Entregadores de aplicativos em Curitiba participam da paralisação nacional

Motoboys pedem melhores condições de trabalho; com a pandemia, o volume de entregas aumentou, mas a remuneração diminuiu

Por melhores condições de trabalho, motoqueiros que fazem entregas para aplicativos de serviços organizaram uma paralisação nacional nesta quarta-feira (1º). Entre as reivindicações, eles pedem a suspensão dos bloqueios arbitrários realizados por empresas como iFood, UberEats e Rappi. “Os entregadores trabalham em situação precária, tanto financeiramente quanto na questão de segurança. Nenhuma das empresas dá um auxílio ou suporte que nos ajude realmente. Queremos melhorar nossa condição de trabalho, que atualmente é ruim”, diz Luan Henrique Alves, entregador há dois anos.

Trabalhar 12 horas por dia, seis ou sete vezes por semana, com poucas pausas para descansar, ganhando mal e sem equipamentos de proteção contra a Covid-19. Essa é a vida da maioria dos entregadores. Com a pandemia, aumentou o número de pedidos feitos nos aplicativos, o que refletiu na demanda por entregadores. Muitos brasileiros desempregados passaram a fazer entregas, e ficou mais evidente o quanto são ruins as condições de trabalho e a remuneração.

Motoboy há cinco anos, Rubens Rodrigues explica que o entregador é marginalizado e mal visto há muito tempo. “A principal diferença, agora, é que muitas pessoas estão trabalhando na área. Dessa forma, temos mais voz para gritar e dar força ao movimento”, diz. Segundo Rodrigues, hoje, para fazer R$ 200 em um dia, é preciso trabalhar de 12 a 14 horas. “O entregador de aplicativo ganha tão pouco que não consegue fazer pausa de descanso, pois precisa trabalhar para conseguir mais dinheiro. Além de não fazer pausa, muitos entregadores não têm dinheiro para comer fora. Então acabam trabalhando direto”.

Rubens Rodrigues explica que, antes da pandemia, os entregadores de apps recebiam  R$ 2 (ou mais) por quilômetro rodado. Hoje, no entanto, os aplicativos pagam cerca de R$ 0,60 por quilômetro rodado. “Quem ficou desempregado durante a pandemia, acabou entrando na nossa área. Com muitos entregadores disponíveis, os preços caíram. A paralisação é importante não só para conseguir trabalhar com mais segurança, mas também para que a sociedade e as empresas valorizem a nossa profissão”, diz Rodrigues.

Pesquisa

A pesquisa feita pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir), a partir de um projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostra que, em todo o Brasil, na pandemia, o número de entregadores que trabalham mais de 9 horas diárias passou de 57% para 62%, e que 78,1% tem uma jornada de trabalho de seis a sete dias por semana. Ainda de acordo com um grupo de pesquisadores da Clínica Direito do Trabalho da UFPR, uma empresa de delivery contratou cerca de 2 mil entregadores em Curitiba. Ano Passado, o número total de entregadores de apps em Curitiba e região metropolitana girava em torno dos 5 mil.

Para 58,9% dos entregadores houve queda na remuneração. “São contratações feitas como autônomos, sem vínculo e sem direitos básicos de trabalho, como férias, décimo terceiro e salário mínimo”, diz Sidnei Machado, coordenador da Clínica de Direito do Trabalho da UFPR e professor do Departamento de Prática Jurídica. Ele afirma ainda que esses profissionais não têm direitos, embora precisem garantir o isolamento social. “Eles sentem uma falta de reconhecimento da sociedade. A universidade tem um papel importante para contribuir com políticas públicas.”

Com relação à Covid-19, 96% dos entregadores se protegem durante o trabalho, usando máscaras e álcool em gel. Porém, 57,7% diz não ter recebido apoio das empresas.

Apoio

Desde o início da pandemia, o restaurante Veg Veg distribui álcool gel para todos os entregadores que passam pelo restaurante, pois perceberam que muitos não têm. “Com o tempo, vimos que só isso não era o suficiente. Alguns estavam com fome, então começamos a fazer sanduíche e café para eles. Também liberamos o banheiro para usarem”, afirma Caroline Ferreira, proprietária do espaço.

A princípio, a empresa não fazia delivery, mas com a pandemia precisou se reinventar. Reduziram o horário e os dias trabalhados e, agora, buscam e levam para casa os funcionários que precisam ir até o restaurante. Hoje, vendem de 30 a 60 almoços por dia. “Vamos aderir à greve e lutar com os entregadores. Sabemos o quanto isso é necessário e, se não fossem eles, nós não teríamos como trabalhar. Eles são parte fundamental do nosso trabalho, e é a partir deles que conseguimos trabalhar”, diz Ferreira.

A publicitária e proprietária do Cosmos Gastro/Bar, Janaina Santos, diz que o modelo de delivery por aplicativos é insustentável para os entregadores e para os restaurantes também. “Apoiamos totalmente a paralisação dos motoboys. Durante a pandemia, não foi fornecido máscara nem álcool gel para todos os entregadores. As empresas não oferecem nenhum tipo de auxílio. Por exemplo, se um entregador pega coronavírus, as plataformas não precisam bancar o sustento dele naquele período”, diz.

De acordo com Santos, as plataformas cobram taxas altíssimas, que vão de 20% a 27%. “Além do pagamento ficar represado por um período. E as promoções que os usuários recebem, como frete grátis e cupom de desconto, são custeados pelos restaurantes”, diz. Ela afirma que trabalha com os aplicativos por necessidade porque, hoje, “não dá para negar pedido de nenhum lugar”. Mas a situação está longe de ser ideal.

Nesta quarta-feira (1º), tanto o Veg Veg quanto o Cosmos fornecerão água, lanche e infraestrutura (banheiros) para os entregadores.

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