Só um terço dos alunos da Rede Estadual acessam sistema on-line de ensino

Também estão de fora 35% dos professores, muitos em trabalho administrativo. Aulas são gravadas por equipe própria e tarefas enviadas e corrigidas automaticamente

O Ministério da Educação (MEC) aceitou nestas semana que as aulas on-line contem como carga horária anual na Rede Pública e Privada no Brasil. No Paraná, foram anunciados os dados sobre a Educação à Distância (EAD) promovida pela Rede Estadual desde abril. Dos 1,3 milhão de alunos, apenas 402 mil (31%) se cadastraram para assistir às aulas pela Internet. 

O conteúdo é produzido e gravado por uma equipe de profissionais da Secretaria Estadual de Educação e Esporte (Seed), transmitido pelo Google Classroom, TV aberta e Youtube, que teve 10 milhões de visualizações até agora.

O sistema on-line também ainda não entrou na rotina de boa parte dos educadores. De acordo com a Seed, dos 63 mil professores da Rede Estadual, 41 mil (65%) acessaram a principal ferramenta do modelo de ensino.

Muitos dos que estão fora são, segundo a Secretaria, professores de zonas rurais, com trabalho interno de suporte pedagógico e administrativo nas escolas ou Núcleos Regionais de Educação (NRE).

“Antes do Covid estavam em sala de aula 45.576 professores. Atualmente temos 41.800 no Classroom. A diferença é de 3.776 (6%). Há casos pontuais daqueles que não estão acessando e que serão analisados futuramente.”

Dos 63 mil professores da Rede Estadual, 7,4 mil são pedagogos, 4,2 mil são diretores, 2,6 mil estão afastados das funções e outros três mil estão afastados para tratamento de saúde, gestação, licença remunerada, licença especial ou em exercício nas APAEs.

Robôs

As lições, e correções, são enviadas automaticamente e provocaram diversos questionamentos nas redes sociais da Seed nos últimos dias, além de reclamações à APP-Sindicato. Os professores dizem que atividades que não são feitas por eles são enviadas para os alunos com seus nomes e fotos, supostamente para fazer parecer que o profissional está por trás daquilo.

“São bots se utilizando de nossos nomes e fotos, com mensagens programadas para parecer um professor. Isso é crime. Estou indignada com a situação”, diz uma professora.

“Os robôs da Seed estão postando conteúdo de madrugada, fim de semana e tarefas de conteúdos que já passaram. Os poucos alunos que estão fazendo a tarefa estão reclamando de estarem sobrecarregados”, diz outro profissional.

Os pais também reclamam. “Estão achando que as crianças são robôs também, são muitas lições enviadas a todo momento, de madrugada, feriado. (…) Meu filho passa o dia todo e não está dando conta.”

Problemas pontuais

A Secretaria de Educação informou que o sistema de envios teve problemas pontuais no último feriado (1 de maio), acumulando conteúdo para alguns alunos. “Isso já foi sanado. E para não acumular tarefas, os professores foram orientados a escolher o que é mais importante agora e subdividir as demais tarefas ao longo das próximas semanas”, esclarece, em nota.

Segundo a Seed, o conteúdo aplicado no Aula Paraná/EaD segue o programado pela equipe pedagógica, que todo ano planeja e define o que é abordado a cada ano letivo. “A elaboração do material e das videoaulas é feita pela equipe da Seed, no entanto, o professor tem autonomia para retirar o material ou incluir novo vídeo, tarefa ou conteúdo na sala virtual no Google Classroom – parceria, sem custos da Seed com o Google For Education.”

A Secretaria considera as aulas e atividades não presenciais como parte do calendário escolar oficial, no qual são validadas presenças, avaliações e notas. “O posicionamento da SEED está alinhado à visão federal.”

O canal de atendimento para os pais é pelo telefone 0800-643-3340.

Eficiente e fácil

O governador Ratinho Jr (PSD) disse, durante a apresentação dos dados da EaD, que essa foi a alternativa encontrada para “fazer com que nossos alunos seguissem tendo aulas normalmente, apesar do vírus. Os números comprovam que a medida é eficiente”, acredita.

O secretário de Educação e Esporte, Renato Feder, na ocasião, disse que tudo é muito simples e fácil. “O aluno pode acessar com o e-mail pessoal @escola e a data de nascimento, pelo celular. Não precisa de computador e também não consome os dados de internet. (..) Foi até o Google, acessou, a presença é marcada automaticamente.”

Não tem como dar certo

Desde o ano passado a APP-Sindicato, que representa os professores e os funcionários da rede estadual de ensino, diz que vem questionando a Seed sobre a utilização de novas tecnologias pelos educadores. “Eles dizem que aqueles que não têm equipamento ou acesso à Internet devem ir até a escola para usar o equipamento de lá. Mas isso é ainda mais difícil com a pandemia”, diz o presidente do sindicato, Hermes Leão.

Segundo ele, percebe-se uma dificuldade muito grande pela ausência de preparo e planejamento. “Não está dando certo, nem para a categoria nem para os estudantes. Todo esse dinheiro aplicado em plataformas privadas pra esse retorno? Essa proposta não é uma EaD e não tem como dar certo num processo de ensino-aprendizado. A universalidade da oferta e das condições de ensino não estão sendo respeitadas”, acredita o representante dos professores, destacando que as reclamações à entidade são constantes.

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