Grupo extremista ataca seminário virtual do IFPR

Agressores interromperam o evento com mensagens racistas, imagens pornográficas e gritos de 'Bolsonaro'. Ao menos seis invasões semelhantes ocorreram em conferências virtuais nos últimos dois meses

Seguindo a onda de ataques virtuais a conferências realizadas por instituições de ensino e pesquisa, um grupo de militantes extremistas entrou na sala do seminário virtual do VI Encontro das Ciências Sociais do IFPR (Instituto Federal do Paraná) de Paranaguá, no início do mês de junho. Com música alta e imagens pornográficas, os invasores proferiram ameaças e ofensas de caráter racista e misógino, além de gritarem o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro.

O encontro é realizado semanalmente pelo GoogleMeet, a fim de manter as atividades acadêmicas durante a pandemia. Como é aberto ao público, a coordenadora da licenciatura em Ciências Sociais do IFPR e responsável pela organização do evento virtual, Patrícia Martins, autorizou a entrada do grupo sem imaginar o que estava por vir. Os mais de 70 ouvintes acompanhavam o debate sobre o atual cenário brasileiro na pandemia quando cerca de dez usuários pediram para entrar na sala virtual e interromperam a discussão.

“A gente conseguiu ir controlando e removendo um por um, mas durou uns 20 minutos todo esse processo de remover os intrusos e poder retomar o debate. Foi terrível, um susto muito grande. Gerou um pânico, porque a gente não sabe o que é, se é robô, se é pessoa de verdade, se está próximo, longe. E havia pessoas ali de várias idades; tinha gente assistindo a live com seus filhos. Aquelas cenas todas geraram um certo constrangimento também entre os professores convidados. Foi um terror”, lamenta Patrícia.

No dia do ataque, participavam da discussão os cientistas políticos e o professores Marcos Vinícius Pansardi (IFPR) e Alexsandro Eugênio Pereira (UFPR). Após o ocorrido, um novo sistema foi adotado para inibir novos ataques. O link do encontro não é mais enviado junto com a divulgação e os interessados devem preencher um pré-cadastro no Google Forms, de forma que os dados dos participantes fiquem registrados e possam ser consultados na hora de autorizar a participação.

“A gente espera que tenha controlado e inibido [os ataques] nesse sentido, mas agora a gente fica sempre naquela tensão e tenta realmente ver se não tem nenhum suspeito infiltrado”, conta Patrícia. O intuito dos agressores, segundo ela, é que a sala seja fechada e o debate encerrado.

O IFPR fez um boletim de ocorrência junto à Delegacia de Crimes Cibernéticos e aguarda retorno. A Polícia Civil afirma que o caso está sendo investigado e que crimes como esse se enquadram em calúnia, difamação e injúria.

Onda de ataques

Imagens com suástica foram publicadas durante a discussão on-line. Foto: Reprodução

Uma semana depois da invasão à sala virtual do IFPR, incidente semelhante foi registrado em encontro promovido pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis. O debate sobre práticas antirracistas foi interrompido por imagens de decapitação, masturbação, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica.

Ao menos outros cinco eventos, com temas relacionados à pandemia, à diversidade e à conjuntura política no país, sofreram invasões com o mesmo padrão de operação nos últimos dois meses.

A onda de ataques teve início em abril, em uma vídeo-chamada organizada pela SBI Imuno e pela Agência Bori, pelo aplicativo Zoom. Cerca de 60 participantes discutiam sobre a pandemia do coronavírus quando foram surpreendidos por imagens de Hitler.

Em maio, um debate sobre divulgação científica, organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, foi interrompido por ofensas racistas e saudações nazistas.

Em 8 de junho, um debate universitário sobre negritude, com professores da Universidade Federal da Bahia, também foi interrompido por imagens de conotação racista.

Um dia depois, o webinário Atlântico Negro, organizado por professores da Unicamp, foi igualmente invadido por vozes e imagens agressivas. Em nota, a universidade afirma que o gesto “violento e autoritário procura também, por meio da intimidação, calar os avanços que a sociedade realizou nas últimas décadas no reconhecimento da injustiça representada pela escravidão. Procura, na mesma lógica racista que sustentou a escravidão, ocultar a competência intelectual dos negros, impedir sua manifestação pública e seu direito elementar de ter protagonismo na construção do conhecimento a respeito de sua própria história”, rebateu a instituição.

No mesmo dia, um evento organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da UFRJ foi alvo de “invasão promovida por um grupo neonazista durante o evento do Conhecendo o CACO na plataforma Zoom”, segundo nota emitida pelos acadêmicos. Segundo os representantes, os agressores projetaram imagens nazistas, vídeos de pornografia e fotos de pessoas mutiladas.

Imagens pornográficas apareceram na plataforma de reuniões. Foto: Reprodução

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