O futebol suburbano de Curitiba não é para amadores. A resiliência dos clubes é uma prova. O Operário Pilarzinho, clube tradicional do futebol amador de Curitiba, celebrou seu aniversário no último sábado (29) com um bolo, tarde ensolarada, estádio lotado e vitória nos gramados. A data histórica se juntou à nona rodada da Suburbana 2024, numa partida contra o Santa Quitéria. Na arquibancada de concreto, a torcida embalou o time nos 90 minutos; no campo, os jogadores responderam com uma goleada.
Horas antes da partida, no começo da tarde, a comunidade se reuniu para acender as velas e cantar os parabéns. Troféus, bexigas e imagens do acervo enfeitaram a cerimônia. Diante da decoração, gerações distintas vestiram a camisa e combinaram o “parabéns pra você” com gritos de amor ao clube. A cena é sincera e evidencia a força do futebol de bairro como uma herança que perdura.
Na ativa desde 1951, o clube foi fundado por um grupo de operários que trabalhavam nas fábricas e pedreiras da região do Pilarzinho e Abranches. O futebol começou como um lazer dos trabalhadores nos anos 1930, e se institucionalizou após a Copa do Mundo no Brasil, em 1950. A iniciativa ganhou força assim que foi feita a construção do Estádio Bórtolo Gava, localizado na Rua Amauri Lange Silvério, 1.141.
Respeitado pela história e pelo peso da camisa, o Operário Pilarzinho levantou o primeiro da Suburbana A em 2019, contra o Iguaçu — clube amador mais antigo da Curitiba. Antes disso, foi vice da primeira divisão em 2014 e venceu três vezes a segundona. Em crescente, ganhou visibilidade com as melhorias estruturais do estádio, investimento nas categorias de base e competitividade nos últimos anos.
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Entre lutas e glórias, filas e conquistas, esse amor permanece intacto. Há uma força coletiva e voluntária que conduz a sobrevida de legados. Poucos deles conseguem lucro e acabam conciliando o esporte com outras obrigações. “É um desafio bem grande, porque ninguém aqui trabalha só para o clube. Tenho o meu emprego pessoal e, na noite, começo a cuidar de algumas coisas. Mas esse trabalho é em equipe, hoje tem mais de 15 pessoas se ajudando nisso”, diz o presidente do clube, Amauri Fernandes. E complementa: “Quando surge alguma demanda, gente verifica quem está disponível no momento para poder colaborar”.
Democrático e social, o futebol suburbano é um evento que abrange diversos bairros da cidade. As partidas ocorrem nos finais de semana em horários adequados para todos os públicos e terminam antes do sol se pôr. Além disso, as entradas são gratuitas e livres. Essas combinações resultam em arquibancadas plurais e movimentadas.
“Muitas pessoas estão vindo para o futebol amador para poder assistir ao jogo. Numa partida de futebol profissional você gasta quase 200 reais só para levar sua família. No amador, a entrada é de graça. Você come um pão com bolinho e pode trazer toda a tua família. Vejo que as pessoas estão aderindo ao futebol amador pela elitização do futebol profissional”, relatou Amauri.
Naquele sábado, a festa foi abençoada por uma tarde de tempo agradável e sem chuva. Amantes do futebol gostam desse clima. Com o decorrer do tempo, outros grupos chegavam em massa. No espaço de cimento entre a arquibancada e o campo, crianças correm atrás de uma bola. Numa área da arquibancada, meninas uniformizadas brincam com bonecas. Nas proximidades do bar, as mãos se distribuem entre copos de cerveja e cumprimentos dos amigos. Pagode é a trilha sonora.
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A partida estava marcada para as 15h30, mas os preparativos começaram de manhã. Uma das tarefas da torcida organizada é preparar o ambiente com as cores, bandeiras e faixas. No Estádio Bórtolo Gava, um espaço específico é ocupado pelos adereços de cor azul, vermelho e banco, e instrumentos de percussão. Neste local, fica a Camisa 12, organizada do tricolor.
Idealizada pelos irmãos gêmeos Fabio e Fabrico Saporetti, a organizada acompanha o time desde 2008. Conforme os irmãos, a Camisa 12 surgiu com o princípio de reunir simpatizantes para um movimento de torcidas do bairro. O nome remete a ideia do torcedor como um jogador a mais na partida, e que isso seja uma forma de vencer as disputas. De fato, surtiu efeito. Foram três títulos e um vice nesse meio tempo.
“A gente já frequentava esse estádio há muitos anos, somos moradores do bairro. Costumamos a dizer que, a partir de 2008, passou a se ter um olhar diferente do Operário Pilarzinho. Uma visibilidade maior. A presença do torcedor cresceu e o clube respondeu em campo”, disse Fabio.
Tudo faz sentindo quando o jogo começa. Seguindo o roteiro do futebol raiz, eles usam sinalizadores, fogos de artifício e muita música. A festa é tão grande ao ponto de estimular os jogadores do tricolor e amedrontar os visitantes. Basta uma oportunidade de gol que os decibéis aumentam. Se o jogo fica morno, eles cantam mais alto para acordar o elenco. A distância que separa o campo e torcida é curta, a pressão é grande.
Os irmãos gêmeos vestem os instrumentos e coordenam os cânticos. Sem tréguas, a Camisa 12 não se cansa cantar. Uma dessas vozes é da Eliane Silva, conhecida como “Tia”. Uniformizada com o traje branco da organizada, a Eliane conta que faz de tudo pelo Operário Pilarzinho: viaja, sofre, comemora, ajuda nas vaquinhas. Encara este momento com uma forma de extravasar a rotina apertada da semana. “Venho aqui para cantar o jogo todo e empurrar o time. É um sentimento que não sei explicar, mas não consigo ficar longe daqui. Considero todas essas pessoas como uma família”, afirmou.
O sol vai indo embora no horizonte e sinaliza que a partida está perto do fim. Fora do campo, curiosos se agarram nos alambrados para ver os lances finais. É uma partida controlada, mas o clima segue tenso até o juiz pedir a bola.
O Operário Pilarzinho vence o Santa Quitéria por 4 a 2, e garante a vice-liderança do campeonato. Os jogadores vão até a Camisa 12 para comemorar, sinalizadores iluminam a despedida e todos vão para a casa. No próximo sábado, tudo se repete.
Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, em que o Plural convida jovens de Curitiba e região para falar de suas vidas e comunidades. O projeto tem apoio do escritório de advocacia Gasam.
Absurdo esse barulho de figos em Curitiba! A lei deve ser cumprida, nosso cães sofrem muito com esse barulho !! Falta consciência e respeito ! Fico até altas horas da noite tende que atender meus cachorros por conta da festa sem limites dessa torcida .