Escolas denunciam falta de professores nas salas de aula

Pelo menos 42 instituições da rede municipal de Curitiba precisam de educadores, inspetores e pedagogos

A rede municipal de ensino de Curitiba está sofrendo com a falta de professores. Pelo menos 42 escolas estão solicitando, temporariamente, professores, secretários, pedagogos e inspetores. O cenário de déficit de profissionais, no entanto, afeta praticamente todas as 185 instituições de ensino da capital, segundo o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac).

“A gente está num processo de falta de professores já há algum tempo, pois ficamos um longo período sem concurso público. Todo ano começamos com esse déficit que cada vez tem sido maior. Sem plano de carreira e com o salário congelado, muitos professores exoneraram seus padrões, assumindo vagas em outros municípios ou mesmo contratos temporários na busca por maior remuneração. Também tivemos muitas aposentadorias nos últimos anos e essas vagas não foram preenchidas”, afirma a diretora do Sismmac Adriane Alves da Silva.

Adriane conta que, ao sindicato, pelo menos três escolas municipais denunciaram a falta de profissionais. A Albert Schweitzer, no CIC, precisa de professores de Ciências, Artes e Ensino Religioso para alunos do 1º ao 5º ano, enquanto na Escola Noely Simone De Ávila, no Prado Velho, faltam 12 professores, oito à tarde e quatro pela manhã, além de duas inspetoras. Em outra instituição, na Júlia Amaral Di Lenna, no Barreirinha, faltam educadores de Geografia. 

“Os professores estão sobrecarregados tendo que assumir responsabilidades e funções que não seriam deles. Falta inspetor, secretário, pedagogo. E a escola tem que se virar e funcionar de qualquer jeito”, diz Adriane.

Falta de professores

Atualmente, segundo a diretora do Sismmac, não há profissionais nem para cobrir as vagas de RIT, que são como um bico em que o trabalhador da área de Educação atua em seus horários livres. Uma página no Facebook, criada em janeiro de 2018, publica ofertas de RIT para profissionais em Curitiba. Só em 2023, foram 49 publicações solicitando profissionais para atuar em pelo menos 40 instituições da capital (veja lista abaixo). A grande maioria dos pedidos é para pedagogos, mas há para professores e regentes também. Os números variam, mas há instituições solicitando de dois a cinco profissionais. 

A pedagoga de uma escola municipal em Santa Felicidade, que prefere não ser identificada, conta que há falta de nove profissionais, sendo dois secretários, um pedagogo, dois inspetores e quatro professores.

“A nossa unidade sofre com falta de profissionais desde o ano passado. Os professores estão ajudando como podem, fazendo a matrícula das crianças, por exemplo. Agora temos que dar conta de atender todas as modalidades de ensino que a escola oferece e mais demandas que não são nossas. E estamos sem telefone. É uma falta de infraestrutura em todos os sentidos. É um caos.”

Em outra instituição de Santa Felicidade, no Centro de Educação Infantil (CEI) Raoul Wallenberg, há um déficit de 15 profissionais (dez professores, quatro inspetores e um pedagogo). “Nós sempre fomos uma escola sem rotatividade de professores, o que garantia uma estabilidade. Mas houve um esvaziamento do interesse dos profissionais de trabalhar no ensino regular pós-pandemia por conta da recomposição do ensino, da defasagem dos estudantes e da falta de apoio da própria secretaria”, afirma Denise da Silva Lipinski Godoi, regente e pedagoga da instituição há 16 anos.

Denise conta que, em determinado momento, após denunciar a situação do CEI, o Núcleo Regional de Educação lhe disse que “apesar de não ter professores, as turmas não estavam desamparadas e que era responsabilidade da equipe gestora organizar os profissionais para atender a demanda”. 

Agora, a partir de solicitações da comunidade escolar, a instituição está recebendo auxílio de cinco funcionários do Núcleo até que sejam contratados novos professores para suprir as ausências. 

A pedagoga de uma escola no Campo Comprido que atende 300 estudantes relata que desde 2016 – ano que iniciou a atuar na unidade – o quadro de professores do período da tarde (composto por 14 profissionais) sempre teve vagas em aberto. Este ano, a escola conta com cinco educadores fixos e seis RIT.

“A nossa escola trabalha precariamente com falta de professores. Nós atuamos sempre no limite. Uma falta que ocorra, mesmo de licenças curtas (como gestação ou luto, por exemplo), já é desesperador. Isso, na verdade, é um grito de socorro”, disse.

Foto: Secretaria Municipal de Educação (SME)

Sem concursos e modalidade integral

De acordo com a diretora do Sismmac, mesmo com a contratação dos professores pelo último concurso público feito pela prefeitura em agosto do ano passado, a demanda das instituições não será suprida. 

“A prefeitura já deveria ter se organizado para [contratar profissionais para] esse início de ano, o que mostra que a gestão não tem planejamento. Ela diz que vai aos poucos colocando professores PSS [Processo Seletivo Simplificado] enquanto não tiver esse profissional do concurso, e nem pra isso se organiza.”

Para completar o contexto de déficit desses profissionais, Adriane lembra da adoção do ensino integral em todas as escolas da cidade, que, como já mostrou o Plural anteriormente, teve de ser adiada justamente por que as escolas não têm educadores suficientes para atender a modalidade.

“As crianças estão fazendo a hora do soninho amontoadas porque não tem espaço, não foi adequado mobiliário, elas estão comendo nas salas porque não tem refeitório. É uma série de coisas que não foram previstas. A prefeitura está implementando o ensino integral, mas com que condições estruturais e de profissionais?”, questiona Adriane.

O que diz a Secretaria de Educação

Ao Plural, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que, atualmente, a rede conta com cerca de 17 mil profissionais, entre professores, pedagogos, inspetores e auxiliares, atuando nas 185 escolas e 230 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e atendendo 140 mil estudantes.

Segundo a pasta, “o trabalho de contratação de professores é permanente no município”, sendo que o último concurso público realizado oferecia 589 vagas. Desse total, 256 eram para professor de Educação Infantil, 175 para auxiliar de Serviços Escolares, 147 para profissional do Magistério Docência I e 11 para profissional do Magistério Docência II – Educação Física.

Em 2022, foram chamados pelo PSS 1.554 profissionais, entre educação infantil, docência I e docência II. Os candidatos para a função pública de professor de Educação Infantil foram convocados em janeiro deste ano.

Conforme a secretaria, estão previstos mais chamamentos pelo PSS entre o final de fevereiro e início de março.

Instituições com falta de profissionais  

  • Escola Municipal Itacelina Bittencourt, em Guaíra
  • CMEI Palmeiras, no Tatuquara
  • CMEI Barigui, no CIC
  • CMEI Sonho de Criança, no Ganchinho 
  • CMEI Parigot de Souza, no Sítio Cercado
  • CMEI Rio Negro, no Sítio Cercado
  • CMEI Novo Horizonte, no Sítio Cercado
  • CMEI Riad Salamuni (Diadema II), no CIC
  • CEI José Lamartine Corrêa De Oliveira Lyra, no Pinheirinho
  • CMEI Hugo Peretti, no CIC
  • Escola Municipal Coronel Durival Britto e Silva, no Cajuru
  • CMEI Nossa Senhora de Fátima, no Abranches
  • CMEI Maria Aparecida Buscardin Hartmann (Cachoeira II), no Cachoeira
  • Escola Municipal Doutor Osvaldo Cruz, no Novo Mundo
  • Escola Municipal Professora Maria de Lourdes Lamas Pegoraro, no Cajuru 
  • Escola Municipal Professor Dario Persiano De Castro Vellozo, no CIC
  • CMEI Santa Amélia, no Fazendinha
  • CMEI Abaeté, no Boa Vista
  • Escola Municipal Nova Esperança, no Fazendinha
  • CEI do Expedicionário, no Novo Mundo
  • Escola Municipal Júlia Amaral Di Lenna, no Barreirinha
  • Centro de Educação Infantil (CAIC) Cândido Portinari, no CIC
  • Escola Municipal Rachel Mader Gonçalves, no Uberaba
  • Escola Municipal Wenceslau Braz, no Boqueirão
  • Escola Municipal Dona Lulu, no Sítio Cercado
  • Escola Municipal Germano Paciornik, no Boqueirão
  • CMEI Vila Lorena, no Uberaba
  • Escola Municipal Colônia Augusta, no Augusta
  • Escola Municipal Graciliano Ramos, no Fazendinha
  • Escola Municipal Álvaro Borges, no CIC
  • Escola Municipal Batel, no Centro
  • Escola Municipal Presidente Pedrosa, na Vila Izabel
  • CEI Padre Francisco Meszner, no CIC
  • CMEI Jardim Paranaense, no Alto Boqueirão
  • Escola Municipal Pró-Morar Barigui, no CIC
  • CEI Augusto César Sandino, no Santa Cândida
  • Escola Municipal Prefeito Linneu Ferreira do Amaral, no Cajuru
  • Escola Municipal Vereador João Stival, no Butiatuvinha 
  • Escola Municipal Paranavaí, no Xaxim
  • CEI Professor Antônio Pietruza, no Tatuquara

Sobre o/a autor/a

8 comentários em “Escolas denunciam falta de professores nas salas de aula”

  1. O Prefeito não quer pagar direito nem quem está trabalhando. Imagina chamar pessoal para concurso, a profissão de professor com tanta desvalorização e desrespeito vai acabar!

  2. Eles poderiam contratar bem mais profissionais do que foi colocado nesse concurso, de que adianta passar tanta gente como apto pra lecionar se não tem a pretensão de chamar. Aí eles preferem abrir pss pra não ter que criar vínculo empregatício. Além de deixar as escolas abandonadas.

  3. Estão faltando muito mais profissionais do que a matéria mostra. Acho que muitas pessoas só podem estar vivendo em Narnia que não percebem; estamos nos desdobrando pra atender os alunos…

  4. Vera lucia Campregher

    Posso trabalhar na Educacao infantil, trabalhei em escolas particulares, nao sou pedagoga mas tenho curso superior e Pos graduacao em Gestao empresarial

  5. No CMEI onde trabalho faltam 3 professores de Educação Infantil e 1 docente.
    No outro CMEI que estava faltavam 2 professores de Educação Infantil e 1 docente.

  6. Luciana Perini Klock Rodrigues Alves

    👆👆Que absurdo fazer uma matéria dessa com dados não reais!!
    Superficial…
    Não retrata a realidade da falta de funcionários na Rede.
    😡😡😡😡

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