Chuva intensa em Curitiba só em janeiro

La Niña reduz expectativa de recuperação da seca; verão será mais frio e menos chuvoso

“O La Niña é um sinal de alerta. Não é uma coisa concreta de ‘vai ficar pior’, mas dificulta um pouco a perspectiva de melhora”, afirma o pesquisador e especialista em secas Pedro Fontão, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No último dia 10, a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) confirmou que estamos passando por um período de La Niña. O fenômeno reduz o volume de chuvas na região Sul do Brasil, o que deve prorrogar a estiagem no Paraná. Chuva intensa e boa mesmo, só em janeiro, e talvez.

La Niña já é um velho conhecido do estudo meteorológico e acontece a cada sete ou dez anos. “É uma anomalia conhecida, até antiga. Os Incas já monitoravam, tinham uma ideia sobre o El Niño”, diz Fontão. Ele é caracterizado por um resfriamento atípico das águas do Pacífico Equatorial, próximo à região do Peru, e tem impacto global.

No hemisfério norte, o fenômeno é responsável por agravar a temporada de furacões, enquanto no Brasil traz mais chuvas para a região Nordeste, e diminui a possibilidade de grandes volumes de água no Sul do país. A questão é que, desde meados de 2019, o Paraná tem registrado chuvas abaixo da média, que resultaram em uma seca rigorosa nos últimos meses. 

Imagens do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) explicam repercussão do fenômeno ao longo de junho, julho e agosto. Imagem: CPTEC

O La Niña não é responsável pela seca, que já se tornou um problema localizado do Estado, mas coloca um horizonte mais sombrio na situação hídrica paranaense. Nesse sentido, uma situação que já era ruim pode ficar pior: para normalizar o abastecimento de água, o Paraná precisava de chuvas acima das médias históricas. “A gente tende a ter um verão um pouco mais frio que o habitual, e menos chuvoso. Essa seria a, entre aspas, ‘repercussão’ do La Niña em Curitiba”, fala o pesquisador. 

Nem tudo está perdido

Apesar da perspectiva pessimista, Fontão destaca que o estudo meteorológico não é uma ciência matemática, e que previsões que avançam mais de três meses sempre podem ser revistas. Em outras palavras, no que diz respeito a questões climáticas, tudo pode acontecer. 

Imagens do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) explicam repercussão do fenômeno ao longo de dezembro, janeiro e fevereiro. Imagem: CPTEC

Mesmo se o prognóstico negativo para chuvas no Paraná se confirmar, seria insensato botar a culpa toda no La Niña. “Não existe estimativa de chuva muito acima da média, ou chuvas consideráveis, para o próximo verão. O que dificulta um pouco mais, pensando que precisamos de mais chuva do que o normal”, afirma o especialista. A princípio, Curitiba só deve ver chuvas mais intensas – talvez – por volta de janeiro de 2021. 

Sistema integrado

Pensar em um acontecimento nas águas do Oceano Pacífico, na região Equatorial, pode soar como algo distante, mas Fontão relembra que o planeta Terra é um sistema integrado. “O clima é um sistema global. Quando você afeta uma área, pode acabar repercutindo em outra”, diz. 

“O fenômeno muda um padrão de circulação da atmosfera, no caso, aquilo que estamos esperando para a primavera e para o verão. Como a circulação atmosférica é global, qualquer anomalia em uma região acaba fazendo com que os ventos e a pressão atmosférica mudem”, afirma sobre as repercussões em terras paranaenses. 

Outros tempos

A última vez que o fenômeno apareceu foi em junho de 2010, em uma de suas versões mais intensas. Com mais de um ano de duração, suas repercussões climáticas puderam ser acompanhadas até o começo de 2012. Mas há uma boa notícia: tudo indica que, desta vez, o La Niña será de intensidade média ou fraca, o que diminui um pouco a “bagunça” climática causada por ele. 

Numa parceria entre o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), um estudo realizado em 2012 constatou relação direta entre a duração (e a intensidade) do fenômeno e as consequências observadas no Paraná. A pesquisa indica que, quando o La Niña é mais extenso, há maior possibilidade de ocorrer volumes de chuvas abaixo da média histórica. 

Nesse acontecimento anterior, de 2010, no entanto, Curitiba não passava por uma seca. Talvez por isso as consequências tenham sido mais discretas. É curioso observar que a seca de 1985 ocorreu em período de La Niña. O mesmo vale para 1975, ano famoso porque foi quando nevou na Capital paranaense.

“Daqui para a frente, existe uma expectativa menos otimista de recuperação da seca”, afirma Fontão. O jeito é torcer para que a imprevisibilidade climática da região, dessa vez, dê uma mãozinha para os curitibanos.

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