Professores estão há 150h sem comer

Protesto entra no sétimo dia e governo continua em silêncio sobre reivindicações

Sensação de desmaio constante, tremores, dores musculares e abdominais, muito enjoo, dor de cabeça, sensação de morte. É o relato de um dos educadores que permanecem em greve de fome desde o dia 19 de novembro, em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba. “Mas é ainda mais sofrido o governo permanecer ignorando nossa pauta. Estamos aqui por 30 mil profissionais que dedicaram suas vidas pela Educação”, revela Taís Adams, professora de Piraquara, nas redes sociais.

“Fisicamente, além das dores musculares e articulares, passei a sentir câimbras. E um gosto amargo na boca que não resolve com água ou com higiene bucal. Os braços doem muito para segurar o celular e escolar os dentes; não tenho força para movimentos básicos sem sentir dor, o mínimo esforço, como dobrar uma coberta, me leva à exaustão, os batimentos cardíacos disparam e é necessário me deitar novamente. Mas dói mais a invisibilidade, as grandes mídias tradicionais não vêm aqui, nem nos noticiam faz cinco dias”, desabafa a professora.

Taís Adams faz relato emocionada. Foto: Facebook

Segundo o médico César Monte Serrat Titton, da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – Núcleo Paraná (ABMMD/PR), que acompanha os grevistas, apesar das condições, eles têm conseguido se manter hidratados mas sentem muita tontura, dores musculares e de cabeça, além de ansiedade. “Avaliamos dados vitais, sintomas e grau de perda ponderal, revisamos histórico de doenças, medicamentos e alimentação prévia”, conta o médico, lembrando que os profissionais são avaliados diariamente, considerando a literatura científica sobre riscos em greve de fome e estratégias de realimentação.

“Por enquanto, os principais riscos são desidratação e sintomas diversos por redução nos níveis de eletrólitos no sangue. E temos que nos antecipar em prever riscos quando da realimentação, que também demandará cuidados, pois em casos de jejum muito prolongado, muita perda ponderal ou comorbidades, o final de uma greve de fome e retorno à alimentação também implica em riscos de vida”, ressalta o médico.

Titton lembra que há ainda o risco de hipotensão e de maior vulnerabilidade caso contraiam Covid-19. “Estamos monitorando oximetria entre os dados vitais, e todos foram testados para Covid nos últimos dias, mesmo assintomáticos.”

Foto: APP-Sindicato

Protesto

Os profissionais da Educação – que no início eram 47 e agora são 9 – estão há 150 horas sem ingerir alimentos. Eles reivindicam a suspensão da prova presencial no Processo Seletivo Simplificado (PSS), que deve reunir cerca de 50 mil pessoas em dezembro. O processo – que deixará desempregados 30 mil trabalhadores temporários em atividade – permite a contratação, por um ano, de professores e funcionários de escola, sem garantias nem estabilidade.

O que se pede é concurso público, não realizado no Paraná desde 2013. Além disso, a categoria solicita o pagamento de promoções e progressões de carreira e a manutenção do ensino noturno nas escolas incluídas no processo de militarização.

“Tentamos dialogar, entramos com ações judiciais, fizemos passeatas, atos (mantendo distanciamento social, usando máscara, álcool 70), usamos caminhão de som, acampamos na frente da Assembleia Legislativa. A resposta quanto às demissões foi todas as vezes a mesma: nenhuma”, destaca a professora Taís. “No meio de uma pandemia, sem leitos de internação para Covid19, estamos cada dia mais debilitados e expostos à contaminação. Nunca imaginei que essa ação tão radical, que envolve risco para nossas vidas, fosse necessária em um governo democrático.”

Apoio virtual

Em apoio aos manifestantes, a APP-Sindicato organiza uma mobilização virtual nesta quarta-feira (25) e pede o apoio de toda sociedade.  “A ação tem início às 20 horas, para demonstrar respeito e força para os(as) guerreiros(as) que continuam em greve de fome. Para demonstrar respeito e confortar os(as) professores(as) e funcionários(as) de escola que se mantém firmes em sua ação, a APP-Sindicato convida a categoria, estudantes, pais e mães e comunidade escolar para participar de um ato virtual. O sindicato solicita para que sejam enviadas fotos e vídeos com velas, lanternas e pratos vazios utilizando a hashtag #fomedejustiça”, destaca a entidade.

Uma assembleia estadual extraordinária também está marcada para amanhã, dia 26, de forma virtual. Em pauta, a greve geral da categoria.

Seed

Novamente procurada pelo Plural, a Secretaria Estadual de Educação (Seed) informou que não irá se manifestar a respeito da greve de fome dos professores.

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2 comentários em “Professores estão há 150h sem comer”

  1. Força aos nossos professores! Persistam na greve e não esmoreçam. Darei todo apoio moral, inclusive poderei levar algumas marmitex à noite quando ninguém estiver olhando.

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