na Europa / Foto: Géraldine Aresteanu

O retângulo de madeira gira, inclina, sobe, desce, vira um muro, balança. Os protagonistas movimentam-se junto: perdem o equilíbrio, empurram, saltam da plataforma, voltam, andam, são esmagados, ficam pendurados… caem!

A coreografia harmoniosa dos movimentos dos corpos e do objeto remete a um plano sequência: uma ação sem cortes, um movimento contínuo. “São muitos os tombos cotidianos, aos quais todos estamos sujeitos”, alertou Knopfholz minutos antes do espetáculo. De fato, quando os movimentos elevam a tensão, uma criança grita da plateia: “Cuidado!”. E assim seguimos, tentando nos manter de pé sobre essa plataforma instável que é a vida – mesmo quando sabemos que, mais dia, menos dia, seremos também aqueles que caem.

Coreografia harmoniosa entre corpos e objetos é destaque do espetáculo / Foto: Géraldine Aresteanu

Serviço

“Celui qui Tombe – Aquele que Cai”

Quando: 27/3 às 21h
Local: Teatro Guaíra
Ingressos: R$ 70 (inteira) + taxa administrativa

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