“Em um biarticulado, por exemplo, com 200 pessoas, tem três positivos sem sintomas espalhando vírus”, compara pesquisadora da UFPR

Testagens em comunidade universitária revelam que 1,5% dos assintomáticos estão contaminados com o coronavírus

Entre outubro de 2020 e maio de 2021, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizou cerca de 25 mil testes RT-PCR para covid-19 em alunos, servidores e trabalhadores terceirizados da UFPR, UTFPR e coabitantes. 

A análise dos resultados revela um cenário assustador: cerca de 1,5% das pessoas testadas, que não apresentavam sintomas, estavam infectadas com o coronavírus. “Isso significa que em um ônibus do biarticulado, por exemplo, que cabe 200 pessoas, tem três positivos sem sintomas espalhando vírus. É muito sério. Essa porcentagem de assintomáticos é muito alta,  porque eles estão circulando e, aparentemente, não tem nada”, explica a Professora do Departamento de Genética, Daniela Gradia, responsável pelo programa de testagens.

Os resultados reforçam, ainda, o que vem sendo dito desde o início da pandemia: as pessoas que podem ficar em casa, isoladas, têm muito menos risco de contaminação. “A gente observou isso ao analisar categorias profissionais distintas, uma que pode fazer seu trabalho em home office e outra que teve que fazer trabalho presencial, e quanto isso foi diferente nos índices de infecção. Quem trabalha em home office teve sete vezes menos chance de ser contaminado que quem faz trabalho presencial”, afirma Daniela.

Atualmente, a universidade realiza em torno de 4 mil exames mensais, dentre mutirões e testes de rotina. Quem trabalha presencialmente na Universidade, como os funcionários do biotério, os estagiários do Hospital das Clínicas e os terceirizados, é testado a cada quinze dias. Sempre que possível, o setor expande as testagens à comunidade externa, a pedido de órgãos públicos ou instituições. O serviço já foi oferecido aos servidores estaduais do Palácio das Araucárias, aos trabalhadores do Zoológico de Curitiba e à população da Penitenciária Feminina de Piraquara, dentre outros.

O exame, que indica se o vírus está em multiplicação no organismo, é realizado por meio da autocoleta de saliva – nada de cotonetes que parecem cutucar o cérebro – e o resultado sai em até três dias. De acordo com pesquisa realizada pela universidade, o exame com a saliva tem eficácia semelhante à do swab (cotonete longo), e é mais barato, já que não exige mão-de-obra especializada para a coleta e utiliza materiais mais simples. A autocoleta também possibilita menor exposição aos voluntários do projeto. Daniela conta que a metodologia só não é utilizada como testagem padrão, porque a coleta é mais demorada – pode chegar a meia hora,  enquanto a coleta com o swab é feita em poucos segundos.

Quem se vacinou vai testar positivo?

Não há conflito entre a vacina e o teste. Quem recebeu alguma dose do imunizante não corre o risco de testar positivo sem estar infectado, mesmo carregando parte do material genético do vírus. O imunizante é injetado no braço e, para que haja carga viral na saliva ou no muco, o vírus deve estar se multiplicando no organismo. Isso não acontece a partir do material genético injetado, apenas a partir da infecção.

Variantes

O teste da UFPR identifica a sequência de dois genes do vírus que são iguais em todas as variantes. “A gente não consegue fazer a discriminação de qual variante a pessoa tem, porque a gente não procura pela mutação, a gente pega o gene. Para pegar a mutação, teria que fazer um segundo teste”, diz a professora. 

Esse outro teste não é oferecido pela universidade para diagnóstico individual, apenas para gerar resultados para a pesquisa, que será publicada em breve. Mas Daniela já adianta que a P1, conhecida como “variante de Manaus”, é de longe a mais recorrente

Daniela alerta para a importância de manter a rotina de cuidados, mesmo após receber o imunizante, já que o percentual da população não vacinada ainda é alto. A disseminação rápida do vírus dá margem a novas mutações, podendo resultar em uma variante mais agressiva e ainda mais letal que as atuais. 

Testes em massa são o caminho

Um estudo realizado com dados de reabertura de 85 universidades norte-americanas mostrou que as ações mais eficazes para frear a transmissão do vírus entre a comunidade universitária, que vivenciou um boom de novos casos na volta às aulas presenciais, são as testagens em massa com resultados rápidos, em conjunto com uso de máscara e distanciamento social. A Universidade de Illinois, por exemplo, teve redução dos casos após ampliar a frequência das testagens: os alunos passaram a fazer testes da saliva três vezes por semana e os professores, duas.  

A Universidade da Califórnia, Davis, foi além. De acordo com publicação do jornal americano The New York Times, a universidade passou a oferecer testes da saliva gratuitos a toda a população da cidade, utilizando uma máquina que antes identificava o DNA de plantas para uso na agricultura.  

O programa de testagens da UFPR, também começou dando novo uso para o equipamento de identificação de DNA do laboratório. “A gente tinha um equipamento, sabia fazer o teste e tinha professores que se manifestaram querendo ajudar. O Ministério da Saúde estava oferecendo kits para os laboratórios que pudessem fazer o diagnóstico e a gente, em parceria com outros laboratórios, começou a testar”, conta a pesquisadora. Inicialmente, o projeto era pequeno, voltado à pesquisa. Mas as coisas foram mudando e os profissionais viram a necessidade de ampliar as testagens: “Olha a ingenuidade, na época, em abril, maio [de 2020], a gente achou que lá por setembro as coisas estariam voltando ao normal, que os alunos voltariam a circular na universidade e a gente poderia ir testando as pessoas. Então a gente começou com essa ideia de poder testar a nossa comunidade, dentro da nossa casinha, mas a coisa foi crescendo, foi tomando uma proporção que a gente viu que tinha que ampliar até a própria demanda.”  

Por enquanto, a UFPR  não tem previsão de ofertar as testagens à comunidade em geral. Além de uma equipe pequena, há limitação de insumos para fazer o diagnóstico. As testagens, oferecidas gratuitamente, são viabilizadas com recursos do Ministério da Saúde, da UFPR e do Hospital das Clínicas. A verba para a aquisição de um equipamento necessário para ampliar as testagens veio do Ministério da Ciência e da Tecnologia e as bolsas de pesquisa são da Fundação Araucária.

Próximas chamadas

O próximo mutirão para testagem de assintomáticos, direcionado à comunidade da UFPR, UTFPR e IFPR, acontece no dia primeiro de junho. Interessados devem agendar o exame por meio de formulário divulgado pelos canais oficiais da UFPR e aguardar a confirmação. 

Quem testa positivo recebe orientação de procurar o posto de saúde da universidade (Casa 3) ou o médico de sua preferência e de permanecer em isolamento domiciliar. “É importante se manter isolado. Mesmo que outras pessoas estejam infectadas na casa, todo mundo tem que usar máscara, porque às vezes uma pessoa tem carga viral maior e a outra, menor. A que tem carga viral maior acaba passando mais vírus para aquela que tem menos e pode agravar o quadro”, afirma a pesquisadora.

Os testes em pessoas da comunidade universitária que apresentam sintomas são realizados às segundas e quintas-feiras. Para ter acesso ao serviço, é necessário cadastro prévio pelo site https://www.bioinfo.ufpr.br/testecovid19.

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1 comentário em ““Em um biarticulado, por exemplo, com 200 pessoas, tem três positivos sem sintomas espalhando vírus”, compara pesquisadora da UFPR”

  1. Wanderlei Wormsbecker

    @Rafaela Moura, esta fraser está errada
    “Testagens em comunidade universitária revelam que 1,5% dos assintomáticos estão contaminados com o coronavírus”
    Se a pessoas está assintomática, neste contexto, está com o vírus. 100% dos assintomaticos estão com o vírus
    O que a UFPR disse é que 1,5% da população está com o virus e é assintomatica. A frase correta seria “Testagens em comunidade universitária revelam que 1,5% da população está contaminados com o coronavírus e é assintomatica”

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