Mães pela Diversidade: o amor contra o preconceito

Grupo de mães ajuda pais a entenderem orientação sexual dos filhos

Os adesivos que adornam a porta do apartamento, no Juvevê, não deixam dúvidas de que cheguei à residência de uma Mãe pela Diversidade. As cores da bandeira do arco-íris compõem a maioria deles. Quem me recebe é Marise Félix, professora aposentada e atualmente coordenadora do coletivo no Paraná.

Mãe de três filhos, Marise começou sua caminhada por esse universo há cerca de 15 anos, quando se propôs a estudar a homossexualidade por conta de uma das “crias”. A pesquisa a levou até um grupo de pais de LGBTIs, em São Paulo: “Vi meio por acaso, na chamada de capa de uma revista”, relembra. Dos encontros, a professora foi aprendendo a lidar com a questão da sexualidade, e formas de acolher pais. “Sou de uma geração que não falava sobre isso [homossexualidade]”, ressalta.

“Engraçado, depois do Mães meu guarda roupa fico mais colorido”, brinca a psicóloga Denise Villarinho, mãe de três rapazes. Ela integra o grupo há pouco mais de dois anos, à época, procurava por suporte. “Cheguei pelo medo, tinha medo de perder meu filho. Estava apavorada, ao ponto de dormir com ele do lado da cama”, conta. Um dos moços passava por um momento difícil, em razão da descoberta de sua sexualidade. Na coletividade, Denise procurou por respostas.

A diversidade da ONG não se baseia apenas na defesa das diferenças –  também são múltiplas as histórias de quem compõe o coletivo. A estudante de psicologia e mãe de dois Giselda Dittrich é recém-chegada e veio procurando trabalhar pela causa. “Vim para participar, mas sabendo que preciso aprender tudo. É um mundo novo para mim”, ressalta.

Da esquerda para a direita: Marise Félix, Giselda Dittrich e Denise Villarinho – Mães pela Diversidade no Paraná. Foto: Giorgia Prates/Plural.

O movimento político suprapartidário, que nasceu em 2014, tem abrangência nacional e busca reunir pais da comunidade hoje chamada de  LGBTQIA+. A ideia é trabalhar em prol dos direitos civis da comunidade, em especial, por meio da conscientização. “O Mães tem esse papel social que é muito importante: de conscientizar as pessoas – não necessariamente mães ou pessoas LGBTI”, salienta Marise. Em todo país, o grupo conta com cerca de 2 mil integrantes.

O acolhimento de pais também é parte importante das ações do grupo. “Os jovens também precisam entender que não é da noite para o dia que os pais vão aceitar”, aponta a coordenadora ao relembrar que, assim como os filhos, eles foram educados na mesma sociedade. Para Denise, o processo  leva tempo, mesmo para quem já participa ativamente do coletivo: “Nós também passamos por um aprendizado, por uma desconstrução desse modelo arcaico – e ela acontece aos poucos, não é de um dia para o outro”, salienta.

A mudança, segundo elas, é unanimidade entre as integrantes do Mães. “Quem está  há algum tempo no grupo costuma dizer: ‘Eu sou uma pessoa diferente agora. Existe um antes do grupo, e um depois, na minha vida’. Isso é muito importante”, destaca Marise. Outro ponto que se altera ao longo da caminhada coletiva é a motivação: se de início a procura se dá em razão dos próprios filhos, o senso de cuidado acaba se estendendo para além. “É por todas, todos e todes“, reforça Denise. Para a psicóloga, é dessa sustentação que vem a força do grupo.

“O mães é para isso, para remodelar, desconstruir”, constata Marise Félix

Atualmente, entre as pautas – e lutas – do grupo estão políticas ligadas à comunidade LGBTQIA+, e o reconhecimento da existência dessas pessoas desde a infância. “Não existe legislação, apenas determinações do Supremo, que ainda não são leis”, frisa Marise ao falar do casamento civil igualitário, da adoção de crianças por casais homossexuais, e da criminalização do preconceito. “Não podemos esmorecer”, pontua Denise. Enquanto ativistas, as mães estão sempre atentas e buscam difundir informação sobre os assuntos de interesse da comunidade.

Angariar aliados também é um papel que as militantes tomam para si: “Onde a gente menos espera, conquista um aliado. E isso dá resultado”, comenta Marise. O grupo busca usar o que chamam de “bônus de ser mãe” para se fazer ouvir em diversas esferas. “Mãe tem um apelo muito forte, e a gente tem que se apropriar disso”, afirma a coordenadora.

Coletivo reúne mães do Paraná e pretende se expandir. Foto: Giorgia Prates/Plural

E as coisas reverberam. Mesmo atuando no Paraná, o grupo já teve comprovação da força do coletivo: em uma viagem à cidade de São Paulo, um rapaz abordou o grupo para agradecer por um vídeo em que Marise falava sobre o assunto. O desconhecido contou que mostrou o material para a própria mãe, que estava com dificuldades de lidar com a sua saída do armário. “Isso é gratificante, é impagável”, comemora Denise. “Isso é o Mães“, resume Marise.

Hoje, o grupo não tem sede, nem faz reuniões constantes, mas se mantém fazendo ações pontuais e investindo na causa do próprio bolso. Os planos, no entanto, são de se estruturar e dar mais corpo ao coletivo. Isso tudo, claro, sem perder o foco: “É importante continuar estudando, pesquisando, lendo, participando dessas ações, porque tem muita gente que precisa, muita gente que está crua”, ressalta Marise.

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