No Brasil eles duram, no máximo, 20 dias. No Paraná, os bloqueadores neuromusculares dois dias e os sedativos uma semana. É a previsão do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) sobre os estoques públicos de medicamentos para intubação. O governo paranaense já ligou o sinal de alerta para o risco de desabastecimento, visto o aumento de internações recordes dos últimos dias. A Rede Privada não consegue mais comprar, nem remédios nem respiradores, e conta apenas com o que já tem.
Os remédios, anestésicos e relaxantes neuromusculares, são usados para sedar os pacientes na hora da intubação e mantê-los sem dor. “A pessoa quando não está sedada começa a brigar com o respirador, e aí acontece aquelas cenas que vimos em Manaus, paciente amarrado na cama, é muito difícil”, diz Flaviano Ventorim, presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar).
“Todos os anestésicos de uso em intubações e UTIs estão em falta. Os fornecedores começaram a derrubar pedido, já nem respondem. Quem tem estoque, está se virando com o que tem. Quem não tem estoque vai ter que fechar leito.”
Outro problema imediato enfrentado pelos hospitais particulares é a falta de respiradores e monitores cardíacos, essenciais para leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Você até consegue encomendar, mas eles demoram dias pra chegar, 20, no mínimo 10 dias, e são equipamentos médios, não os melhores; são os que o Ministério da Saúde está comprando para enviar para os hospitais”, afirma Ventorim.
Ele conta que o Hospital Nossa Senhora das Graças, onde atua como diretor-executivo, já teve problemas para compra de respiradores e precisou alugá-los para expandir leitos.
O Hospital Nossa Saúde, que pretende ampliar 12 leitos, também confirma a dificuldade em comprar novos respiradores e monitores cardíacos. O jeito foi alugar de clínicas fechadas pela pandemia.
Além disso, tem a falta de profissionais. “Quem conseguir comprar respirador e ampliar leito, não terá profissionais para atender”, alerta o presidente do Sindipar.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) afirma, em nota, que ainda não há falta de respiradores nas unidades próprias e que todos os leitos que foram habilitados estão com equipamentos em funcionamento. “A Sesa realizou compras próprias, recebeu doações da iniciativa privada e também envio de equipamentos pelo Ministério da Saúde. Ressaltando que no último ano o Paraná foi destaque por ser o Estado que pagou mais barato por respiradores no Brasil, uma média de R$ 40 mil cada.”
Regulação
Segundo Venturim, há uma preocupação de que haja regulação governamental dos estoques e prejudique a distribuição de medicamentos e respiradores. “Nosso receio é o Ministério da Saúde requisitar os estoques da indústria e distribuir como desejar; e os hospitais privados não estão no mapa do Ministério, mas também atende Covid, infarto, AVC.”
Foi exatamente o que solicitou a Conasems: a regulação do Ministério da Saúde na produção da indústria brasileira de medicamentos, para que não falte nos hospitais de referência e nas unidades que estão no plano de contingência.
A preocupação dos hospitais está ainda com outros procedimentos que necessitam destes remédios, como as cirurgias de emergência para acidentes de trânsito ou domésticos. A situação já vem ocorrendo no Hospital do Trabalhador (HT), em Curitiba, que não recebe mais o anestésico propofol, em falta na Central de Medicamentos do Paraná. Com isso, o medicamento vem sendo usado exclusivamente para pacientes Covid.
Respiradores manuais
Na Rede Municipal, a falta de equipamentos também é evidente. A Secretaria Municipal da Saúde informou, em nota, que “está diariamente avaliando a situação, com estratégias complexas, que não se resumem exclusivamente a adquirir ou alugar mais equipamentos, mesmo porque os recursos são finitos e há falta destes materiais no mundo inteiro”.
Nos últimos dias, foram muitas as denúncias que o Plural recebeu e que levavam um verbo criado pelos profissionais da saúde: “ambuzar”. Isto significa usar um instrumento chamado “ambu”, que simula um respirador manual.
Diversos casos relatam que no sistema público, por falta de respiradores, os funcionários estão “ambuzando” os pacientes por horas. “É muito cansativo. Ficamos ‘ambuzando’ com as mãos e agora faltam até profissionais para fazer isto”, garante uma funcionária da UPA Sítio Cercado, que prefere não se identificar.
Ela ainda afirma que os monitores – que entre outras funções controlam a frequência cardíaca e o nível de oxigênio do paciente – estão sucateados. “Poderiam ter comprado novos aparelhos antes”, afirma. Por lá, existem apenas 7 monitores e 5 respiradores, apesar do bairro Sítio Cercado ser um universo de aproximadamente 115 mil habitantes.
Já na UPA Pinheirinho, outro funcionário relata que, na busca por ventiladores, o que recebeu como resposta da Secretaria de Saúde foi que deveria “ambuzar” pacientes, até a chegada do SAMU. Quando questionado sobre o tempo de duração que chegou a durar este processo, ele disse “o tempo que a gente aguentar. Já tiveram colegas que ficaram de 40 minutos a 2 horas no ambu”.