Ex-alunas de Denian Couto denunciam abusos

Impune, jornalista que ameaçou a ex-noiva de morte é pré-candidato a vereador de Curitiba pelo Podemos, do senador Alvaro Dias

Ameaças, xingamentos, danos psicológicos. É o que relatam duas ex-alunas de Denian Couto que estiveram em longos relacionamentos abusivos com ele. O jornalista, que se coloca como pré-candidato a vereador, também é professor de Direito e dá aulas na UniOpet desde 2016. A instituição informa que “desconhece qualquer formalização de denúncia” a respeito do caso e, portanto, Denian segue no corpo docente, já que não cometeu “nenhuma falta grave”. 

Segundo as vítimas ouvidas pelo Plural, que terão seus nomes preservados, Denian se relacionou com várias alunas. “Mais de dez”, afirma uma delas. Embora o regimento interno diga que é compromisso do docente respeitar os princípios éticos que regem a UniOpet e a dignidade acadêmica, alguns encontros amorosos, segundo elas, teriam acontecido nas dependências do próprio centro universitário.

O estatuto da UniOpet diz que é objetivo da instituição preservar os valores cristãos e o bem-estar do homem. Crédito: UniOpet

As ex acreditavam estar em relações monogâmicas. Ele frequentava a casa e conhecia a família de ambas. Para esconder os relacionamentos simultâneos, mentia e evitava levá-las a espaços públicos, além de proibir a postagem de fotos com ele.

Apesar de se apresentar inicialmente como um homem romântico e cheio de planos de casamento, elas contam que, com o passar do tempo, ele se mostrou abusivo. O Plural teve acesso a conversas de WhatsApp e áudios contendo ameaças, xingamentos e comentários machistas de Denian. 

Uma das vítimas relembra o que ouviu após descobrir uma mentira.

“Você é louca, você tá vendo coisa, isso não é verdade, você é totalmente fora da casinha, você é totalmente descompensada, você é uma puta. (…) Ele transformou a minha vida num inferno. Falou que se eu contasse para alguém, ele ia acabar com a minha vida, eu não ia ter uma carreira, ele ia mostrar quem ele era. Ele dizia: se você contar para alguém na faculdade, você vai ver o que eu vou fazer com você, eu vou calar essa tua boca. Vou na tua casa, eu sei onde você mora.”

Para ambas, a recuperação foi difícil.

“O Denian me gerou um sentimento de que eu não era ninguém e que ele era o cara. Então, como sempre ele me falava, se eu expusesse, se eu falasse dessa história, ele acabaria com a minha vida. E por um bom tempo eu acreditei nisso. Eu ainda estava na faculdade, não ia processar um professor. E eu era só uma aluna, entende? Era a minha palavra contra a dele.”

“Ele tem uma forma de entrar na nossa cabeça que hoje eu vejo e lembro de tudo e penso: meu Deus, como eu caí nisso? Mas ele é tão bom, tão bom, que a pessoa acaba acreditando nas mentiras, se alimentando disso e caindo na dele.”

“Depois que eu saí desse inferno, nunca mais consegui me relacionar com ninguém. Não consigo ver casamento e nem vestido de noiva. Isso me traumatizou de uma forma… E ele fez a mesma coisa que fez comigo com a meninada inteira da faculdade.”

“Eu nunca mais vou conseguir acreditar no amor depois do que eu passei com ele, porque eu acreditei nele e tudo, absolutamente tudo, era mentira. Faz quase dois anos que faço tratamento com uma psiquiatra e pouco mais de um com psicóloga e até hoje eu tenho pesadelos.”

No Instagram, Denian fala da docência: “Cumpro meu ofício com alegria, paixão e com uma certa dose de energia extra”. Crédito: Instagram/Denian Couto

Impunidade

No ano passado, o Intercept publicou uma reportagem sobre quatro outras mulheres que foram agredidas (física ou verbalmente) pelo jornalista. Na época, ele trabalhava no Grupo RIC. Uma das vítimas era sua ex-noiva e colega de trabalho. Em uma ligação bastante violenta, ele a ameaçava de morte: “Eu vou te matar se você não calar a sua boca”. Tempos depois do caso se tornar público, Denian foi demitido.

O boletim de ocorrência (BO) registrado pela ex-noiva deu origem a um inquérito policial. Mas o Ministério Público do Paraná diz que a defesa de Denian ingressou em juízo com um pedido de Habeas Corpus, que foi concedido, em votação unânime, pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. 

“Nos autos desse processo, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) manifestou-se contrariamente à concessão do Habeas Corpus e recorreu da decisão do Tribunal de Justiça, por entender não terem sido observados os limites dos artigos 647 e 648 do Código Penal Brasileiro (que estabelecem que a análise das provas deve ser feita pelo juízo de primeiro grau, não em sede de Habeas Corpus, como ocorreu)”, afirma o órgão. 

A 1ª Câmara Criminal, no entanto, rejeitou os embargos do MP-PR. “A concessão do Habeas Corpus ‘tranca’ a tramitação do inquérito policial, não podendo, no momento, ser oferecida denúncia pelo Ministério Público do Paraná.”

O Tribunal de Justiça do Paraná diz que a decisão de trancamento do inquérito penal e das persecuções criminais relacionadas ao BO transitou em julgado. “No momento, se aguarda a decisão de arquivamento, que deve sair nos próximos dias”. O Plural apurou que a decisão de conceder o Habeas Corpus a Denian Couto foi do desembargador Antonio Loyola Vieira. 

Ano passado, Loyola também concedeu o Habeas Corpus para Pedro Fernandes, um homem condenado a 22 anos e dois meses por matar a ex-namorada em 2017, em Cascavel. Em 2016, também foi ele o desembargador que revogou a prisão preventiva do médico Raphael Suss Marques, indiciado por matar sua namorada, a fisiculturista Renata Muggiatti, em 2015. Os dois casos de feminicídio ganharam grande repercussão na mídia.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também afirma que instaurou um inquérito civil para acompanhar o caso. “O procedimento iniciou a partir dos fatos envolvendo o jornalista Denian Couto. Mas como nosso foco é a questão trabalhista, o investigado é a RIC”, esclarece a assessoria do MPT. A fase atual é de audiência com as partes. “Foram realizadas algumas e estava marcada uma para maio, que precisou ser adiada por conta da pandemia. Já foi remarcada.”

Pré-candidatura

No fim de maio, Denian assumiu a Secretaria de Comunicação de Porto Alegre, a convite do prefeito Nelson Marchezan (PSDB), mas deixou o cargo em menos de um mês. O prefeito foi bastante questionado pela nomeação, inclusive pelo Plural, via assessoria, mas preferiu ficar em silêncio sobre o caso.

Nas redes sociais, a nomeação repercutiu negativamente. Crédito: Twitter

“Eu apresentei as minhas ideias de reestruturação (da Secretaria), algumas foram acolhidas e outras não, e nesse período eu acabei cogitando – antes eu já havia pensado, mas acabei cogitando com maior força – a possibilidade de disputar a eleição em Curitiba. Não havia motivo para continuar lá, então vim embora”, diz Denian.

O Podemos, partido do senador Alvaro Dias, confirma que ele é filiado e pré-candidato a vereador. “Se ele desejar disputar e for aprovado em convenção, será candidato.” Denian diz que tem vontade e disposição para disputar a eleição. 

Denian e a equipe do Jornal da Mercosul junto com Alvaro Dias. Crédito: Instagram/Denian Couto

O outro lado

A respeito dos casos com ex-alunas noticiados pelo Plural, Denian fala: “Sim, eu era um homem livre, desimpedido, e tive envolvimento com alunas da UniOpet. Mas esse número, mais de dez, é uma fantasia, não tem qualquer cabimento, isso não existe.”

Sobre seu padrão abusivo com as ex-alunas, ele diz: “Eu não tenho como comentar o que quer que seja se eu não souber quem é, né? Como é que eu vou me defender de algo que eu não sei o que é?”

O Plural resguarda o sigilo das fontes, por isso não forneceu detalhes dos materiais aos quais teve acesso, apenas o teor: ameaças, xingamentos, crises de ciúme, comportamento machista.

Denian também alega que a ligação na qual ele ameaça a ex-noiva de morte está fora de contexto. “Mas é claro. Você arma um cenário, você tira a pessoa do sério, você envolve a família da pessoa e o ser humano estoura. (…) Eu estourei como tantas e tantas pessoas estouram na vida.”

Quanto ao inquérito, ele afirma que foi arquivado por inexistência de crime. “O Ministério Público não recorreu da decisão e transitou em julgado. Não houve processo contra mim. (…) Eu não fui absolvido. Eu fui inocentado, é diferente. Fui alvo de uma armação. (…) A questão do Ministério Público de Trabalho não me envolve. É fake news.”

Ele acrescenta: “Você leu a decisão? Não? Então eu vou te dizer: sabe por que foi arquivado o inquérito contra mim? Se considerou, na Justiça, por unanimidade, com concordância com o Ministério Público, que foi utilizada a Lei Maria da Penha como modo de coerção, vingança e tentativa de reatar relacionamento amoroso.”

A reportagem solicitou a decisão do inquérito ao advogado de Denian, Adriano Bretas. Ele informou que não pode enviar o documento, já que o caso tramita em segredo de justiça. Os órgãos competentes e o advogado da vítima não o fornecem pelo mesmo motivo. A vítima preferiu não falar sobre o assunto.

“Nenhuma falta grave”

A seguir, você lê a nota que a UniOpet enviou ao Plural na íntegra.

Em que pese não nos ser de competência posicionarmo-nos quanto a fatos externos e que não guardem relação com a instituição de ensino ou aos alunos, e tampouco entendermos por legítimo passarmos qualquer informação pessoal do professor ou atinente ao seu contrato de trabalho sem haver um prévio consentimento, ressaltamos que o professor Denian Couto segue fazendo parte do quadro docente do Centro Universitário OPET – UniOpet, uma vez que não incorreu em nenhuma falta grave, prevista na legislação pertinente, que legitimasse o encerramento de seu contrato de trabalho. 

No que concerne ao suposto envolvimento do professor Denian Couto com pessoas do corpo discente desta instituição de ensino, ressaltamos desconhecer qualquer formalização de denúncia a respeito, de modo que não procede o informado quanto ao procedimento administrativo. 

Sobre o/a autor/a

8 comentários em “Ex-alunas de Denian Couto denunciam abusos”

  1. Gosto muito do Denian!!! Acreditoooo nele!!! Isso só veio à tona por causa da política para denegrir a imagem dele!!! Mas para muitos infelizmente, e para outros FELIZMENTE ele vai ser candidato, e se der tudo certo irá ganhar simmmmm!!!
    Estou junto com vc Denian!!!

  2. Grande problema que é chapinha de muita gente na imprensa. Então acobertam. Agora essa união com Alvaro Dias…será estável?

  3. Esse daí já enganou muita gente com a pinta de bom moço e moralista. Infelizmente, muitas mulheres caem na armadilha desse indivíduo… Triste saber que podemos ter alguém de índole questionável na nossa querida câmara.

  4. Olavo Sanseverino

    A matéria se encarrega de desacreditar as denunciantes já na segunda frase. “Longos relacionamentos”? Aceitaram um relacionamento abusivo por longo tempo sem denunciá-lo? Por que não terminaram já no primeiro abuso? Mais jornalismo e menos fofoca, Plural.

    1. Pq não é simples sair de um relacionamento abusivo. Se fosse simples, não teria tanta mulher sendo morta pelo companheiro.

Comentários encerrados.

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